Quarta-feira, 19 de junho de 2019 - 12h13
A implementação do manejo de
pirarucu (Arapaima gigas) na Amazônia resultou em projeto premiado pelo Prêmio
Rolex de Empreendedorismo de 2019, nos Estados Unidos.
O Instituto Mamirauá,
organização social fomentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações
e Comunicações (MCTIC), foi instituição pioneira ao implementar acordos de
pesca que possibilitaram a recuperação populacional da espécie na região do
Médio Solimões, na Amazônia Central.
O projeto é de autoria do
biólogo João Campos Silva, cuja pesquisa mostrou os resultados na conservação
da biodiversidade e qualidade de vida das populações ribeirinhas em áreas de
manejo.
Os premiados deverão receber
quantia em dinheiro para continuidade dos trabalhos. Os outros quatro
empreendedores são da França, Índia, Uganda e do Canadá.
Manejo do pirarucu: ferramenta
de conservação da biodiversidade
Foi durante os estudos de mestrado
no Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia (Inpa), onde o pesquisador
trabalhou em um programa de monitoramento da biodiversidade, que o pesquisador
teve contato com a temática do desenvolvimento sustentável.
“Percebi então que não é
possível pensar a conservação de forma isolada do componente humano e, nessa
época, conheci o manejo do pirarucu na região do Médio Solimões protagonizado
pelo Instituto Mamirauá e comunidades locais e me chamou muita atenção a
possibilidade de unir a proteção da biodiversidade alinhada à melhoria da
qualidade de vida das comunidades ribeirinhas”, conta.
Motivado por essa ideia, sua
pesquisa de doutorado buscou avaliar os benefícios sociais, ecológicos e
econômicos do manejo comunitário, com foco no pirarucu, que acabou sendo um dos
principais temas de sua tese.
Os resultados, explica o
biólogo, mostram que o manejo do pirarucu é um exemplo de sucesso da pesca
sustentável.
O plano funciona com períodos
de defeso da espécie – de 1º de dezembro a 31 de maio, época de cheia da várzea
amazônica. De 1999 a 2018, a população do pirarucu saltou de 2.507 a 190.523
espécimes na área abarcada pelo manejo na região do Médio Solimões. Os dados
são do Programa de Manejo de Pesca do Instituto Mamirauá.
O estudo mostrou também que
outras espécies são beneficiadas com a proteção das áreas: é o caso de
quelônios, jacarés e diversos peixes.
“Esses expressivos resultados
ecológicos já seriam suficientes para consagrar o manejo comunitário como uma
grande ferramenta de conservação”, avalia o pesquisador.
Mas não é só isso. O manejo
proporciona melhorias significativas na qualidade de vida das populações
ribeirinhas que vivem na região. A renda, além de beneficiar os manejadores,
pode ser utilizada coletivamente em reformas de áreas comuns das comunidades.
O protagonismo feminino na
pesca é outro fator destacável. “Vimos também que cada vez mais as mulheres
estão recebendo renda da pesca, coisa que não era comum”, afirma.
“Ninguém pensará no verde se
sua vida estiver mergulhada no vermelho”.
A pesquisa conclui que o
manejo de pirarucu mostra que as comunidades locais desempenham um papel
fundamental na manutenção das florestas e do bioma amazônico. O uso sustentável
dos recursos, defende o pesquisador, é a melhor forma de garantir a conservação
de todas as espécies. Inclusive da humana.
É como uma ‘via de mão dupla’.
“Ninguém pensará no verde se sua vida estiver mergulhada no vermelho. Ao
proteger o pirarucu, a segurança alimentar das comunidades é garantida, assim
como a renda e o amplo leque de benefícios sociais. Tudo isso combinado faz com
que as comunidades rurais se comprometam ao proteger os ambientes aquáticos, o
que garante também a recuperação do pirarucu”, diz.
O objetivo final do projeto
premiado é a elaboração de um modelo de conservação e desenvolvimento local
para além das unidades de conservação por onde passa o rio Juruá, as reservas
extrativistas Baixo Rio Juruá e Alto Rio Juruá.
“É um rio bastante
assimétrico. As comunidades que estão nas reservas possuem uma qualidade de
vida mais alta do que as que estão do lado de fora. A ideia é levar a
perspectiva da conservação para além dos limites das áreas protegidas para
promover uma transformação social que possibilite a melhoria da qualidade de
vida das comunidades desassistidas que se encontram fora das reservas”, diz.