Quarta-feira, 11 de janeiro de 2023 - 11h44
Além de ser uma atividade tradicional daquele povo
na regulação do mercado e preços para a castanha-do-Brasil, os Zoro se destacam
como um dos poucos povos indígenas que coletam a castanha enquanto ela está
caindo, atividade considerada de alto risco por muitos coletores. Segundo
Aduabá Zoro “o castanheiro precisa ter coragem e muita prática para coletar a
castanha nos meses de novembro e dezembro, quando ela ainda está caindo,
precisa ter habilidade e ser rápido na coleta enquanto estão debaixo das
castanheiras, o ouriço pode cair a qualquer momento” o que motiva os indígenas
a fazer uso de EPIs como capacetes e botinas.
O presidente da Cooperapiz comemora o resultado
da safra de Natal que alcançou mais de 50 toneladas. Destas, 45 foram
adquiridas pela cooperativa através da renovação do fundo rotativo, que foi
disponibilizado pela ADERJUR, no valor de R$ 460.000,00, fazendo com que a
castanha seja comprada a um preço mais justo do que o oferecido pelos
atravessadores.
Além da ADERJUR, principal apoiadora, a APIZ e
COOPERAPIZ contam com parcerias importantes como a Funai - Coordenação Regional
de Ji-Paraná, considerada uma parceira histórica dos Zoró, disponibilizando
anualmente insumos como sacaria e combustível para o transporte da safra de
Natal, além de assessoramento técnico para o planejamento e mobilização para os
trabalhos, como na busca de mercado e preços melhores para a produção.
Também apoia esta cadeia de valor no território Zoro, o
Programa REM MT (REDD para Pioneiros, pela sigla em inglês), executado pelo
Governo do Estado de Mato Grosso com financiamento dos Governos da Alemanha e
Reino Unido. Desde 2020 a ADERJUR, de Juruena (MT) é apoiada pelo Programa e com
esse recurso foi possível, no último ano, a construção de uma fábrica para
beneficiamento de castanha no território Zoro, administrada pela Cooperapiz,
cujos resultados socioambientais serão apresentados a partir da safra atual.
Outro parceiro importante é o Centro de Estudos
Rioterra, de Porto Velho (RO), que apoia o financiamento da safra, com capital
de giro para o fortalecimento do Fundo Rotativo. Estes parceiros estão
investindo nesta cadeia, com volumes de recursos que são considerados uma
iniciativa inédita para esta região da Amazônia. Os resultados desta
experiência deixarão importante legado de conhecimento para o sistema
tradicional de crédito público e privado, bem como, para fundos internacionais
de investimentos que desejam apoiar a conservação da Amazônia e a manutenção do
equilíbrio do clima do planeta.
Ainda segundo os presidentes da APIZ, Alexandre
Xiwekalikit Zoro, e da COOPERAPIZ, Ademir Ninija Zoro, o apoio logístico para a
coleta e escoamento da castanha continua sendo desafiante, por se tratar de
regiões longínquas, com estradas de terra, nem sempre em boas condições,
fazendo com que encareçam os custos com fretes. Ademais a retirada da produção
de dentro da floresta é um trabalho árduo, por não haver um meio de transporte,
sendo empregada a força humana para carregar a castanha até o local onde se
acessa com motocicletas ou carros e transporta-la até a aldeia.
Segundo eles, um dos planos é buscar parcerias para humanizar mais este transporte, o que poderá ser feito com a viabilização de motos com carreta acoplada, barcos e motores para as regiões ribeirinhas, animais que auxiliem no transporte da carga de dentro da floresta, além de estruturas nas comunidades, como mesa de secagem, barracão de entreposto e pequenas estruturas nas residências dos próprios castanheiros, onde tradicionalmente armazenam suas castanhas até que sejam vendidas para a cooperativa. Enquanto isto, segundo o cacique geral, Panderewup Zoro, “cada castanheiro ou família cuida da sua castanha até a chegada da cooperativa para a compra”. É uma lógica que funciona, segundo ele. De acordo com Panderewuo, a implementação de pequenas estruturas locais, familiares, auxiliará nas boas práticas de manejo de produção, garantindo maior qualidade e melhor adesão do mercado.
A APIZ e a COOPERAPIZ já têm planejada a safra
pós-Natal, que acontece entre janeiro e março, quando todas as castanhas já
caíram. Eles estimam aproximadamente mais 60 toneladas para finalização da
safra 2022/2023, que alcançarão um volume final superior a 120 toneladas. Após
isto, enfrentam os desafios do mercado, que nem sempre é justo, bem como, dos
custos com impostos que interferem na oferta dos preços para as vendas local
regional e nacional. Ademir diz ter esperança de que os estados de Rondônia e
Mato Grosso criem isenção de impostos.
Para Lígia Neiva, técnica da Funai que atua diretamente no assessoramento aos Zoro, na mobilização e planejamento da safra de castanha-do-Brasil, trata-se de uma prática tradicional do povo Zoro na gestão e proteção do seu território, além de ser um produto presente em cardápios refinadíssimos da culinária do povo Zoro.
Paulo
Nunes, assessor da ADERJUR, reforça a importância e o impacto do fundo rotativo
para a viabilização do preço justo aos castanheiros, promovendo maior adesão
social e reforço às práticas tradicionais deste povo com a gestão sustentável
da Floresta.
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