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Gente de Opinião

Antônio Cândido

PORTO VELHO – A ORIGEM



Antônio Cândido da Silva

Ontem tive a surpresa de ao ler dois artigos do Professor, Historiador e Analista Político Francisco Matias, constatar que voltou à discussão a  mentira (porque não chega a ser lenda) do “prego de prata,” supostamente batido no dia 4 de julho de 1907.

Por conta das provas apresentadas por mim no ano de 2007, foi cancelada a programação inventada para comemorar o centenário de Porto Velho, fato que gerou uma discussão sem precedente, por conta daqueles que, sem argumentos convincentes, manipularam informações e fotografias para justificar o que não tem justificativa.

Agora, volta à tona, sob a responsabilidade do ilustre escritor, o velho tema, com o objetivo de influenciar os organizadores do “Centenário da E. F. Madeira-Mamoré a incluir na programação essa aberração histórica.

A tática de convencimento, a rigor, continua a mesma. A manipulação de informações e a não citação das fontes consultadas para dificultar a consulta de quem quiser comprovar o que eles dizem ou escrevem.

O professor Francisco Matias devia seguir o seu conselho, dado aos que pensam diferente dele: Portanto, aqueles que defendem o surgimento de Porto Velho em 1908, deveriam dar uma olhada, ainda que desinteressadamente, na obra de Manoel Rodrigues Ferreira.

Creio que aconteceram duas coisas: ou ele fez essa leitura com desinteresse ou apesar de Analista, não analisou a informação.

Por isso, porque sei que o meu leitor sabe distinguir o joio do trigo, vou mostrar que estou certo quando digo que as informações usadas pelo professor fora manipuladas.

Escreveu ele o seguinte :

“Em maio de 1907 a companhia construtora chegou a Santo Antonio. Enquanto ali organizava sua base, sete km abaixo, também na margem direita do rio Madeira, derrubava diversos hectares de mata e dava início à construção da atual cidade de Porto Velho, que seria o ponto inicial da estrada de ferro.”

O professor diz tratar-se de informação de M. R. Ferreira. Sinceramente, duvido dessa afirmação, a menos que ele indique o livro e a página de onde ela foi transcrita.

Vejamos o que diz Ferreira, A Ferrovia do Diabo, pag. 210, 4ª edição:

Em janeiro de 1908, logo que ficaram terminados os primeiros trabalhos de locação e roçada, foram embarcados no vapor Amanda em Santiago de Cuba, com destino a Porto Velho, 350 homens entre contramestres, ferreiros, cozinheiros e capatazes.

No livro já citado, pag.213, encontramos ainda:

É fácil imaginar como seria, naquela época da construção, entre os anos de 1908 e 1912, Porto Velho (que estava sendo fundada) e Santo Antônio com todo aquele mundo de trabalhadores.

Convém esclarecer que o início da ferrovia (1907) em Santo Antônio, não tem nada a ver com o início de Porto Velho (1908). Segundo o relatório de Ernest H. Liebel, engenheiro chefe da primeira turma que chegou a Santo Antônio diz que: Os trabalhos de engenharia tinham sido iniciados e a primeira estaca batida três dias após a chegada, no dia 23 de junho. O que confirma a chegada dos americanos no dia 20 ou 21 de junho de 1907, em Santo Antônio.

Quem tiver maior interesse sobre esses fatos poderá conferir outros artigos que escrevi na minha coluna, neste site, pois o objetivo deste artigo é provar a manipulação de informações na tentativa de provar o que passam para a população, de maneira leviana e irresponsável.

Assim escreveu o professor atribuindo a Ferreira a informação:

O maranhense Francisco Ferreira Brandão. Ele declara que “chegou a Santo Antonio no início de 1907, com 20 anos de idade. Disse que estava em Manaus quando foi recrutado por um homem, chamado Sr. Leão, para vir à região, pois era dado início à construção da ferrovia” Francisco Ferreira Brandão, conhecido como “Condutor Maranhão”, foi o primeiro brasileiro a chegar ao local das obras, integrando a primeira leva de trabalhadores nacionais da Madeira-Mamoré.

Outro pioneiro, o pernambucano Manoel Laurentino de Souza, declarou que tinha 17 anos quando chegou a Santo Antonio. Ele não veio para trabalhar na ferrovia. Era janeiro de 1907 quando desembarcou no local, contratado para trabalhar na Casa Aviadora dos bolivianos Suarez & Hermanos. Disse que, no dia 31 de maio de 1907 viu chegar os primeiros engenheiros norte-americanos e a primeira leva de 60 brasileiros, da qual fazia parte Francisco Ferreira Brandão. O mesmo conta o cearense Antonio Silva, que tinha 25 anos quando aportou em Santo Antonio, em abril de 1907. Um mês depois, ele assistiu à chegada dos norte-americanos e acompanhou a transferência da estação inicial, do povoado mato-grossense de Santo Antonio, para o local chamado porto velho, no Amazonas. Quis o destino que Antonio Silva estivesse vivo e saudável naquele 1º de agosto de 1912, para ser o escolhido para pregar o cravo de ouro no último dormente da ferrovia.
 

Ferreira em Nas Selvas Amazônicas, pag.154/155 diz:

FRANCISCO FERREIRA BRANDÃO

Nasceu em 1887, na cidade de Anajatuba, no Maranhão. Em 1907. Ele achava-se em Manaus, quando o Sr. Leão, um caixeiro-viajante, propôs-lhe seguir para Santo Antônio, pois ia ser dado início à construção da Madeira-Mamoré. O Sr. Leão era um agente da companhia, ganhando dez mil-réis por pessoa que aliciasse.

Foi, pois, o Sr. Francisco Ferreira Brandão, conhecido por “condutor Maranhão”, o primeiro a chegar a Santo Antônio, na primeira leva de trabalhadores, todos brasileiros.

 

MANOEL LAURENTINO DE SOUZA

Nasceu em Limoeiro Grande, Pernambuco, em 1890. Em janeiro de 1907, dirigiu-se a Santo Antônio, a fim de trabalhar na casa comercial dos bolivianos Suarez & Irmãos. Viu chegar a Santo Antônio, no dia 31 de maio de 1907, a primeira leva de engenheiros norte-americanos e trabalhadores brasileiros, ao todo sessenta homens. Em 1908 foi para o Pará, só voltando em janeiro de 1911...

 

ANTÔNIO SILVA

Nasceu em Sobral, no Ceará, no dia 22 de agosto de 1882, às duas horas da manhã. (!) Assentou praça no Ceará, em 1900, com destino ao Amazonas. Deu baixa em 1904, e entrou no Rio Madeira em 1906, chegando a Santo Antônio em 1907. Quando um mês após chegavam os norte-americanos, passou a trabalhar na construção. Ele conta coisas extraordinárias. Diz que certa noite, no acampamento nº 8, onde dormiam cerca de sessentas homens, entraram onças e carregaram dois espanhóis. No acampamento, todas as manhãs apareciam trabalhadores mortos.

Diz que em 1911, quando foi assentado o último trilho em Guajará-Mirim, foi ele encarregado de bater o prego de ouro, que pesava 250 gramas. Foi uma cerimônia simples, presenciada por poucos trabalhadores, pelo empreiteiro norte-americano e sua esposa.


Em primeiro lugar perguntamos aos senhores leitores, se alguém consegue ver nesses depoimentos, transcritos na íntegra de “Nas Selvas Amazônicas,” a comprovação de que Porto Velho começou em 1907, como induz as palavras de Francisco Matias ou, se ao menos, foram citadas nos depoimentos as palavras Porto Velho ou 4 de julho?

Como poderia o Senhor Francisco Ferreira Brandão ser o primeiro brasileiro a chegar a Santo Antônio, se ele fez parte de uma turma de “60 brasileiros”?

Será que merece todo esse credito as palavras de Manoel Laurentino e Antônio Silva quando dizem que os americanos chegaram em 31 de maio de 1907, em Santo Antônio, contrariando o relatório de Ernest H. Liebel, engenheiro chefe da primeira turma que diz que tal fato aconteceu em 20/21 de junho? (Vide A Ferrovia do Diabo, pag. 199).

Merecem fé as fantasiosas palavras de Antônio Silva quando diz que foi encarregado de bater o prego de ouro, contrariando Charles A. Gauld em “Farquhar o Último Titã”, pag. 194, quando diz que assistiram a mulher do empreiteiro Jekyll cravar o “Grampo Dourado” enviado por Farquhar?

Ou quando diz que onças entraram no acampamento e levaram dois espanhóis?

Onças andam em bando?

Eram sessenta homens ou maricas, que deixaram as onças levarem dois companheiros e não fizeram nada?

Os seguidores do tal “prego de prata” usam as palavras que lhes interessam ou podem ser manipuladas para procurar dar um tom de veracidade as suas afirmações. Em doze depoimentos, relatados nas pags.151/167, de “Nas Selvas Amazônicas”, o professor escolheu, desinteressadamente, três depoimentos e armou a farsa para engabelar os incautos que o consideram um ícone da historiografia de Rondônia.

Se ele tivesse lido, desinteressadamente, o depoimento de João de Deus Alves teria visto a seguinte declaração:

Eu e mais 800 (oitocentos) trabalhadores espanhóis deixamos o Canal do Panamá e embarcamos em navio de bandeira norte-americana, no dia 25 de março de 1908, com destino a Santo Antônio do Rio Madeira. (...) Diariamente saíamos logo de madrugada, em uma lancha que nos levava a trabalhar no desmatamento da área onde se iniciava a construção da cidade de Porto Velho.

Aqui vai um presente para aqueles que ainda duvidam de que Porto Velho só teve início no ano de 1908. Um recorte da página 566, do Relatório das Estradas de Ferro do Brasil, relativo ao ano de 1907, do Ministério de Viação e Obras Públicas.

 

 PORTO VELHO – A ORIGEM - Gente de Opinião


Ora, se a solicitação para mudança de local foi feita em 14 de novembro de 1907, como Porto Velho poderia ter surgido em 4 de julho daquele ano?

Volto a repetir o conselho dados àqueles que consideram a origem de Porto Velho em 1907, leiam a informação na qual se baseia a teoria de vocês, “analise” Senhor analista, faça uma critica histórica da carta de Antônio Borges e hão de chegar à conclusão de que não tem fundamento essa pendenga dos senhores.

Será que o professor sabe que o “prego de prata” também foi utilizado no final de ferrovias americanas? Eu tenho a prova.

Portanto, professor, inventa outra...

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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