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Viviane Paes

O descaso público contribui com a evasão escolar, chato lembrar - Por Viviane Paes


Ontem um vídeo divulgado nas redes sociais, veiculado pelo site Rondoniaovivo, despertou minha atenção, e acreditem não era mais um de sátira política, de celebridade ostentando a fortuna, desse ou daquele candidato, de musical e tudo mais bem comum hoje em dia. Era um vídeo de um estudante do 4º ano, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Deigmar Moraes de Souza, situada na Linha 28 de Novembro - KM 22, no Cujubim Grande, zona rural de Porto Velho.

É pra chorar, sério, o desabafo da criança que denuncia estar a nove meses sem aulas e completa “quero meu direito de estudar!”

Eu entendo bem esse sentimento do estudante da zona rural da Capital, pois estudei no ensino público quando cheguei de Goiânia. Fui alfabetizada em escola particular e sem ser esnobe – já sendo, fez uma diferença enorme em minha vida, porque tive termômetro para comparar.

Ao contrário desse estudante e das dezenas de estudantes da Deigmar Morares e outras escolas da zona rural de Porto Velho que estão sendo prejudicadas por mais uma fraude com recursos destinados à Educação, na minha época o principal problema era a falta de professores qualificados para sala de aula. Aí era um engenheiro agrônomo da Embrapa dando aula de Ciências, um padre ministrando Geografia e um químico explicando matemática que nem sempre funcionava. Hoje eu sei que faltava a tal didática.

E isso acontecia, na década de 80, quando os poucos professores concursados do município e do estado faziam greve. A retaliação era contratar esses temporários para mostrar que qualquer um podia estar em sala de aula!! Resultado: zero de aprendizado, mas a carga horária era cumprida com muito, mas muito trabalho mesmo. Ninguém me contou eu vivi! Levanta a mão quem ficou seis meses sem professor de português! Eu.

A meta do próximo presidente do Brasil na Educação também é bem Missão Impossível, no entanto nenhum dos presidenciáveis está sendo enganado, apesar da disputa até agora já ter resultado em facada em um deles, um na prisão, uma que tem fama de só aparecer nas eleições e todos os outros... O próximo eleito terá que colocar nas escolas 2,5 milhões de crianças e adolescentes que ainda não estudam!

O MEC já sabe, embora 98,5% das crianças de 6 a 14 anos estejam nas escolas, o mesmo não acontece nas etapas seguintes. E nesse quesito o Norte é líder absoluto! São adolescentes de 15 a 17 anos que deveriam estar no ensino médio e só 84,3 estudam. Fora os que estão em séries do ensino fundamental atrasados!

Aliado a combater a evasão escolar, ainda tem a qualidade do ensino aplicado em matérias bases como português e matemática que em todos os anos só apresentam índices negativos.

Quando a Semed de Porto Velho, em resposta ao vídeo denuncia usa argumentos como os problemas causados pela Operação Ciranda que suspendeu os pagamentos comprovadamente superfaturados, no transporte escolar fluvial e terrestre desde 2014, é no mínimo vergonhoso. Em quatro anos foram superfaturados R$ 33,5 milhões, mais de 426%.

A fiscalização preliminar da CGC identificou indícios de formação de cartel e conluio entre concorrentes, aquele “fechamento” entre empresas em que todas ganham; existência de sócios laranjas, superdimensionamento de combustível na planilha de custos e um grande perigo físico, o armazenamento de combustível de forma irregular.

A Operação Ciranda não foi deflagrada apenas em Rondônia, não foi pessoal!  Os agentes da PF atuaram no mesmo período, em maio deste ano, nos municípios de Manacapuru (AM), Rio Branco (AC) e Recife (PE).

Espero que esse estudante da zona rural não desista dos estudos. Que persista mesmo quando tiver que cumprir um ano letivo em três meses, passando por cima de conteúdos essenciais para as próximas etapas de sua vida escola... Quando tiver que aguentar o mau humor de um professor que terá seu final de ano comprometido em família por contas das aulas de reposição.

Que seus pais tenham sabedoria para incentivá-lo todas as vezes que ele se sentir cansado ou enjoado pelo percurso fluvial, ou terrestre em um transporte com mais de 16 anos de uso – porque a legislação permite esse absurdo no caso de licitação emergencial, que arriscará sua vida e de seus colegas todos os dias!

Eu consegui, infelizmente não minto! Não foi uma jornada fácil, e algumas vezes eu tive de desistir para buscar forças para continuar. E preciso dizer a esse estudante corajoso: a luta não acaba quando você ingressa numa no ensino superior, principalmente se for a uma universidade Federal, onde alguns professores fazem questão de dizer o quanto você é sortudo por estudar quatro, cinco e seis anos sem pagar “nada” por isso.

Agora tenha certeza, vale muito todo o conhecimento que você adquirir. Isso jamais irão tirar de você!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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