Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Anísio Gorayeb

A FILA DA CARNE


Na minha época de infância as coisas não eram muito fartas por aqui. Faltava de tudo principalmente alguns alimentos e o principal deles era a carne bovina, que vinha de outras cidades.

O principal centro de compras de alimentos e estivas era o Mercado Municipal, onde é atualmente o Mercado Cultural. O outro local de compras era a Casa Damour, que era mais conhecida pelo nome de um de seus sócios o comerciante Tufic Matny. Podemos dizer que a Casa Damour era o nosso supermercado daquela época.
 

A FILA DA CARNE - Gente de Opinião

O movimento no mercado e próximo a ele era muito grande, pois nele se comprava de tudo: alimentos em geral, bebidas, couro, cigarros, charutos, fumo de rolo (tabaco), armamentos, couro, material para construção, material elétrico, ferramentas e etc.

Nesse tempo não havia as sacolas de plástico, as compras eram levadas em cestas de cipó. No início dos anos 60 meu pai mandou fazer uma dessas cestas para eu ir com ele ao mercado nos finais de semana. Claro, minha cesta era muito pequena e cabia pouca coisa, mas eu ficava muito feliz, afinal tinha uma cesta igual a do meu pai.

Outra curiosidade era os vendedores de saco, que eram conhecidos como “saqueiros”. Vendiam sacos grossos feitos de papel de cimento, muito usados para levar peixe ou carne. Esses vendedores eram famosos porque gritavam a manhã toda: “saqueeiro, saqueeiro...”

Morávamos na Rua Major Guapindaia (atual Rogério Weber) entre as ruas Duque de Caxias e Pinheiro Machado. Saíamos bem cedinho, antes de amanhecer. Íamos caminhando, afinal a cidade era muito pequena e se andava muito a pé. A última rua limite da cidade era a Rua Joaquim Nabuco.

Como narrei anteriormente, a carne vinha de outras cidades, ou nos aviões Búfalo da FAB (Força Aérea Brasileira) ou da Bolívia através dos trilhos da nossa lendária EFMM (Estrada de Ferro Madeira Mamoré). Carne de origem duvidosa, pois não havia controle nenhum, nada de vigilância sanitária e nem inspeção do SIF (Serviço de Inspeção Federal). Isso significa que somos verdadeiros sobreviventes.

Quando a população sabia que teria carne pra vender no Mercado Municipal, as pessoas se preparavam para enfrentar a fila da carne, afinal esse era o único local de venda desse produto e as pessoas estavam cansadas de comer peixe e ovo. Naquele tempo o pescado não era muito valorizado como hoje. As pessoas comiam mais por ser uma das poucas opções.

As pessoas iam ainda durante a madrugada e deixavam suas cestas na fila e voltavam pra casa para dormir mais um pouco. Quando o mercado abria bem cedinho, as pessoas chegavam e lá estavam suas cestas no mesmo lugar, as pessoas respeitavam a ordem de chegada das cestas e ninguém passava na frente dos outros.

O mercado que foi destruído por um incêndio em 1966, teve suas obras iniciadas na gestão do Superintendente Joaquim Augusto Tanajura em agosto de 1917 e só foi inaugurado na gestão do Prefeito Ruy Catanhede no dia 12 de junho de 1950. Uma obra que se arrastou por 33 longos anos. Isso nos leva a crer que obras longas em nossa capital são históricas.

A FILA DA CARNE - Gente de Opinião

O mercado tinha 32 boxes e sua edificação ocupava toda a quadra nas ruas: José de Alencar (leste), Renato Medeiros (norte), Presidente Dutra (oeste) e Henrique Dias (sul). Havia uma entrada em cada uma dessas ruas e os boxes tinham suas entradas independentes.

Na entrada da Rua Renato Medeiros, em frente da Praça Getúlio Vargas ficavam os “jipes de praça”, que posteriormente passaram a ser chamados de “carros de praça”. Jipes ou carros de praça, na verdade eram nossos taxis de antigamente.

Bons tempos, apesar das dificuldades...

Até a próxima semana.

ANÍSIO GORAYEB

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Anísio Gorayeb comunica que contraiu o Covid-19.

Anísio Gorayeb comunica que contraiu o Covid-19.

Olá meus amigos, infelizmente testei positivo para o Covid-19.Fiz o teste no dia 26/02 e recebi o resultado dia 01/03, as 11:30hs.Imediatamente comece

"DO FUNDO DO BAÚ" - INSTALAÇÃO DO TERRITÓRIO

"DO FUNDO DO BAÚ" - INSTALAÇÃO DO TERRITÓRIO

O Território Federal do Guaporé foi criado dia 13 de setembro de 1943, através do Decreto No. 5812, assinado pelo Presidente Getulio Vargas.O primeiro

"DO FUNDO DO BAÚ" - PRAÇA MARECHAL RONDON

"DO FUNDO DO BAÚ" - PRAÇA MARECHAL RONDON

Ao ver essa antiga foto da Praça Marechal Rondon, bateu aquela saudade da nossa antiga Porto Velho da década de 60.Nela, podemos ver ao fundo a constr

Adeus Marcelo Bennesby

Adeus Marcelo Bennesby

Infelizmente nosso querido amigo, colega de trabalhos na Rede TV Rondônia e grande profissional, Marcelo Bennesby, faleceu na madrugada dessa segunda-

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)