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Anísio Gorayeb

BRASIL, RESKY E LACERDA


 
ANISIO GORAYEB

Estes eram nossos antigos cinemas, Cine Brasil, Cine Teatro Resky e Cine Lacerda. Infelizmente hoje não temos mais nenhum deles. Destes três, apenas o Cine Teatro Resky ainda preserva as mesmas características na sua fachada. Tudo começou com o grande patriarca da família Resky, o libanês George João Resky que chegou por estas terras em 1909, mais precisamente em Santo Antonio, uma pequena vila que originou a cidade de Porto Velho.

Ao contrario do que muitos pensam, o primeiro cinema de Porto Velho foi o Cine Brasil e não o Resky. O cinema inaugurou em 25 de dezembro de 1938, com 338 lugares. No ano de 1947, George Resky, fascinado com sucesso do primeiro cinema, iniciou as obras daquele que foi considerado seu grande feito, o Cine Teatro Resky. O cinema foi inaugurado em 17 de junho de 1950, pelo então governante do Território Joaquim Araújo Lima. O cinema inaugurou com o dobro da capacidade do anterior, com acomodações para 776 espectadores.

George Resky faleceu em 1963, deixando a administração dos cinemas e de outros estabelecimentos comerciais sob a responsabilidade dos filhos: Lula, Carolina, Menta, Antonio, João e Sebastião. Destes somente Carolina e Antonio ainda estão vivos. Ela com 92 anos residindo em Manaus e ele em Porto Velho, atualmente com 85 anos.

No ano de 1952 surge o terceiro cinema da cidade. Antonio Alves Lacerda inaugura o Cine Avenida, localizado na sete de setembro, onde é hoje o Banco Real. O Seu Lacerda como era conhecido, tinha um sonho. Possuir o maior cinema da cidade. Portanto no começo dos anos 60 iniciou as obras do gigantesco Cine Lacerda, pois o Cine Avenida tinha apenas 300 lugares. O Cine Lacerda iniciou suas atividades sem estar concluído. Suas paredes estavam levantadas, mais havia um pequeno detalhe, não havia cobertura. Os filmes eram exibidos ao ar livre, contemplando-se as estrelas e ao mesmo tempo rezando para não chover.

Além disso, não havia poltronas no cinema. Os clientes se acomodavam em bancos corridos feitos de madeira, sem encosto, tipo banco de igreja e tinha lugar para 2000 pessoas. A tela também não era muito apropriada, os filmes eram exibidos em um tecido branco esticado. As pessoas que não tinham condições de comprar o ingresso subiam à ladeira em frente ao cinema e ficavam próximas ao Colégio Maria Auxiliadora, pois assim conseguiam avistar a tela, e assim assistir aos filmes mesmo sem som. Em 1969 o cinema foi concluído, as poltronas foram instaladas e o cinema ficou com 1230 lugares.

No auge da concorrência entre os filmes apresentados nos cinemas nos anos 60, lembro-me da preferência do Cine Lacerda por filmes épicos. Os mais famosos eram: “Sansão e Dalila”, “Hercules”, “Cleópatra”, “El Cid”, “Os Dez Mandamentos” e muitos outros. Estes filmes eram considerados super produções dos estúdios de Holyood, com atores famosos como Burt Lancaster, Charlton Heston, Elizabeth Taylor e muitos mais. Todos estes filmes eram de longa duração, porém o cinema não apresentava nenhum conforto. Pelo contrario, era muito desconfortável.

BRASIL, RESKY E LACERDA  - Gente de Opinião

O imponente Cine Teatro Resky inaugurado em 1950 (Fonte: Ivo Feitosa)

    
Já os cines Brasil e Resky, tinham preferência por outros estilos, a sensação na época eram os filmes de bang-bang. Os americanos mais famosos eram: John Wayne, Henry Fonda, Clint Eastwood e Jack Palance. Em 1965 surgiu o grande sucesso do bang-bang italiano. Giuliano Gemma era o mocinho do filme “O dólar furado”. Logo depois, surgiram outras produções do mesmo gênero como “Uma pistola para Ringo”, “D’jango”, “Meu nome é Pecos”, “Trinity” além de muitos outros.

Muitas comédias brasileiras também eram exibidas, as famosas chanchadas produzidas pelos estúdios da Atlântida. Os atores brasileiros de maior sucesso eram: Grande Otelo, Anselmo Duarte, Geraldo Del Rey, Zé Trindade, Oscarito, além das atrizes, Dercy Gonçalves, Renata Fronzi, Neide Aparecida e outras. O primeiro filme do Roberto Carlos também fez muito sucesso, que não se lembra do famoso “Roberto Carlos em ritmo de aventura”. Havia os clássicos românticos como “Dio come ti amo”, “Candelabro Italiano”, “A Noviça Rebelde”, “Doutor Jivago”, “A Noiva” e muitos outros.

Mesmo havendo concorrência entre os cinemas, a verdade é que durante a semana santa havia uma verdadeira trégua. Os três cinemas exibiam o mesmo filme: “A paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Todos os anos era o mesmo filme.

As famílias Resky e Lacerda preservam seus patrimônios até hoje. Waldiney, filho de João Resky, administra os imóveis da família, que estão todos alugados. O Cine Brasil ficava na Avenida sete de setembro, hoje é uma loja de eletrodoméstico. O Cine Resky na Rua Natanael de Abuquerque, na Praça Marechal Rondon está alugado para uma Igreja evangélica. Já no local do Cine Lacerda, na Avenida 7 de setembro funciona hoje a Galeria Lacerda e é administrada pelos filhos. 

Francisco Lacerda, um do filhos, continua no mesmo ramo do pai até hoje, possui dois cinemas em Porto Velho. O Cine Veneza, na Joaquim Nabuco e o Cine Rio, no Rio Shopping.

Agradeço imensamente meu amigo Waldiney Resky e também ao amigo e contemporâneo de escola Edmilson Lacerda, pelas preciosas informações. Quero registrar que durante minha infância e adolescência freqüentei muito os nossos cinemas. Ficávamos ansiosos aguardando os fins de semana para assistir novos filmes e aproveitávamos a oportunidade para trocar gibis com os amigos. Muito obrigado às famílias Resky e Lacerda, por terem proporcionado ao povo de Porto Velho conhecer o maravilhoso mundo cinematográfico.

Que Deus nos abençoe...

Até a próxima... 

 

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