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Distâncias sociais nos espaços públicos e privados


Distâncias sociais nos espaços públicos e privados - Gente de Opinião

Ao caminhar é natural que deparemos com diferentes níveis de relacionamentos sociais. Estes relacionamentos podem ser tanto na forma quanto nas expectativas que cada pessoa ou grupo social busca ter em determinados lugares. No entanto, para que isso aconteça, há de considerarmos o aspecto espacial - que as vezes passa despercebido no primeiro momento -, mas é fundamental para concretização desses relacionamentos.

 

Edward Hall em seu livro A distância oculta, divide esta relação nas distâncias: pública, social, pessoal e íntima. Estas são distâncias métricas ‘invisíveis’ a partir da relação entre uma ou mais pessoas no espaço [1]. Para Hall, a distância social consiste na variância de 1 a 2 metros entre duas pessoas. Estas ocasiões podem ser vivenciadas em ambientes como calçadas, ponto de ônibus, praças, ambiente de trabalho, etc.

 

As distâncias sociais juntamente com a configuração do espaço, falam e expressam códigos sobre uma sociedade, um grupo ou uma pessoa específica. Além de emitirem e receberem significados, a configuração espacial do lugar, seja de ordem natural, artificial ou a junção destas, pode contribuir tanto para o êxito quanto para o fracasso dessas relações.

 

Do ponto de vista cordial, há relatos em condomínios fechados que, mesmo em seus espaços livres de acesso social, vizinhos de apartamentos não se cumprimentam. Ainda, no mesmo grupo social e em outra situação, encontramos dificuldades de moradores de condomínios particulares, não cumprimentarem o porteiro há 1 metro de distância.

 

Porém, espaços de sucesso são aqueles onde as pessoas se interajam com naturalidade. Estes espaços se tornam mais integrado porque estão voltados para um espaço aberto ou, por ter uma grande circulação de pessoas. Isto é, pátios, feiras livres, áreas esportivas, beira-mar, edificações com aberturas para rua, e edifícios com o pavimento térreo para comércio, são exemplos positivos de uma arquitetura bem-sucedida.

 

A busca pelo melhor lugar para morar ou implantar um negócio não é de hoje, mas ultimamente, esse dilema vem se intensificando quando deparamos com frases publicitárias do tipo: “viver bem”, “morar com segurança” ou “sua felicidade estar aqui”. São alguns dos inúmeros conceitos de um “melhor” lugar. Entretanto, não é isso que vemos no contexto urbano.

 

Empreendimentos residenciais privados – seja de casas ou edifícios - vem comprometendo o tecido urbano, ou seja, se o empreendimento for de casas ocupa uma grande parcela no território e se for edifícios, implica grande densidade demográfica em um pequeno espaço do território. Ao contrário dos seus marketings publicitários, grandes empreendimentos têm produzido pequenas “ilhas” e esse cenário, pode até gerar um conforto pra quem está dentro dela, mas os efeitos para quem vive fora é cruel.

 

Uma boa arquitetura associada ao valor histórico e cultural dos lugares, implica sucesso nas relações socioespaciais não só aos que ali residem ou caminham, mas a todos que frequentam ou conhecem esses espaços. A cidade que tem uma vizinhança viva, de áreas abertas e um comércio ativo é sucesso total pois, essas características tendem a formar um núcleo urbano seguro, ativo e mais valorizado culturalmente. E aí: qual é a tua relação social nos espaços por onde caminha?

 

Roberto Carlos Oliveira de Andrade é Arquiteto, professor e doutorando no Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina/ PósARQ.

[1] HALL, Edward. A distância oculta. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

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