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Viviane Paes

Energia elétrica: cara, necessária e estratégica!


 Energia elétrica: cara, necessária e estratégica! - Gente de Opinião

Domingo oito de janeiro de 2023. Enquanto famílias assistiam aos desdobramentos da invasão a Praça dos Três Poderes, em Brasília, uma torre de transmissão que leva a energia elétrica gerada na Usina Hidrelétrica Samuel, no município de Candeias do Jamari, a cidade de Ariquemes, ambas em Rondônia, caiu. Não houve temporal nesse dia, o que é característico do inverno amazônico.

Duas horas depois, já na segunda-feira, dia nove, outra linha de transmissão parou de funcionar. Essa interligando a cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná a Ibiúna, em São Paulo. Em seguida uma terceira torre foi detectada com avaria, no município de Medianeira, outra cidade paranaense.

Novamente em Rondônia, no mesmo dia, a linha de energia – chamada linhão, que leva a energia elétrica gerada nas usinas do Madeira: Santo Antônio e Jirau ao sudeste do País foi derrubada! Esses supostos atos de vandalismo ou tentativa de sabotagem ao sistema elétrico interligado poderiam ter provocado um blecaute, o temido apagão em muitas cidades. Felizmente isso não aconteceu, pois teria provocado prejuízos inimagináveis.


Resumindo a história da energia elétrica

Em 1876, a jovem República dos Estados Unidos comemorou o 1º centenário de sua Independência com um evento na Filadélfia, a Exposição Internacional de Arte, Manufatura e Produtos de Solo e das Minas, numa área quase do tamanho do Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Esse evento reuniu quase 60 mil expositores de 37 países distribuídos em 250 pavilhões e recebeu nove milhões de visitantes, entre eles o imperador do Brasil, Dom Pedro II, que conheceu Thomas Edison e uma de suas invenções: a energia elétrica.

Um ano depois, 1879, ocorreu à primeira demonstração pública da lâmpada elétrica com a inauguração da iluminação da estação central, da Estrada de Ferro Dom Pedro II, atual Central do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, na época capital do País. As seis lâmpadas que abasteciam o local, através de dínamos, energia elétrica produzida mecanicamente, funcionaram por sete anos até surgirem às usinas térmicas, a base de carvão, de pequeno porte. O aproveitamento do potencial hidrelétrico do Brasil ganharia impulso após 1900 com a chegada do grupo Light e não pararia mais.

Em 1930 foi criado o Departamento Nacional da Produção Mineral abrangendo a Diretoria de Águas que era encarregada dos assuntos relacionados à exploração de energia elétrica hidráulica, irrigação, concessões e legislação de águas. Em 1934, pelo Decreto nº 24.643 foi promulgado o Código de Águas, instrumento legal básico da regulamentação do setor de águas e energia elétrica.

Durante o primeiro governo Vargas, a aceleração do crescimento industrial e o processo de urbanização do Brasil determinaram forte aumento da demanda de energia elétrica. O parque gerador ampliou sua potência instalada de 778 MW para 1.341MW, crescendo em ritmo mais intenso que aumento da demanda. Em 1948 foi iniciada a construção da primeira usina projetada do País: a hidrelétrica Paulo Afonso, no rio São Francisco, na Bahia.

Na década de 60, a potência instalada no Brasil chegou a 4.770 MW, equivalentes a 87% do que foi estipulado no Plano de Metas do governo de Juscelino Kubitschek.  A crescente intervenção estatal no setor de energia elétrica, a consolidação de empresas públicas e a criação do Ministério de Minas e Energia, em julho do mesmo ano, contribuíram para vencer a resistência ao projeto de criação das Centrais Elétricas Brasileiras – Eletrobrás, apresentada pelo presidente Getúlio Vargas, em abril de 1954.

A década de 70 trouxe dois importantes marcos para o setor energético brasileiro: a assinatura do Tratado de Itaipu pelos presidentes Emilio Médici, do Brasil e Alfredo Stroessner, do Paraguai para a construção da binacional Usina Hidrelétrica Itaipu, no rio Paraná, com 12.600 MW de potência. Esse foi o maior empreendimento do gênero no mundo, no período. O segundo momento foi à criação, em 1973, das Centrais Elétricas do Norte do Brasil, a Eletronorte, que possibilitaria a utilização do potencial hidrelétrico da região Amazônica. Em 1975, a Eletronorte já colocaria em operação a Usina Hidrelétrica Coaraci Nunes, situada no rio Araguari, no Amapá e também iniciaria a obra monumental da usina de Tucuruí, no rio Tocantins, localizado no Pará.

O Brasil enfrentou na década de 80, o desafio da construção de uma nova ordem democrática em meio a uma persistente crise econômico-financeira que marcaria o esgotamento do modelo de desenvolvimento induzido e sustentado pelo Estado. Os anos 90 também foram difíceis para o setor elétrico comprometido pelo elevado volume de dívidas das empresas e da política de contenção tarifária, adotada pelas autoridades econômicas desde o governo Ernesto Geisel.

Em 2004, Furnas inicia inventário para a construção de duas usinas do rio Madeira: Santo Antônio e Jirau, principais vitrines do Programa de Aceleração do Crescimento do governo Luiz Inácio Lula, que custarão mais de 21 bilhões de reais. A entrada em operação das duas usinas possibilitou o ingresso do norte brasileiro, até então isolado, ao SIN – Sistema Interligado Nacional, formado por quatro subsistemas de energia: Sul, Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e a maior parte na região Norte.

Voltando ao presente

Em 10 dias, torres de transmissão em Rondônia, onde resido, Paraná e São Paulo sofreram ataques sendo avariadas ou derrubadas, logo após os atos de vandalismo no Distrito Federal. Na última segunda-feira, dia 16 de janeiro, a Aneel comunicou as três ocorrências em Rondônia, duas no Paraná e duas em São Paulo, que resultaram em três torres derrubadas em Rondônia, uma no Paraná, e outras 12 danificadas: quatro no Paraná, duas em São Paulo e seis torres novamente em terras rondonienses.  Nesse momento já não existe dúvida das intenções criminosas desses atos, que nada possuem de aleatórios. Quatro das cinco maiores usinas hidrelétricas do País estão no Norte: a de Belo Monte, a de São Luiz dos Tapajós e de Tucuruí no Pará e a de Santo Antônio, em Rondônia.

Rondônia era reconhecida como berço da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e a partir de 2008, como estado das usinas do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira, que possibilitaram como mencionado anteriormente, a entrada do Estado no SIN – Sistema Interligado Nacional. Para ser mais direta, essa goianiense que bebeu água do Madeira aos 10 anos e nunca mais saiu - um dizer popular da região lembra as noites calorentas de 42 graus sem ventilador ou aparelho de ar condicionado. Era assim: quando tínhamos energia elétrica durante o dia todo, à noite certamente não a teríamos.

Meus pais vieram para Porto Velho, capital do Estado, na década de 80, época de construção da Usina Hidrelétrica Samuel. Então, a energia que chegava às residências era produzida pela Usina Térmica Rio Madeira, suficiente para a cidade, mas não chegava aos mais de 40 municípios rondonienses. Quando Samuel foi projetada, ela deveria levar energia a todos os municípios do interior, através de um linhão e também até a capital do Acre, Rio Branco, no entanto, isso só aconteceria em 2000.

Quem é nortista sabe exatamente o que é não ter energia elétrica segura! Além do desconforto nas atividades básicas de casa: conservação de alimentos, queima de aparelhos domésticos por conta das oscilações de energia e muito calor... O desconforto de 40 alunos em uma sala de aula, com apenas um ventilador e a luta do professor para mantê-los interessados no conteúdo era uma missão quase divina! Comércios e empresas de médio porte conseguiam manter geradores para driblar esses perrengues com custo altíssimo do diesel, mesmo assim a perda de alimentos perecíveis era diária.

Enquanto isso, nas demais regiões brasileiras, essa era uma situação inimaginável. Quando visitávamos parentes em Goiás e Minas Gerais, eles não acreditavam que vivíamos essa situação. Na verdade sobrevivíamos! Isso mudaria com o crescimento acelerado da economia brasileira, e a geração de energia insuficiente para atendê-la. Foi quando os brasileiros passaram pelo desconforto da falta da falta de eletricidade. Nesse momento, os moradores dos grandes centros descobriram a importância dessa parte do Brasil, antes citada pejorativamente por suas florestas e povos indígenas. Vieram os apagões!

O Brasil às escuras

O primeiro “blecaute” aconteceu em 11 de março de 1999, quando as linhas de transmissão que levavam a energia gerada na binacional Itaipu apresentou defeito. Mais de 76 milhões de pessoas ficaram sem luz por intervalos de tempo que variaram entre 40 minutos até 6 horas. Foram afetados municípios das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e cidades do Paraguai.

A segunda, a crise do apagão afetou o fornecimento e distribuição de energia elétrica em grande parte do País. Ocorreu entre 1º de julho de 2001 e 19 de fevereiro de 2002, durante o segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, por conta da escassez de chuvas, o que afetaria a matriz energética que é 87% de fonte hídrica. Aqui preciso compartilhar um fato desconhecido por muitos brasileiros: os estados no Norte não sofreram com esses blecautes, pelo simples fato de não integrar o Sistema Interligado Nacional. Assistíamos o sofrimento alheio de camarote, vamos dizer, em nossos lares abastecidos pela energia gerada nos nossos sistemas isolados.

Em 21 de janeiro de 2002, primeiro ano do governo de Luiz Inácio Lula, ocorreu um blecaute na região centro-sul causado pelo rompimento de um cabo entre a Usina Hidrelétrica de Ilha de Solteira e Araraquara, em São Paulo, que deixou o Distrito Federal e dez estados brasileiros sem energia elétrica por algumas horas. Dessa vez à falta de planejamento e ausência de investimento em geração e transmissão de energia que afetaram o sistema.

Cara, necessária e estratégica!

Parece óbvio, no entanto, relembrarei: energia é vida! Sê estamos sem disposição pela manhã para enfrentar o longo dia dizemos que nos falta energia, motivação, ânimo e muitos sinônimos que damos a ela. E não é diferente com a energia elétrica, seja ela gerada nos rios ou em fontes alternativas como a energia nuclear, solar, eólica, de biocombustível entre outras.

Nos últimos seis anos, o custo da energia elétrica no Brasil aumentou em 47% de acordo com a Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace). Os aumentos sucessivos colocaram o país no topo do ranking mundial do custo de energia. Em 2022, o Brasil teve a segunda conta de energia elétrica mais cara do mundo, de acordo com um estudo da plataforma Cupom Livre. O levantamento realizado no período mostrou que o Brasil fica atrás apenas da Colômbia. Em média, 25% de todo orçamento familiar dos brasileiros é utilizado somente para pagar energia.

Não por acaso aumentou em mais de 40% a instalação do uso de energia solar. Os painéis fotovoltaicos estão tomando conta dos telhados das residências brasileiras, pelo valor do custo benefício. Solar ou de fonte hidráulica, o mais importante é o uso consciente da energia elétrica, pouco conhecido pela maioria da população. Aquela coisinha chata de apagar luz nos ambientes que não ocupamos; a retirada da tomada dos eletrodomésticos que usam o modo stand by, o uso racional do chuveiro elétrico. Fazer o carregamento do aparelho celular desligado e por ai vai...

A energia elétrica é estratégica sempre, basta verificar quais foram os partidos que durante décadas estiveram na gestão do Ministério de Minas e Energia, da Eletrobrás, e não vou nomear porque a política não é minha praia! Conheço o básico, não sou especialista, nem afiliada a nenhum partido. Sou aquela eleitora que só faltou em uma eleição para voltar quando a decepção foi grande demais. Superei!

Essa tentativa de sabotagem ao sistema elétrico brasileiro causa indignação porque trazem prejuízos financeiros imensos, apesar do intuito ter sido certamente provocar apagões em várias regiões que poderia interromper cirurgias em hospitais, acidentes no transporte público sem o uso de semáforos no trânsito, ou nos metrôs; alimentos estragados por falta de conservação, produção industrial parada, ou seja, um caos...

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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