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Crônica

Ageísmo Por William Haverly Martins


Ageísmo Por William Haverly Martins - Gente de Opinião

A gente sabe, uma sociedade justa, democrática, sem preconceitos e igualitária é uma utopia, mas daquelas utopias necessárias, que de tanto serem almejadas, acabam deixando ver que vivemos em uma distopia, um lugar de baixa qualidade de vida, marcado pela conveniência das cortes do judiciário, pela opressão, pelos preconceitos e pela desesperança, aniquilando, em parte, nossos sonhos. A gente também sabe, diminuindo as diferenças, melhora a convivência. Diferenças não significam divergências.

Os preconceitos desvirtuam, inflamam as relações sociais, ainda assim os estigmas psicológicos decorrentes vão sendo assimilados na consciência, plasmando novos conceitos, novo jeito de ser. O racismo brasileiro, por exemplo, é o preconceito que mais resiste às modificações, principalmente porque é estrutural e o pardo tem vergonha de reconhecer a sua parte negra, se ofendendo, quando alguém lhe retira a máscara branca.

Muita coisa está mudando, as TVs e as mídias sociais passaram a dar mais visibilidade aos negros, que agora aparecem, em destaque, nos noticiários e nas propagandas elitizadas e não mais apenas nas páginas policiais.  Ademais, Hollywood tem aumentado os protagonistas blacks em quantidades surpreendentes. Aos poucos os pretos e os pardos vão ocupando um espaço que já deveria ser deles.

Atualmente, com ajuda das TVs, das redes e mídias sociais, o preconceito da moda visa atingir a idade, daí os neologismos: etarismo, idadismo, ageísmo ou etaísmo. Vale lembrar que julgar alguém pela idade, cor de sua pele, por seu gênero, sexualidade, classe social, origem geográfica, aparência física, religião, comorbidades e deficiências, ou qualquer outro traço, são formas de preconceito prejudiciais à harmonia da sociedade. Simone de Beauvoir já nos lembrava, desde a década de 1960: Viver é envelhecer, nada mais.

Madonna aos 64 anos já é chamada, pejorativamente, de velha e gagá. O mesmo se dizia de Erasmo Carlos, que nos deixou, recentemente, aos 81 anos, um vasto e significativo legado.  Esses qualificativos reforçam o negativismo em relação à velhice, que não é vista, pela juventude, como um processo natural da vida. O envelhecimento do outro aparece como um mecanismo de defesa. Segundo os estudiosos, as bases do etarismo estão fundadas no negacionismo, no sentido de não se conseguir lidar com a alteridade, de não enxergar algum aspecto nosso no outro. O efeito do tempo no ser humano obedece a um mesmo processo, as variações que determinam o tempo da vida decorrem de escolhas individuais e dos relacionamentos com o espaço, com o meio ambiente e, principalmente, com a evolução da ciência, além do poder aquisitivo dos cidadãos de alguns países. Capital e saúde são velhos parceiros.  

A especialista em gerontologia social, Natália Carolina Verdi, afirma, categoricamente, que “considerar a velhice do outro é considerar a nossa própria. Considerar uma fragilidade e uma vulnerabilidade no outro é integrá-las à nossa própria finitude. A questão da velhice está muito ligada à finitude. Existe essa dificuldade da sociedade em lidar com a morte, conclui Verdi." Tire o seu preconceito do meu caminho, eu quero passar com meu amor.

O aumento da longevidade, acompanhando os avanços científicos, tem influenciado positivamente na produtividade do ser humano, pós setenta. Se fizermos uma pesquisa rigorosa vamos encontrar inúmeros senhores (as) com um nível de produtividade, hoje, maior do que certos jovens, além de serem dotados do quesito experiência, esta longa e bela estrada da vida, que só se mostra a quem a percorre. Um provérbio sueco diz: não jogue fora o balde velho até que você saiba se o balde novo segura água.

Encerrando esta idiotice de preconceito contra velhos, esta mania de dizer: “você não tem mais idade para isso”, recorro aos avanços da Ciência, que confirma, do alto das suas conquistas: as doenças, que mais matavam, estão sendo vencidas; as rugas e os cabelos brancos já não nos apavoram tanto, a expectativa de vida vem aumentando dia a dia. Ademais, interiormente, estamos sendo renovados, diuturnamente, vencendo a intolerância.  

Segundo Yokomizo, o etarismo não é intrínseco ao ser humano e essas ideias preconceituosas podem ser desconstruídas. "Isso pode dar uma abertura para o envelhecimento de forma plena, em que há uma aceitação dessa fase, sem negações ou sofrimentos".

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