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Carlos Sperança

A falta de água é contradição e ironia


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Contradição e ironia

Difícil definir se a falta de água para beber é na Amazônia uma contradição ou uma ironia. É uma contradição quando se considera que a região comporta a maior bacia hidrográfica do mundo, na qual faltar água não faz o mínimo sentido. A ironia ocorre por conta do incorrigível descuido com o planejamento.

A política de saneamento na região sempre foi uma de batata quente que não parava nas mãos de quem pegava. Ao ser criado, na ditadura do Estado Novo, o Plano de Saneamento da Amazônia mirava apenas a malária, cujo combate foi retardado pelos desentendimentos entre o médico Evandro Chagas, seu proponente, filho de Carlos Chagas, e os burocratas do regime.

Após a morte de Chagas, em 1940, a batata quente virou um batatal porque o saneamento não podia se limitar à malária: era fundamental melhorar as condições de vida e de saúde dos habitantes da Amazônia. Essas tarefas gigantescas, atribuídas ao comando centralizador da ditadura, foram retardadas pelo bate-cabeça dos burocratas. Tardiamente o governo percebeu o erro e transferiu responsabilidades aos estados, mas logo veio a II Guerra Mundial e o fim da ditadura, dando fim ao plano.

Desde lá, no forno das ditaduras e dos golpes, a batata quente, aquecendo ainda mais, secou. Se é nas dificuldades que o caráter se engrandece, as autoridades do país, estados e municípios têm uma oportunidade esplêndida para se engrandecer.

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A rodovia do Boi

Denominada agora, pelo governo do estado, como rodovia TransRondônia (... seria uma  homenagens as pessoas trans?), a rodovia do boi, no Cone Sul rondoniense beneficiando municípios como Corumbiara e Chupinguaia chega ao seu estágio final chamando atenção pela qualidade ( no padrão Ivo Cassol, o governador das estradas), com camada asfáltica generosa e bem fiscalizada por engenheiros e equipes técnicas do DER. Eu afirmo que fiscalizar obras com honestidade é algo raro em Rondônia e se isto está sendo feito de fato, meus parabéns a esfera estadual.

Que desgraceira!

Que zica em Rondônia. Ainda com muitos voos cancelados pelas empresas aéreas, a Estrada de Ferro Madeira Mamoré revitalizada que não deslancha para ser inaugurada para entrar em funcionamento e agora a construção do Hospital de Urgência e Emergência que foi para as cucuias e todo processo de licitação para ser refeito. A saúde em Rondônia que está um caos há muito tempo com muitas dificuldades em reagir. Não bastasse, o adiamento da ponte binacional, temos o cruel aumento do ICMS decretado pelo governo estadual atingindo o comércio varejista que vivencia tempos de crise. A gritaria é grande, de Vilhena a Porto Velho.

Falta fiscalização

Porque muitas obras são entregues pelas esferas municipais, estaduais e federais, com rachaduras, ou mesmo incompletas? Isto decorre da classe política que não fiscaliza, muitos políticos são amiguinhos das empreiteiras e com isto conjuntos habitacionais, creches, estradas, pontes, escolas se tornam esqueletos. As construtoras recebem os recursos e dão no pé com a cumplicidade dos gestores que foram eleitos para fiscalizar e combater a corrupção. Por isto se sabe quando as obras começam, mas nunca quando elas terminam em nosso estado e isto já vem de longe.

Aposta da esquerda

A aposta da esquerda e centro esquerda é que o bolsonarismo não será tão forte assim em Rondônia em 2024 como foi nas eleições anteriores. Eu concordo com esta teoria, mesmo porque a influência do mito será mais reduzida, com as seguidas condenações e a inelegibilidade de Jair Messias já firmada pelo supremo. No entanto, o conservadorismo segue forte e poderoso e isto tem sido uma tradição rondoniense desde os primórdios. Tanto é a verdade que boa parte dos governadores nomeados ou eleitos tem sido com tendência conservadora, casos Teixeirão, de José Bianco, Ivo Cassol (dois mandatos) e Marcos Rocha (dois mandatos).

Na centro-esquerda

Já pela esquerda e centro esquerda, Rondônia emplacou Jeronimo Santana (MDB), um ex-guerrilheiro do MR-8, depois Valdir Raupp (centro esquerda), e Confúcio Moura (centro esquerda). Os favoritos para o governo estadual em 2026 são bolsonaristas, casos do atual senador Jaime Bagatolli (PL) e do prefeito Hildon Chaves (União Brasil). No último caso, Hildon é um bolsonarista mais suavizado e já está com as malas prontas para se transferir para o PSDB, um partido também considerado conservador diante de suas posições antagônicas ao PT.

Via Direta

*** Na Amazônia o garimpo do ouro foi identificado como um segmento auxiliar do tráfico e drogas para o exterior e propulsor da lavagem de dinheiro *** Não é novidade, pois em Rondônia isto ocorre há pelo menos quatro décadas *** Por falar nisto, as dragas instaladas na região do Belmont foram todas Madeirão abaixo, em explosões provocadas pelo Ibama e Polícia Federal na semana passada *** Defensores dos garimpeiros afirmaram que houve exageros nas ações federais contra a categoria e muita gente ficará sem trabalho na região de Porto Velho *** Numa coisa, pelo menos, eles tem razão: com a explosão as dragas afundadas com maquinário vai também o mercúrio para contaminar as águas já tão poluídas do Rio Madeira.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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