Sexta-feira, 31 de julho de 2015 - 05h11
Autoridades embarcando para a viagem inaugural da EFMM (01/08/1912), e ao lado um vagão passando sobre a ponte de Jacy-Paraná. (Foto: Danna Merryl)
No dia 1º de agosto a Estrada de Ferro Madeira Mamoré completa 103 anos de inauguração. Esta monumental obra que teve início em 1907, ainda hoje tem uma historia repleta de lendas e mistérios, o que é perfeitamente compreensível, pois essa obra foi uma verdadeira epopéia. Concluída no dia 30 de abril de 1912, só foi inaugurada oficialmente dia 1º de agosto de 1912.
O sonho de se construir uma ferrovia contornando o trecho encachoeirado do Rio Madeira, surgiu em 1870, na época do Brasil Império, quando Dom Pedro II concedeu a concessão para construir a primeira ferrovia da região ao coronel norte americano George Earl Churc.
Cel. Churc iniciou a construção em 1872, mas não foi bem sucedido, muitas mortes além de pouco estrutura disponível, o fizeram abandonar a obra.
Seis anos depois, em 1878, veio a segunda tentativa, desta vez a cargo da construtora americana P & T Collins, pertencente aos irmãos Phillips e Thomas Collins. Construíram apenas 7 km de ferrovia e também abandonaram as obras. Alguns trabalhadores da P & T Collins tiveram que mendigar esmolas em Belém para voltar ao seu país de origem.
Somente após o Tratado de Petrópolis, celebrado entre o Brasil e Bolívia em 1903, esse sonho passa a se concretizar. Esse tratado foi celebrado na cidade de Petrópolis, quando a capital do Brasil era o Rio de Janeiro. Nesse tratado, o Brasil se comprometia a construir uma ferrovia, ultrapassando o trecho encachoeirado do Rio Madeira, e em troca o Brasil receberia as terras que hoje compõe o Estado do Acre. Estas terras pertenciam a Bolívia.
A Bolívia precisava chegar ao oceano para escoar sua produção de borracha, a única riqueza da região. Essa era a forma mais viável que eles tinham de chegar ao Oceano Atlântico. Para isso bastava ultrapassar o trecho encachoeirado através da ferrovia até Porto Velho e depois navegariam até o oceano, passando pelas cidades de Manaus e Belém.
Na época, a EFMM foi uma das maiores e mais difíceis obras do mundo. Tanto que o magnata Percival Farquar foi considerado louco quando disse que venceria o desafio de se construir uma ferrovia em plena selva amazônica. Afinal já haviam tentado construí-la duas vezes e haviam fracassado.
As dificuldades eram muitas. Podíamos dizer que essa região era considerada como o “fim do mundo”. Uma terra cheia de adversidades, totalmente desconhecida, cujo único meio de acesso era através do Rio Madeira. O único povoado que existia era uma pequena vila chamada Santo Antonio, e pertencia ao Mato Grosso.
Farquar requisitou trabalhadores em 25 portos espalhados pelo mundo. Essa grandiosa obra contratou durante cinco anos (1907/1912) mais de 20.000 trabalhadores, oriundos de 52 países diferentes.
Mais de 6.000 trabalhadores morreram durante as construções. São heróis anônimos que iniciaram a construção desse grande e pujante Estrado de Rondônia.
Uma terra cheia de mistérios e totalmente desconhecidas, com doenças tropicais, que o mundo desconhecia: malaria, febre amarela, impaludismo, “bere-bere” e outras. Como se não bastasse uma natureza selvagem com índios, cobras, onças, jacarés, etc.
Para conter o número de óbitos por essas doenças, foi construído o primeiro hospital de doenças tropicais do mundo, o Hospital da Candelária. Em 1910, Percival Farquar solicitou que o médico sanitarista Osvaldo Cruz viesse a Porto Velho para conhecer e orientar aos médicos em busca de uma solução para reduzir os óbitos. Após 20 dias na região, Osvaldo Cruz, fez um rol de recomendações, o que diminuiu consideravelmente o número de mortes.
Com a construção da Madeira Mamoré surgiu a cidade de Porto Velho que foi elevada a categoria de município do Estado do Amazonas em 02 de outubro de 1914. Em 13 de setembro de 1943 foi criado o Território Federal do Guaporé, e em 17 de fevereiro de 1956, esse território passa a chamar-se Território Federal de Rondônia. No dia 22 de dezembro de 1981finalmente foi criado o Estado de Rondônia.
A EFMM foi nacionalizada em 10 de julho de 1931, quando o Presidente Getúlio Vargas, nomeia através do Decreto 20.200, o primeiro diretor brasileiro da ferrovia, o Capitão Aluizio Pinheiro Ferreira.
A Estrada de Ferro Madeira Mamoré foi desativada após 60 anos de glorias. Os trens da lendária ferrovia apitaram pela última vez dia 10 de julho de 1972... Muitas lágrimas, muitas saudades... A ferrovia se despedia da população.
A Estrada de Ferro Madeira Mamoré representa o marco da colonização na região.
Não é exagero dizer que a Estrada de Ferro Madeira Mamoré é a “mãe” do Estado de Rondônia... Através dela surgiu a cidade de Porto Velho, o Território e finalmente o Estado de Rondônia.
Parabéns à Estrada de Ferro Madeira Mamoré pelos 103 anos de inauguração.
ANÍSIO GORAYEB
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