Sexta-feira, 4 de agosto de 2023 - 16h23
A iniciativa Uma Concertação pela Amazônia chega aos Diálogos
Amazônicos, da Cúpula da Amazônia, em Belém (PA), nos dias 4 a 6 agosto, com
sua terceira contribuição para o desenvolvimento sustentável da região. Sob o
título Propostas para as Amazônias: Uma Abordagem Integradora, o novo documento
reflete o amadurecimento dos debates da rede e coloca a qualidade de vida da
população local no centro das propostas.
A publicação inova ao trazer para o debate uma perspectiva que subverte
a lógica setorial, que costuma segmentar temas interdependentes, e revela que
saúde, educação, segurança, bioeconomia, ciência, tecnologia e inovação
(CT&I), povos indígenas e comunidades tradicionais estão mais interligados
do que se imagina.
"Identificar a conexão entre esses temas é um passo fundamental
para desatar nós críticos da complexa trama de fatores humanos, políticos,
econômicos e ambientais que impedem o avanço do desenvolvimento da
Amazônia", afirma Lívia Pagotto, co-secretária-executiva da rede Uma
Concertação pela Amazônia. "Nossa abordagem é integradora. Buscamos
conciliar a conservação da biodiversidade amazônica com o bem-estar da
população local, o que pressupõe condições sanitárias, educacionais, de
segurança e de infraestrutura equivalente a do restante do país."
O conhecimento reunido no documento é resultado do esforço de curadorias
temáticas conduzidas por especialistas no assunto e complementadas por
relatorias utilizadas no documento publicado pela Concertação no fim de 2022. A
ambição da publicação, ao identificar essas conexões, é inspirar formuladores
de políticas públicas, cientistas e tomadores de decisão que atuam nas
Amazônias. "A interconexão entre os temas permite perceber padrões,
relacionamentos, agentes sociais e influências que moldam nossa compreensão.
Por exemplo, estudar interações entre o combate ao desmatamento (dimensão
ambiental), o extrativismo (dimensão econômica) e a educação (dimensão social)
ajuda a entender os desafios impostos pela emergência climática nas Amazônias.
E, assim, propor soluções mais adequadas aos contextos locais", explica
Lívia.
Amazônias no currículo
A publicação revela que o macrotema da Educação ancora assuntos-chave para
a população local e essenciais para o desenvolvimento. É o caso da segurança
pública: a leitura da rede é de que é papel do Estado, de políticas públicas e
das escolas garantir a educação como alternativa às ilegalidades e às
atividades predatórias.
"O direito à educação passa, necessariamente, pela articulação com
outros direitos sociais, em busca de garantir o pleno desenvolvimento da
pessoa, a preparação para o exercício da cidadania e a qualificação para o
trabalho", explica Fernanda Rennó, co-secretária-executiva da Concertação.
A publicação mostra que ainda há muito a ser feito pela educação amazônica e
propõe novas possibilidades para o currículo das escolas, como a inclusão da
bioeconomia e os saberes tradicionais como assuntos essenciais.
Um exemplo emblemático dessa abordagem é o programa Itinerários
Amazônicos (IAM), que nasceu a partir de trocas interdisciplinares dentro da
rede. Desde abril de 2023, o IAM busca transformar a realidade da educação
amazônica por meio de formação docente para redes estaduais de ensino no Acre,
Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Tocantins e Roraima. Trata-se de
uma parceria do Instituto iungo, do Instituto Reúna e da rede Uma Concertação
pela Amazônia, com apoio financeiro do BNDES, do Movimento Bem Maior e do
Instituto Arapyaú.
"O programa quer povoar de Amazônias — sim, no plural, para
evidenciar a multiplicidade de aspectos que conformam o território — os
currículos brasileiros. Isso é feito por meio da produção de conteúdos
pedagógicos centrados em temáticas, questões e referências amazônicas. E
envolve a formação continuada de educadores das redes de ensino
parceiras", explica Fernanda.
A iniciativa produziu 13 unidades curriculares para os itinerários
formativos dos currículos de Ensino Médio. O material gratuito está sendo
utilizado por professores e por gestores escolares, para o trabalho de
aprofundamento nas áreas do conhecimento e Projetos de Vida. Foi produzido por
uma equipe multidisciplinar de mais de 120 pessoas, entre especialistas,
representantes das secretarias de educação parceiras, educadores e jovens
amazônicos.
O novo documento da Concertação também consolida uma série de estatísticas
sobre a educação na região. A realidade atual está aquém da média brasileira
tanto em qualidade do ensino quanto em infraestrutura: menos de 60% das escolas
de Educação Básica do Acre, do Amazonas, do Pará, de Roraima e do Amapá têm
acesso à internet, e das 35.438 escolas da região, apenas 6% possuem
laboratório de ciências, 20% possuem laboratório de informática e 24% possuem
biblioteca.
Teia complexa
Um dos achados da Concertação foi a constatação de uma ampla rede
intertemática em torno de CT&I, assunto conectado a 11 temas. O documento
mostra que o avanço de pesquisas e o desenvolvimento de tecnologias para
problemas do mundo real depende de fomento a pesquisas voltadas a economias
verdes e transição energética (economia), de criação de conexões entre
instituições de pesquisa locais-globais (governança), de intercâmbio entre
pesquisadores de centros de pesquisa de ponta (educação), de regulamentação da
repartição de benefícios pelo uso da biodiversidade e conhecimentos
tradicionais (povos indígenas e comunidades tradicionais), de prospecção de
insumos para vacinas e novos medicamentos (saúde), para citar alguns exemplos
da complexa teia de relações.
Na visão da Concertação, essa agenda está totalmente conectada com
desafios mais urgentes da região, como a erradicação da fome, o gerenciamento
da emergência climática, a necessidade de reindustrialização, a melhoria da
educação em todos os níveis, o desenvolvimento de produtos e serviços de saúde
e a construção de infraestruturas e cidades inteligentes.
A recuperação das instituições de ensino e pesquisa da região é colocada
como prioridade, a começar pela recomposição dos quadros de pesquisadores e
funcionários. O documento aponta que, apesar do crescimento de 109,4% na última
década, em 2021 a Amazônia Legal teve uma taxa de 20 mestres e doutores por 100
mil habitantes, inferior à média do restante do país, que é de 40. Outro número
que mostra as dificuldades do setor, apresentado na publicação, é o de patentes
concedidas. De acordo com o Instituto Nacional da Propriedade Industrial
(INPI), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), a região tem
baixa performance no setor, detendo 1,6% das concessões brasileiras em 2021;
42% delas concentram-se no estado do Amazonas.
A vida sob os pés das florestas
Ao longo da publicação, ilustrações de diversas espécies de fungos e a
proposta de uma "árvore da vida" amazônica da artista visual Hadna
Abreu, de Manaus, se misturam com o texto e convidam os leitores a refletirem
sobre como as conexões, nem sempre visíveis, podem revelar sinergias e caminhos
para a cooperação.
"Há uma intensa atividade, praticamente invisível, acontecendo sob
os pés da floresta. Os fungos são seres vivos minúsculos que formam extensas
redes que criam uma conexão capaz de nutrir e sustentar toda a vida da maior
floresta tropical do mundo", diz Fernanda Rennó. "O modo como a
Concertação pela Amazônia atua mimetiza essa função vital das redes
fúngicas."
Acesse o documento completo no site: https://concertacaoamazonia.com.br/.
Sobre a Uma Concertação pela Amazônia
É uma rede com mais de 600 líderes criada em 2020 como um espaço
democrático de debate para que diversas iniciativas que atuam em prol da região
pudessem se encontrar, dialogar e ampliar o impacto de suas ações. Apartidária
e plural, a iniciativa reúne representantes dos setores público e privado,
academia, sociedade civil e imprensa, que se juntaram para buscar propostas e
projetos para a floresta e as pessoas que vivem na região. Para a Concertação,
a Amazônia é uma trajetória de desenvolvimento para o país e tem papel
determinante no enfrentamento da emergência climática e no futuro do planeta.
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