Terça-feira, 23 de abril de 2024 - 17h28
Com a
aproximação do período das secas, o uso de suplementos proteico-minerais,
proteico-energético-minerais e das rações completas aumenta significativamente.
O uso de tais produtos pode trazer ganhos de peso que somente o pasto e
suplemento mineral não permitem. Nesses produtos faz-se o uso da ureia pecuária
e, a seguir, veremos as oportunidades e riscos que a ureia propicia aos
bovinos.
A ureia é
tão simples que foi a primeira molécula orgânica a ser sintetizada pelo homem,
em 1828. Além da simplicidade na sua produção, ela é bastante concentrada em
nitrogênio: a cada 100g de ureia, 45g são desta substância (45% de N). Essas
características fazem dela a fonte mais barata que existe, em termos de custo
por unidade de nitrogênio (R$/kg de N). Como, para ruminantes, nitrogênio é
sinônimo de proteína, seu uso na nutrição animal é bem interessante. Para se
ter uma ideia da importância econômica do uso da ureia, 1kg de farelo de soja
nos propicia 460g de proteína bruta, e esse 1kg de farelo de soja, em termos de
proteína ao bovino, pode ser substituído por 164g de ureia. Todavia, deve-se
fazê-lo com muito cuidado, pois a inclusão sem critério de ureia na dieta reduz
a eficiência da sua utilização, pode piorar o desempenho e, em último caso,
resultar na morte de animais.
Os
principais cuidados no fornecimento de produtos com ureia são:
1.
Não
o utilizar em pastos com baixa disponibilidade de forragem;
2.
Fornecer
continuamente o produto com ureia (caso contrário, poderá ser preciso fazer
nova adaptação);
3.
Fornecer
o produto de preferência em cochos cobertos, obrigatoriamente assentados em
desnível e furados, para drenar a água da chuva, de forma a evitar a formação
de poças que podem levar a ingestão excessiva da ureia solubilizada nestes
locais;
4.
Realizar
a adaptação dos bovinos ao consumo de ureia. Para isso, uma sugestão prática e
bastante segura é fazê-la da seguinte maneira:
Período |
Mineral convencional |
Produto com ureia |
1ª semana |
2 sacos |
1 saco |
2ª semana |
1 saco |
1 saco |
3ª semana em diante |
Apenas produto com
ureia |
5.
Garantir
o espaçamento de cocho recomendado para cada tipo de produto, para que seja
diminuído o efeito da dominância no cocho.
Em caso
de intoxicação por ureia, o antídoto é uma solução com entre 4-6% de ácido
acético, que nada mais é do que o vinagre que usamos para temperar a salada em
casa. É necessário fazer o animal ingerir 3 a 4 litros e, se não for alguém
habilitado a fazer isso, a chance do vinagre ir pela via errada e atingir o
pulmão, agravando a situação, não é pequena. Uma vez que o vinagre chegue ao
rúmen, a acidificação que ele causa no ambiente faz com que se reduza a
velocidade de absorção da amônia, o subproduto da degradação da ureia. Ocorre
que o tratamento só é eficaz se aplicado logo que se observem os primeiros
sintomas, o que normalmente não acontece. Em função disso, e de ser um
tratamento complicado, o que resolve mesmo é caprichar nas medidas preventivas
citadas anteriormente.
Aqui vale
ressaltar que os animais a pasto são mais susceptíveis à intoxicação por ureia
que os animais recebendo ração em semiconfinamento, confinamento ou TIP, uma
vez que o pH do rúmen desses animais já se encontra mais baixo, diminuindo os
riscos da elevada ingestão de ureia.
O nível
tóxico considerado para a ureia é definido por uma faixa entre 40-50 g para
cada 100 kg de peso vivo. Isso significa que uma UA (450 kg de peso vivo),
poderia ingerir entre 180-225g de ureia por dia, no máximo. Um animal já há
mais tempo adaptado pode resistir a níveis ainda maiores, mas não queremos com
isso estimular usos acima do limite, pois isso deve ser usado como uma folga de
segurança, que um bom técnico pode responder qual é.
Realizando
um exercício de consumo de produto para se atingir um nível tóxico de ingestão
de ureia, vamos tomar como exemplo o produto OX PROTEÍNA 30 SECAS, cujo nível
de garantia é de 210 g/kg de NNP Eq. PB que, transformando em ureia, significa
que o produto possui 75g/kg de ureia. O consumo esperado desse produto é de
100-150g/100 kg de peso vivo, ou seja, um animal de 450 kg consumirá entre
450-675g/dia, o que resulta num consumo de 33,75-50,63g de ureia por dia, ou
seja, BEM ABAIXO da faixa de segurança 180-225g de ureia por dia. Para alcançar
esse nível da faixa de segurança, o consumo do produto deveria ficar entre
2,400-3,000kg/dia, o que é bem improvável que ocorra, pois se trata de um
consumo de até 5 vezes o esperado.
De forma
similar, podemos calcular o consumo de produto para se atingir um nível tóxico
de ingestão de ureia, utilizando o produto OX SEMICONFINAMENTO 16, cujo nível
de garantia é de 45 g/kg de NNP Eq. PB que, transformando em ureia, significa
que o produto possui 16g/kg de ureia. O consumo indicado desse produto é de
0,800-1,200kg/100 kg de peso vivo, ou seja, um animal de 450 kg deverá consumir
entre 3,600-5,400kg/dia, o que resulta num consumo de 57,60-86,40g de ureia por
dia, ou seja, BEM ABAIXO da faixa de segurança 180-225g de ureia por dia. Para
alcançar esse nível da faixa de segurança, o consumo do produto deveria ficar
entre 11,250-14,000kg/dia, o que é bem improvável que ocorra, pois se trata de
um consumo de até 3 vezes acima do recomendado.
Desde que
a ureia seja utilizada dentro das recomendações, sem exagero, não há qualquer
prejuízo ao desempenho reprodutivo, pois o que pode comprometer esse desempenho
é o excesso de nitrogênio, independente de qual ingrediente ele tenha origem.
Importante comentar que, mesmo vacas prenhas que apresentaram sintomas de
intoxicação, não tiveram problemas com o parto ou problemas reprodutivos nas
prenhezes seguintes, o que demonstra que o problema de excesso de nitrogênio é
reversível.
Vale ainda
salientar que os produtos da linha OX PREMIUM possuem seus níveis de ureia
compostos por 50% de ureia pecuária e 50% de ureia protegida, o que torna os
produtos ainda mais seguros, porque a ureia protegida tem uma liberação muito
mais lenta no rúmen quando comparada à ureia pecuária.
Em resumo, se os cuidados no fornecimento dos produtos com ureia forem seguidos à risca, a probabilidade de se ter uma intoxicação nos bovinos é reduzida a próxima de zero, com excelentes retornos, tanto no desenvolvimento dos animais, quanto no aspecto financeiro.
Fonte: Sérgio Raposo
de Medeiros – Embrapa Pecuária Sudeste
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