NOSSO BOÊMIO SUBIU...

Em maio de 2010 fui recebido por Walter Bartolo em sua residência para gravar meu quadro “Historias da Nossa Terra” para o programa Viva Porto Velho (VÍDEO AQUI). (Fonte: Programa Viva Porto Velho)

Porto velho amanheceu mais triste na última quinta feira, dia 22 de novembro. Nosso maior boêmio de todos os tempos, o querido Walter Bartolo nos deixou.  Por coincidência exatamente no dia da criação do município de Ji-paraná, do qual Walter foi seu primeiro prefeito. Ele foi também o último administrador do distrito de Vila de Rondônia, antes de se tornar o município de Ji-paraná. Como se isso não bastasse, Walter compôs também o hino de Ji-paraná.

Filho de Porto Velho, Walter foi registrado como nascido em 3 de julho de 1927, mas segundo ele mesmo, nasceu dois anos antes. Portanto oficialmente tinha 85 anos, mas viveu, e como viveu, por 87 anos.

Era o filho mais velho do casal Joaquim e Labibe Bartolo, esta atualmente com 103 anos é a moradora mais antiga da cidade de Porto Velho. O casal teve seis filhos: Walter, Joaquim, Rodolfo, Nilce, Raquel e Fátima. Agora, somente dois desses filhos estão entre nós, Joaquim e Rodolfo (meu padrinho de crisma).

 

Capa original do LP Walter Bartolo (o desconhecido), gravado em São Paulo no ano de 1963. Todas as 12 músicas são de sua autoria. (Fonte: Google)

Walter foi o primeiro filho da região a gravar um disco LP em 1963, na época do vinil. O disco se chamava Walter Bartolo (o desconhecido), e todas as músicas são de sua autoria. Na capa do seu LP, há 50 anos Walter fez uma homenagem à procissão do Divino Espírito Santo no Vale do Guaporé, de onde era um respeitado membro da Irmandade.

Prestou relevantes serviços ao antigo território e ao estado. No início dos anos 70 implantou a CAERD no município de Guajará Mirim, da qual foi seu primeiro diretor naquele município.

Iniciou na política atendendo a convite de seu amigo, Governador Jorge Teixeira. Foi deputado estadual constituinte, secretário de estado da agricultura, presidente da ENARO, além de muitos outros cargos. Sempre com uma conduta ética e ilibada. Jamais se envolveu em corrupção ou qualquer tipo de escândalo. Nunca deixou que os cargos lhe “subissem a cabeça”. Walter não tinha inimigo e tratava a todos carinhosamente de “maninho”.

Na década de 70, antes de se mudar para a antiga Vila de Rondônia, inaugurou um bar muito famoso na Rua Bolívia esquina com a Rua Marechal Deodoro, o Seresteiro. Esse local era considerado como o encontro dos boêmios... Afinal seu proprietário era o maior boêmio de todos e sempre dava uma “canja” a seus clientes. Em qualquer lugar que Walter chagasse, bastava um violão pra festa começar...

Nossas famílias sempre foram muito próximas, éramos vizinhos no Bairro Caiarí, no tempo em que chamávamos os amigos de nossos pais de tio. Lembro como se fosse hoje, que a primeira vez que andei de carro, num jipe sem capota e sem portas, foi com o “tio” Walter dirigindo em um jipe modelo “cara alta” em1960.

Em maio de 2010 tive a oportunidade de entrevistá-lo para o meu quadro “Historias da Nossa Terra” para o programa Viva Porto Velho, onde ele por várias vezes se refere a mim como “meu querido sobrinho”. Na época, Walter já enfrentava problemas de saúde, que o fizera perder a visão.

Nosso estado precisa cuidar melhor da nossa historia e de seus personagens. Esses bem feitores devem ser valorizados ainda vivos. Depois que se vão, é tarde...

Walter Bartolo foi nosso maior e mais famoso boêmio...

Ou vocês conhecem algum outro boêmio da terra que tenha tocado e cantado em Buenos Aires na Casa Rosada para Evita Peron?

Descanse em paz meu querido “tio”.

Até a próxima semana.

ANÍSIO GORAYEB