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Anísio Gorayeb

AEROPORTO DO CAIARÍ



Nos anos 60 só havia duas maneiras de viajar de Porto Velho para outros estados: de avião ou de navio. Se optasse por uma viagem através do Rio Madeira, poderíamos escolher um dos três grandes navios que aportavam em nossa cidade: o Presidente Vargas, Leopoldo Peres ou Lobo Dalmada.

Se fôssemos viajar de avião, poderíamos escolher uma das companhias aéreas que tínhamos na época: Panair, que tinha como gerente o Sr. Albertino Lopes, Cruzeiro do Sul, que não me recordo quem gerenciava, e a Paraense que era gerenciada pelo Sr. Abelardo Castro. Além destas empresas aéreas citadas acima, esporadicamente pousava no Aeroporto do Caiarí, aviões do Loyd Aéreo Boliviano.

Os maiores aviões que pousavam por aqui eram os Búfalos da FAB – Força Aérea Brasileira, que sempre traziam alimentos para abastecer a população da cidade que era muito carente. Porém quem causava o maior sucesso eram as Catalinas, também da FAB, que pousavam no Rio Madeira, causando um verdadeiro espetáculo. Foi de Catalina que o Presidente Getulio Vargas veio a Porto Velho em 1943. 

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Aeroporto do Caiarí na Avenida Farquar, nos anos 60. No local existe hoje um conjunto residencial da aeronáutica. Fonte: Ivo Feitosa



Como todos sabem, toda criança tem verdadeiro fascínio pela aviação, e comigo não foi diferente. Posso dizer que fui um privilegiado neste sentido, visto que, passei toda minha infância no Bairro Caiarí, morando na Rua Major Guapindaia, próximo ao aeroporto. Minha antiga rua mudou de nome, hoje se chama Avenida Rogério Weber.

O aeroporto tinha apenas uma pequena cerca de arames, evitando a entrada de pessoas e animais na pista. Porém isso não era problema pra nós, que aproveitamos aquela grande área para inventar algumas brincadeiras como: caçar bacurau, “pegar vento”, colher algumas frutas como goiaba e araçá, além de outras brincadeiras. 

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Cruzamento das ruas Farquar e Pinheiro Machado, onde se vê as casas do Caiarí, a Praça Aluízio Ferreira, as escolas Carmela Dutra e Duque de Caxias, o estádio de futebol, o Senai, e também o aeroporto e parte da pista de cascalho. Fonte: Paulo Saldanha



Para caçar bacurau (sempre à noite), era necessário apenas uma lanterna e uma vara. Com o foco da lanterna, o pássaro ficava encadeado, e totalmente imóvel, tornado-se assim, uma presa fácil. Enquanto um dos amigos usava a lanterna, o outro usa a vara para atingir a pobre ave, totalmente indefesa.

A outra brincadeira era mais arriscada, pois “pegar vento”, consiste no seguinte: os aviões da época, DC-3, possuíam hélices, portanto quando iam decolar, vinham aquecer seus motores na cabeceira da pista, próximo a Pinheiro Machado, pois por medida de segurança as aeronaves decolavam sempre no sentido sul-norte, pois não havia residências na outra extremidade da pista. Enquanto o avião aquecia os motores ficávamos agachados atrás da aeronave pegando o vento produzido por suas hélices. Tinha um outro detalhe, quando o comandante começava a decolagem e os motores aceleravam com mais potencia, além de vento recebíamos também algumas pedras de cascalho, e por isso era necessário proteger os olhos.

No final da pista havia um pequeno córrego, conhecido como igarapé das Pedrinhas. Para se chegar até lá era necessário percorrer toda extensão da pista. Alguns iam de bicicleta, outros caminhando, porém os que caminhavam não se importavam muito, pois o banho de igarapé valia a pena. Por essa razão o bairro que surgiu nas redondezas foi batizado com o nome de Pedrinhas.

É importante salienta que na área do antigo Aeroporto do Caiarí, estão hoje: o Ginásio Cláudio Coutinho, o complexo esportivo Deroche Pequeno Franco, residências da aeronáutica, Tribunal de Justiça, Sesc, Senac, Esplanadas da Secretarias, obras da Procuradoria Geral da União, obras do Teatro Estadual e o espaço da Flor do Maracujá. 

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Parte interna do aeroporto, onde podemos observar dois aviões DC-3 e dois pequenos monomotores, conhecidos como “teco-teco”. Fonte: Paulo Saldanha



Havia uma curiosidade que gostaria de relatar aos amigos. O aeroporto do Caiarí não tinha iluminação para funcionar à noite. Porém algumas vezes apareciam aviões que precisavam pousar de noite. Para que isso fosse possível, a Radio Caiarí, ficava convocando as pessoas que tinham carro, para se dirigirem ao aeroporto, para iluminar a pista, auxiliando no pouso daquela aeronave. Enquanto isso a mesma ficava sobrevoando a cidade aguardando a iluminação da pista. As pessoas, é claro, atendiam o chamado imediatamente.

No ano de 1969 foi inaugurado o aeroporto Belmont, com uma grande novidade. Os turbo hélices conhecidos como YS-11 e posteriormente os Samurais. Porém o aeroporto do Caiarí continuou funcionando por pouco tempo, apenas para aviões pequenos. Hoje, 40 anos após sua inauguração, temos o confortável Aeroporto Internacional Jorge Teixeira, muito diferente das modestas instalações do antigo Aeroporto do Caiarí... Sinal dos novos tempos... é o progresso chegando a nossa capital.

Feliz Natal...
Fiquem todos com Deus, que é sempre a melhor companhia...
Até a próxima.

ANISIO GORAYEB

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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