Quarta-feira, 10 de maio de 2023 - 10h24
O agronegócio representou cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB)
brasileiro, apesar de importante queda em 2022, segundo o Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada (Cepea). A pecuária de corte representa cerca de
10% desse volume, parcela de extrema importância, se comparada à indústria
automotiva, que representa de 3% a 4% de nossa produção. Importante publicação
da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), o Beef
Report 2022 estima o tamanho do rebanho nacional em cerca de 196 milhões de
cabeças, com abate de cerca de 39 milhões de animais, levando à taxa de
desfrute de apenas 19,9%, muito inferior à de nossos principais concorrentes.
Temos cerca de 70 milhões de vacas em nosso rebanho, com a realização de
aproximadamente 21 milhões de procedimentos ligados à Inseminação Artificial em
Tempo Fixo (IATF) no país. Como essa tecnologia tem uma eficiência de 50% e a
proporção de segundas e terceiras IATF ainda são relativamente pequenas, é
razoável supor que perto de 58 milhões de vacas sejam cobertas por touros,
sejam no repasse ou nas propriedades que usam monta natural. Isso levaria ao
uso de cerca de 1,9 milhão de touros de corte em atividade no país, com
necessidade de reposição de cerca de 350 mil animais por ano.
Essa introdução nos traz a uma importantíssima reflexão: há que se
escolher touros excelentes para reposição, por várias razões:
isso explica um número terrível: das 70 milhões de vacas disponíveis,
produzimos apenas 39 milhões de animais para abate, ou seja, 55,7%. Uma
indústria que tem uma eficiência média de 55,7% está falida. O ideal seria
produzirmos acima de 75% de animais de abate, ou seja, acima de 52 milhões de
animais enviados aos frigoríficos. Podemos aumentar nossa produção em, pelo
menos, 33%, considerando-se apenas o número de animais.
Os dados mostram que precisamos melhorar, e muito, a produtividade de
nossa pecuária de corte. Isso irá ocorrer com avanços em nutrição, saúde,
manejo, pastagens, sanidade, qualidade de mãe de obra, instalações e genética.
O ambiente é responsável por cerca de 70% a 80% da produção dos animais.
Já a genética e sua interação com o ambiente, os restantes 20% a 30%. No
entanto, qualquer fator de ambiente, se tiver seu fornecimento adequado
interrompido, sofre imediata alteração na produtividade. No caso da genética, é
diferente: normalmente os machos são vendidos para abate, mas uma expressiva
proporção das fêmeas é retida para reposição do plantel. A qualidade genética
dessas fêmeas, filhas de touros de inseminação ou de repasse, pode ser muito
diferente. Erros cometidos na escolha de touros de repasse podem resultar em
fêmeas de qualidade inferior no rebanho. Por sua vez, esses animais com
qualidade genética inferior podem permanecer, muitas vezes, até mais de 10 anos
no rebanho, produzindo bezerros de pouca produtividade. E quem pagará o amargo
preço da baixa produtividade é sempre o criador.
Então, chegamos a uma questão: como escolher sêmen, embriões, touros
e novilhas de reposição? Não existem regras claras e que sirvam para todos
os criadores, porque cada pecuarista tem sua fazenda, suas aptidões técnicas e
de gestão, além de seu ambiente, clima, solo e mercado, ou seja, cada
pecuarista tem seus objetivos próprios. A falta de definição clara de objetivos
leva a escolhas erradas.
Então surgem outras dúvidas: que raça escolher? Que genética? Qual o
peso adequado de reprodutores? Quais são os limites de perímetro escrotal?
Quais são as principais características a levar em consideração? Existem muitas
queixas a respeito de aprumos dos reprodutores, bem como do peso ao nascer dos
bezerros. Temos que lembrar que quando compramos material genético, não
adquirimos determinado reprodutor ou matriz, mas, sim, a expectativa do que
seus filhos irão produzir.
Vamos tentar fazer algumas considerações:
Raça do touro: essa decisão deve ser tomada, como as demais, dependendo do que o
criador quer. Existem touros de alta qualidade genética em todas as raças,
assim como maior variabilidade dentro de raças do que entre raças. O uso de
cruzamento e o acasalamento de animais de raças diferentes geram os efeitos de
heterose e de recombinação, que, normalmente, resultam em maior produtividade,
mas, também, menor adaptabilidade e maiores exigências nutricionais.
Genética: as avaliações genéticas são o melhor caminho para o pecuarista tomar
decisões. E essas decisões têm que ser adequadas ao sistema de produção de cada
um. Exemplos clássicos: um pecuarista do pantanal pode não querer vacas com
muita habilidade materna, porque elas passarão fome em época de enchente e
podem até morrer, por causa de produção elevada de leite; em área de baixa
fertilidade de solo e veranicos prolongados, bezerros que ganham muito peso
pós-desmame (e são mais exigentes em termos de nutrição) sofrem muito mais do
que bezerros filhos de touros moderados. Aprender a entender uma avaliação
genética, na pecuária de hoje, é obrigação do pecuarista.
Peso dos reprodutores: hoje em dia ficou muito comum os
produtores de touros superalimentarem seus jovens candidatos a touros, ofertando-os
ao mercado com pesos acima de 700 quilos, ou até mesmo 800 kg, ao redor dos 24
meses de idade. Esses animais terão sido criados em sistemas que não
correspondem aos sistemas de seus filhos, e, normalmente, esses filhos
decepcionarão muito o comprador desses touros “turbinados”. Touros precisam ser
selecionados em sistemas parecidos com o que seus filhos irão ser produzidos.
Perímetro escrotal: a seleção para peso elevou muito o perímetro
escrotal dos animais e já passamos do ponto ideal. Touros jovens com perímetros
maiores do que 37 cm têm apresentado problemas de lesões testiculares por
atrito, reduzindo sua vida útil no campo.
Características a serem escolhidas: depende do objetivo de cada um, mas
peso, desmama, peso ao sobreano e fertilidade sempre devem estar na lista.
Aprumos e ossatura dos reprodutores: touros usados no
campo têm que trabalhar cobrindo vacas e, para isso, devem ter aprumos
perfeitos, que permitam que o trabalho seja feito sem desgaste excessivo.
Touros precisam transmitir aos filhos ossaturas que permitam crescimento
adequado. Existe muito touro no mercado que, um ano depois da compra, está
deformado, com ossatura que não suporta seu peso.
Comprimento de prepúcio: as pastagens tropicais são
complicadas para touros com prepúcio muito longos, causando ferimentos que
comprometem o trabalho dos mesmos.
Peso ao nascer de bezerros: um assunto muito sério, que não recebia
atenção há 10 anos, mas que atualmente, na raça Nelore (a mais importante do
país), já apresenta problemas. Escolher touros com genética adequada para
produção de bezerros com menor peso ao nascer e que deixem filhas com essa
aptidão é essencial.
Seguir alguns dos pontos levantados é muito importante para que os
pecuaristas permaneçam evoluindo e colaborando com o avanço da pecuária de
corte no país. Um bom exemplo de criatório que segue essas indicações é a
Agropecuária CFM, cujo programa de melhoramento genético foi o primeiro
aprovado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), permitindo a
certificação de touros com Ceip. O Certificado Especial de Identificação e
Produção é uma chancela concedida pela pasta aos touros comprovadamente
melhoradores, algo que contribui para a constante evolução da produção animal
brasileira. Este é um caminho de sucesso que devemos trilhar.
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