Sexta-feira, 18 de maio de 2018 - 13h55
BLOG DO PEDROWSKY
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Leio que a votação do chamado “Pacote do Veneno” que está sendo capitaneado pelo deputado Luiz Nishimori (PR do Paraná) acaba de ser adiada. Provavelmente para que a bancada ruralista use do seu prestígio para conseguir transformar para muito pior a já frágil legislação que controla a liberação e venda de agrotóxicos no Brasil.
Como venho estudando a questão dos agrotóxicos há pelo menos 15 anos vejo como muita preocupação a inércia de segmentos políticos que deveriam, independente do seu viés ideológico, ser mais atuantes para impedir o aprofundamento da tendência do Brasil de ser a latrina ambiental do planeta.
É que, acima de tudo, a indústria química já está preparando uma mudança mercadológica que irá aposentar os agrotóxicos das estratégias de manejo e controle que fazem parte do pacote tecnológico da chamada Revolução Verde.
Como sempre ocorre no sistema capitalista, essa aposentadoria se dará desde o centro até a periferia mais extrema. Não é à toa que a União Europeia já possui protocolos bastante restritivos em termos de quais agrotóxicos podem ser utilizados nos seus países membros.
A recente decisão de proibir a utilização de agrotóxicos neonicotinóides que vem exterminando as populações de abelhas e pássaros no continente europeu apenas reafirma uma tendência de remover essas substâncias da agricultura europeia.
O problema é que a evolução das estratégias no centro do Capitalismo
acaba gerando uma sobra de produtos que precisa ser despejada na
periferia até que eventualmente a eliminação seja total.
Nesse
quadro é que personagens que claramente representam os interesses do
latifúndio agroexportador apareçam para jogar um papel de suporte aos
interesses das corporações multinacionais que produzem esses venenos
agrícolas, sob a desculpa de beneficiar a agricultura brasileira. E esse
é exatamente o caso dos membros da bancada ruralista tendo a frente o
deputado Luiz Nishimori.
Quem se informar minimamente sobre a
posição do Brasil no mercado consumidor mundial de agrotóxicos verá que o
nosso país ocupa desde 2008 a insólita posição de campeão no consumo
dessas substâncias, ultrapassando até os EUA que por décadas foram os
líderes desse ranking macabro.
E aqui nenhuma surpresa, pois
também nos EUA o “faseamento” dos agrotóxicos está em curso, ainda que
num ritmo mais lento do que o dos países europeus.
O que a
maioria dos brasileiros não sabe é que hoje a imensa maioria da água
consumida no Brasil já contém traços de agrotóxicos, sendo componentes
cada vez mais significativos dos chamados “micro poluentes emergentes”.
Mas
afora ser o campeão mundial no consumo de agrotóxicos, o Brasil também
vem se tornando uma espécie de desaguadouro para produtos que já foram
banidos em outras partes do mundo e o destino de agrotóxicos
falsificados que, na verdade, são formulações químicas que são
transformadas em produtos comerciais sem que se saiba a sua composição e
origem de fabricação.
Em outras palavras, o caso dos
agrotóxicos no Brasil é mais um daqueles muitos exemplos de como o lucro
de poucos é colocado acima da segurança da imensa maioria.
A
dificuldade que encontramos é explicar com clareza para a maioria da
população que comer comida envenenada por todo tipo de substância
química é algo que não poderia ser aceitado de forma passiva.
Um
problema adicional é que nem sempre quem passa fome, ou tem dificuldade
de comprar comida por penúria financeira, está disposta a ouvir este
tipo de ponderação. E em meio a isso, espertalhões como o deputado Luiz
Nishimori acabam encontrando um campo aberto para aumentar ainda mais
seus lucros às custas da saúde da maioria e do extermínio da
biodiversidade.
No que pode ser uma forma de “justiça póetica”
que ninguém se surpreenda se daqui algum tempo, itens importantes da
pauta de exportações agrícolas brasileiras for banida do comércio
mundial, exatamente por conterem níveis inaceitáveis de agrotóxicos em
sua composição. É que uma das principais leis informais do Capitalismo é
que se um determinado país aceita ser transformado em latrina, seus
produtos acabam sendo rejeitados nos principais mercados.
O
problema é que até que isso aconteça, vamos ser envenenados de forma
totalmente descontrolada e, pior, sob o amparo da legislação proposta
por Luiz Nishimori e seus colegas da bancada ruralista.