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Gente de Opinião

Antônio Cândido

SOBRE O CASARÃO DE SANTO ANTÔNIO



Antônio Cândido da Silva
 

 No dia 28.03.2008, publiquei no Site Gente de Opinião uma matéria sobre o Casarão de Santo Antônio, na qual tentei mostrar e justificar de acordo com as fontes de que dispunha naquela época, de que o casarão de Santo Antônio fora construído pela empresa americana P. T. Collins e não pelos ingleses como a Santo Antônio Energia divulgou e continua divulgando, amplamente, ao adotar o nome de “Casa dos Ingleses” para aquela construção.

Como saber se não foram os ingleses da Public Works?

Quando a P. T. Collins chegou a Santo Antônio, em 19 de fevereiro de 1878, portanto, pouco mais de três anos depois da partida da Publik Works, Neville Craig afirma que: As únicas construções visíveis eram em número de quatro. Duas de ferro corrugado, erigidas pelos ingleses, junto ao porto de desembarque, para servir de armazém; as outras de menor porte, eram habitações.

Em “Estrada de Ferro Madeira-Mamoré – História Trágica de Uma Expedição”, pag. 198, traduzido e publicado no Brasil em 1947, pode-se ver a primeira notícia sobre o Casarão logo após a chegada de Thomas Collins em 19 de março de 1878.

Sobre um elevado outeiro de onde se avistava o rio com suas cachoeiras, para cima e para baixo, foram lançadas as fundações para o edifício central da administração da estrada. Ao contrário das outras, esta construção deveria ser de natureza permanente. Fora projetada para se destacar como o prédio mais evidente do lugar: dois andares circundados por varandas de 3 m de largura. O primeiro pavimento destinava-se exclusivamente a escritórios e o segundo seria dividido em cômodos espaçosos e serviria de residência aos principais funcionários da estrada, em Santo Antônio.

SOBRE O CASARÃO DE SANTO ANTÔNIO - Gente de Opinião
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Bernardo da Costa e Silva esteve em Santo Antônio no ano de 1882, três anos, portanto, após a saída da P. T. Collins, descreve o povoado de Santo Antônio e destaca o Casarão em “Viagens ao Sertão do Amazonas” publicado na cidade do Porto, em Portugal, no ano de 1891, da seguinte maneira: Mais adiante, havia outra grande casa num alto, que desfrutava toda a entrada do porto, e nela eram os escritórios principais da companhia no primeiro andar, e no segundo, residência.

Terminei aquela matéria “afirmando” que o Casarão de Santo Antônio fora construído por Thomas Collins, mas ao ler o livro “Imagens de Rondônia: A Fotografia Documenta a História” da Professora Yedda Maria Pinheiro Borzacov deparei com uma foto do Casarão e a legenda de que ele fora construído por um sírio.

Passado algum tempo, conversando com o Doutor Dante Fonseca, falamos sobre essa informação e ele comentou: Cândido, eu tenho lá minhas dúvidas se foi mesmo Thomas Collins quem construiu o Casarão. E perguntou: por que será que o Danna Merrill não fotografou aquele prédio?

Dias depois ao encontrá-lo ele falou-me que conversara com a Professora Yeda para saber a fonte da sua informação e ela dissera que lhe foi passada pelo Jornalista Euro Tourinho.

Procurei o Jornalista Euro que me disse o seguinte: Cândido, quem construiu em não sei. Mas, quando fui morar em Santo Antônio, em 1932, o prédio já existia e era habitado, segundo ouvi dizer, por um sírio libanês. Eu era apenas um menino, tinha uns 12 anos, mais ou menos.

Ernesto Matoso Maia Forte, que escreveu o Relatório da Comissão Morsing/Pinkas, publicado com o título de Impressões de Viagem - Itinerário e Trabalhos da Comissão de Estudos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, declara a página 145, o que encontrou em Santo Antônio no dia 19 de março de l883, portanto, menos de quatro anos após a saída da P. T. Collins.

No momento em que chegamos existiam sete casas: uma grande quase em ruínas, que serviu de escritório e residência dos americanos da empresa Collins, de madeira e coberta de palha, onde nós fizemos também escritório e enfermaria (...) outra, que serviu de residência do fiscal...

Confesso que não pretendia escrever este texto antes de chegar, o mais próximo possível, a uma resposta satisfatória. Porém, um pedido de socorro se ouve para que não deixemos acabarem com o que resta da nossa história. Agora, a bola da vez é o Casarão de São Antônio.

A minha visão sobre o casarão, hoje, é diferente daquela da época do artigo. Pois, pensando bem, Neville Craig afirma que no dia 11 de outubro de 1978, o casarão estava pronto e isso nos leva as seguintes indagações:

- Se eles chegaram em fevereiro daquele ano, como poderiam ter construído o prédio (atual) em menos de oito meses, apesar de todas as dificuldades pelas quais atravessou a Companhia?
 

- Por que Danna Merrill fez algumas fotografias de Santo Antônio e nelas não aparecem o casarão da P. T. Collins ou o que teria sido construído pelo Sírio libanês?
 

- Onde conseguiriam telhas e tijolos se em Santo Antônio não existia olaria?
 

- Por que os registros de quem passou por Santo Antônio, de 1900 a 1920, por exemplo, não falam do casarão?
 

- Como a P. T. Collins conseguiria acomodar os 54 engenheiros que trouxe para Santo Antônio, em cômodos espaçosos, no segundo andar, do atual prédio?
 

É provável, portanto, que o casarão da P. T. Collins é o citado por Ernesto Matoso Maia Forte e Bernardo da Costa e Silva e não o prédio atual. Manoel Rodrigues Ferreira, como eu e muitos outros, estávamos errados quando afirmamos que o prédio existente em Santo Antônio é aquele construído por Thomas Collins, no ano de 1878.

Então podemos destruir o prédio já que, segundo o Consórcio Santo Antônio, essa construção não tem relevância histórica?

Eu entendo que quem não faz parte da história não está credenciado a dar um “valor histórico” àquilo que não foi construído por seus antepassados, pois somente essa convivência pode levar uma comunidade a reconhecer o valor de determinado bem material, natural ou imóvel pelo seu significado e importância artística, cultural, religiosa, documental e estética para essa sociedade. Por isso, tudo aquilo que foi produzido ou construído por um povo durante a sua jornada se constitui em importante fonte de pesquisa e é um bem que merece ser preservado.

Ninguém melhor do que a nossa sociedade, e só ela, sabe o que é importante para nós. No entanto, a nossa sociedade não foi, e nesse caso, não está sendo ouvida e, quando se faz uma audiência pública o povo é apenas a parcela audiente sem direito a voz.

Para facilitar o poder de destruição criou-se a máxima de que somente o que é ligado à Madeira-Mamoré faz parte da nossa história e “merece” ser preservado. O Casarão se impõe como um bem patrimonial nosso, assim como a igreja e o monumento ao Centenário da Independência. Para a nossa cidade que acabou de completar 104 anos de existência, qualquer bem criado ou construído nas décadas de 1920 ou 1930, são relíquias que devem ser cuidadas como valiosas fontes de pesquisas. Haja vista que ainda não sabemos, no caso do Casarão, quem o construiu. Se o destruirmos nunca saberemos...

Para comprovar o valor desses bens, vou lhes contar uma pequena história:

Há dois anos, mais ou menos, recebi um email do Senhor Ailton Cavalcante, de João Pessoa na Paraíba, pedindo-me para obter informações sobre o seu avô, Antônio Marcelino Cavalcante, que ele não conheceu e que teria morado em Porto Velho no início do Século passado.

Busquei informações com vários moradores antigos da cidade e, para minha tristeza, ninguém o conheceu ou pode me dar qualquer informação. Mas, eu tinha certeza de já ter visto este nome antes e pedi ao Senhor Ailton que tivesse paciência.

Dias depois revendo umas fotos de Santo Antônio veio o “estalo” ao olhar uma foto do monumento da Independência, pois naquela placa cravada na pedra, está o nome do Vereador Antônio Marcelino Cavalcante.

  

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Daí ficou fácil. Descobri que ele fora vereador de Santo Antônio, comerciante, fez parte da comissão encarregada de arrecadar fundos para a construção da igreja de Santo Antônio, assinou a ata de fundação do município, era major da Guarda Nacional e gozava de prestígio no município...

Se “asusinas” tivessem destruído o “Castelinho” eu nunca teria descoberto isso. Santo Antônio é um sítio histórico tombado pela Constituição do Estado de Rondônia (art.264) não se esqueçam disso.

Com a palavra o Ministério Público do Estado de Rondônia para nos dizer se o que está escrito na Constituição Estadual (Art. 264) e na Constituição Brasileira (Art.216), neste caso, vale alguma coisa ou não...

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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