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Gente de Opinião

Anísio Gorayeb

'DAMAS DA NOITE'



Hoje vamos relembrar nossa Porto Velho da época dos seringais de borracha e da extração de minério de ferro, a cassiterita. Ambos representavam a economia do Território Federal de Rondônia.

A cidade não apresentava muitas opções de lazer. Os clubes sociais da época eram: Bancrévea, Ypiranga, Imperial e Danúbio. Estes clubes eram freqüentados pela sociedade de Porto Velho, sendo o Bancrévea, o mais elitizado entre eles.

Porém quando os homens queriam companhia diferente, ou seja, dar suas famosas escapadas, podiam escolher uma das três boates de garotas de programa: Anita, Tartaruga ou Maria Eunice.

Sem desmerecer as demais, a verdade é que a Maria Eunice era a melhor de todas. Era freqüentada pelos importantes da época. Lá estavam às garotas mais bonitas, quase todas vindas de outras cidades, e conseqüentemente as mais caras. Pois a casa estava pronta a satisfazer o mais exigente cliente.

Na boate, havia um grande salão com pouca luz, quase uma penumbra, para dar o clima de sedução e mistério. Sempre ao som dos grandes artistas do momento: Altemar Dutra, Waldick Soriano, Agnaldo Timóteo, Claudia Barroso, Ângela Maria e etc. A Maria Eunice, é claro conferia todos os detalhes...

Por volta das 21:00 horas as garotas vinham para o salão, onde eram aguardadas por generosos clientes. Seringalistas, comerciantes, profissionais liberais, funcionários públicos, bancários, jornalistas, políticos e muitos outros. Todos muito elegantes, alguns ainda usavam as tradicionais roupas de linho engomado, os mais modernos já usavam calças de tergal, porém todos com os sapatos engraxados e sempre com solado de couro para deslizar melhor no chão encerado. Afinal dançava-se muito.

As garotas caprichavam na produção, usavam penteados com bastante laquê (um tipo de fixador), evitando assim que se desarrumassem pelo ventilador de teto. Usavam perfumes famosos como Toque de amor, Topázio e Charisma. Todos da marca Avon, que era a mais famosa. Quanto aos homens, também caprichavam no visual, usavam brilhantina Gumex para conservar os cabelos sempre arrumados, perfumavam-se com Lancaster, que fazia muito sucesso, porém muito forte. Outros usavam uma fragrância da Phebo mais suave chamada Pinho Silvestre.

Bebidas sempre de primeira qualidade e com muitas variedades. Os mais exigentes bebiam whisque Cavalo Branco, que era o mais caro. Sua embalagem vinha com uma bolinha plástica no conta gotas da garrafa para emitir o som de um chocalho quando a bebida era servida. As meninas bebiam Cinzano ou Martine, sempre servido com uma azeitona no fundo da taça, não havia cereja naquele tempo.

A casa tinha acomodações para atender seus clientes no próprio local, havia aproximadamente seis quartos para os encontros mais íntimos, os demais hospedavam as garotas oriundas de outras cidades. Todos feitos de madeira, colados lado a lado, o que permitia se ouvir tudo que acontecia ao lado. Nestes quartos não havia banheiro. Para a higiene, os clientes recebiam uma toalha e um pedaço de sabonete, pois no quarto havia um balde com água e uma bacia, evitando assim que se despejasse a água no chão. Ainda assim, como relatei anteriormente, esta era a casa mais bem freqüentada na época, este procedimento ocorria também nas outras boates, pois estou me referindo ao final do anos 60. Época de uma Porto Velho pacata, com poucos carros, sem asfalto, sem violência, onde todo mundo se conhecia...

Ainda hoje a boate funciona, somente no período da tarde. Suas instalações ainda são as mesmas, salão, quarto, etc. Porém muito diferente, pois não existe mais aquele glamour dos anos dourados. O imóvel pertence ao único herdeiro da Maria Eunice, seu filho Lúcio, meu amigo de adolescência.

Tive permissão do mesmo para escrever sobre sua mãe, o que procurei fazer dentro do maior respeito possível, descrevendo a boate sem usar de vulgaridade, e com a maior lisura, evitando citar nomes dos freqüentadores. Dona Maria Eunice teve muitos méritos como mãe, pois com muito esforço conseguiu formar o filho em direito. Agradeço muito ao amigo Lúcio, que por sinal não vejo há muito tempo. Aproveito para registrar algumas informações: 

'DAMAS DA NOITE' - Gente de Opinião

Maria Eunice aos 40 anos



Maria Eunice da Silva nasceu em 16 de agosto de 1920, faleceu aos 80 anos em 29 de novembro de 2000. Teve três filhos, dois já falecidos, Vera Lucia com nove meses e José Maria aos 49 anos. Antonio Lúcio Ribeiro, seu único herdeiro, tem 56 anos, é advogado, casado com Sandra Mara de 55 anos e residem no Rio de Janeiro. Dessa união nasceram dois filhos, Junior em 1981 e Luana em 1983, ambos com graduação superior. Os amigos Lúcio e Sandra já são avós. Junior, o filho mais velho casou e nasceu a primeira neta Yasmin, atualmente com oito meses. Parabéns... 

Mais uma vez agradeço ao Lúcio, pelas preciosas informações e pela foto de sua mãe. Muito obrigado amigo... 

Fiquem todos com Deus que é sempre a melhor companhia... 

Até a próxima... 

ANÍSIO GORAYEB

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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