Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Amazônias - Gente de Opinião
Amazônias

Não jogue pilhas usadas em qualquer cesto de lixo


Não jogue pilhas usadas em qualquer cesto de lixo - Gente de Opinião
Demora na aplicação da Lei de Resíduos Sólidos levou-os ao projeto que possibilitará, inicialmente na Faculdade, a coleta de pilhas e baterias usadas, que posteriormente será feita em Porto Velho

MONTEZUMA CRUZ
Em Porto Velho


Cádmio, chumbo, mercúrio, níquel, zinco e outros metais pesados poluentes presentes na pilha. O que não se sabe é que Porto Velho tem dois pontos pouco utilizados para a coleta de pilhas e baterias. Sob orientação do professor doutor em biologia e bacharel em química César Luiz Guimarães, 32 alunos dos cursos de engenharia ambiental e sanitária da União das Escolas Superiores de Rondônia (Uniron) lançaram um projeto inédito no estado: o Papa pilhas.

“Pilhas bioacumulam, biomagnificam (*) e envenenam, causam câncer, doenças degenerativas e disfunções neurológicas”, alerta o professor. “As pessoas olham para o desmatamento, mas passam ao largo dos metais pesados e dos agrotóxicos”, emenda.

Surpreendentemente, nem a Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica (Abinee) soube informar corretamente quantos pontos de coleta existem no estado, tampouco, se a obrigatoriedade da coleta vigoraria ainda em 2018.

PROFESSOR CÉSAR EXPLICA A CAMPANHA
https://www.youtube.com/watch?v=SYkXe26qJIU&t=11s

Em Rondônia são desconhecidos pela maioria dos consumidores os depósitos do Supermercado Atacadão [na rodovia BR-364] e na representação da Philips [Avenida Jatuarana, zona sul].

“Além do bloco de engenharia, o que o aluno aprender neste projeto, multiplicará para os pais e vizinhos”, acredita Guimarães.

Futuramente será publicado um artigo científico contendo os tipos de pilhas [alcalinas, recarregáveis, importadas ou nacionais], no que são utilizadas. Reutilização ou incineração farão parte do estudo.

DO PRÓPRIO BOLSO

É uma missão custeada com dinheiro do próprio bolso do professor e dos alunos – R$ 20 de cada para compra de lixas, tintas e primer [tinta especial].

Eles produzem mini-contêineres de garrafas plásticas vazias de Coca Cola [cujo encaixe é mais fácil] com aparência da pilha Duracel. “Para facilitar a coleta, colocamos um contêiner em cada sala, totalizando 92 pontos dentro da Uniron”, diz.

No final, todo material recolhido dos contêineres será levado para as bombonas dos pontos oficiais de coleta.

Na prática, os alunos cobram o funcionamento da logística reversa (**), pela qual o fabricante tem por obrigação trazer de volta o produto poluente, que por falta de coleta seletiva vai parar em lixões, poluindo o solo, rios, igarapés e águas subterrâneas.

Esse descuido motivou Guimarães a reunir entusiasticamente a turma no início do primeiro semestre, com a expectativa de irradiar o projeto de conscientização ambiental a alunos ligados à engenharia e posteriormente aos demais.

Guimarães foi superintendente estadual do Ibama em Rondônia [2008-2012] e no Amapá [2013-2015].

“Reciclar para um futuro melhor” – é o slogan na campanha de descontaminação que chegou aos campus I Mamoré, Campus II Três Marias e Unidade III Shopping.

O QUE PENSAM

“Aos que acham que é simples, faremos a diferença. A pilha no lixo doméstico volta pra nós de maneira nociva, através da água e do alimento, isso é ruim”.
– Alexandre Dias Campos, 20 anos, engenharia sanitária e ambiental.

“Em casa, ou na casa do amigo, funciona automaticamente: não jogue a pilha em qualquer lugar, porque o mundo não comporta esse nível de poluição; cada um pode fazer a sua parte”.

– Laíse dos Santos Ribeiro, 30, engenharia civil.

“As pessoas precisam conhecer mais o que lhes afeta; nós, alunos, praticamos um projeto sério que dignificará e promoverá nossa Faculdade”.

– Aline de Paula Campos, 19, engenharia ambiental.

“O metal pesado faz mal ao ser humano e aos animais, e nós estamos recolhendo, fazendo a nossa parte no dia a dia”.

– Welle Picagna de Souza, 20, engenharia ambiental e sanitária.

 “Não apenas devemos falar de meio ambiente, mas colocar em prática o que seria irreversível; nossa geração pode contribuir para a cultura diferenciada futuramente”.

– Lívia Leite Santos, 28, engenharia civil.

“Com esse projeto não salvaremos o mundo, mas certamente iremos impactar a consciência das pessoas em Porto Velho, recolhendo um enorme número de pilhas”.

– Francisco José Nascimento, Zezinho, 54, engenharia ambiental e sanitária.

(*) COMO SURGE A BIOMAGNIFICAÇÃO
• A substância química lançada sobre uma planta, a contamina. A planta é comida por animais herbívoros. Cada herbívoro come grande quantidade, e aí aumentam os níveis de concentração.
• O animal carnívoro come vários herbívoros, e assim os níveis dessa substância são maiores do que os existentes no herbívoro.
• O carnívoro é comido por outro carnívoro, que come vários animais dessa espécie, aumentando ainda mais os níveis dessa substância no seu organismo.
• O DDT é um tipo de inseticida usado para matar insetos. Quando inalado por outros animais não representa perigo, entretanto, devido à biomagnificação, o produto já foi proibido há décadas (Autor: Xanthis).
• Quando chegamos ao topo da cadeia alimentar, são tão elevados os níveis dessa substância até então aparentemente inofensiva para as plantas, que se tornam muito prejudiciais para a saúde, provocando mutações, cancros ou até a morte.

(**) LEI NÃO CUMPRIDA
• Sancionada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2 agosto de 2010 a Lei 12.305 de  prazo de quatro anos para a extinção dos lixões, não cumprido. Ela se fundamentou no princípio da responsabilidade compartilhada de produtores, consumidores e gestores na separação e coleta para reciclagem dos resíduos sólidos urbanos.
• Surgia a “logística reversa”, que obriga os fabricantes, distribuidores e vendedores a recolher embalagens usadas. A medida vale para materiais agrotóxicos, pilhas, baterias, pneus, óleos lubrificantes, lâmpadas e eletroeletrônicos.
• O Brasil tinha na época 2800 depósitos de lixo a céu aberto, conhecidos como lixões, segundo os dados do IBGE. Como esse prazo venceu em agosto de 2014 e os lixões continuaram operando normalmente, organizações ambientalistas, associações de experts em manejo de resíduos e órgãos da mídia passaram a responsabilizar as prefeituras pelo atraso na implementação.
• A decisão do Senado de prorrogar o prazo entre 2018 e 2021 para as prefeituras se adaptarem à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) provocaria “acomodação dos municípios”, criticava, em 2015, a coordenadora de Resíduos Sólidos do Instituto Pólis, Elisabeth Grimberg. Isso de fato ocorreu.

Galeria de Imagens

Gente de Opinião Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)