PRODUTOS IMPORTADOS

Porto Velho dos anos 60 tinha muitas curiosidades, dentre elas recordo muito bem de um pacato senhor que morava nos altos do antigo Café Santos no centro da cidade. Estou me referindo ao Sr. Ibrahim, um judeu de idade avançada, já naquela época. Ibrahim era funcionário da Receita Federal e chegou por essas bandas nos início dos anos 60, escolhendo nossa cidade para ser sua última morada.

O certo é que, alem da sua atividade como funcionário público, o mesmo ficou muito conhecido na época por vender produtos importados, atendendo a elite da população com muitas novidades, até então algumas delas desconhecidas da população. Podemos cita-lo como a “zona franca” de Porto Velho. 

Todos sabiam que o Ibrahim vendia esses produtos, porém não era incomodado por ninguém. As autoridades faziam vista grossa, até porque as próprias autoridades compravam. O mesmo estava estabelecido em seu apartamento, nos autos do Café Santos, como relatei anteriormente. Se tivessem intenção de autua-lo seria muito fácil, bastava entrar em seu apartamento que toda a mercadoria estava exposta.   
 

Além de vender produtos importados sem autorização, sem nota, sem procedência, sem garantia e outras coisas mais, Ibrahim gostava muito de jogo, amanhecia em grandes mesas de pôquer. Na verdade a cidade não dava muita opção aos mais velhos, e com isso, muitos tinham como vício a jogatina e é claro, sempre regada com bom uísque escocês fornecido pelo Ibrahim.

As grandes mesas iniciavam sempre no Café Santos e depois continuavam em algumas residências, entre elas a dos meus pais. O Café Santos foi por muito tempo o local de encontro da cidade de Porto Velho. Hoje no local funciona uma farmácia, na esquina da Rua Sete de Setembro com a Rua Prudente de Moraes.       

A bem da verdade, Ibrahim foi o maior e melhor vendedor que conheci. Muito gentil, educado, um homem fino e de muito bom gosto. Atendia aos mais exigentes clientes, pois sempre tinha novidades e seus produtos eram sempre de primeira qualidade. 

Lembro-me que foi no Sr. Ibrahim que meu pai comprou minha primeira calça jeans da marca LEE, a famosa calça americana. Fazíamos questão de deixar à mostra a etiqueta de couro que trazia estampado a marca da calça.

As madames da sociedade compravam as sofisticadas sedas japonesas, além de outros tecidos, maquiagem, os estampados lenços de cabelo e muitos perfumes, dentre eles o “Bond Street”, “Fleur de Rocaille” e “Cabochard” que era o preferido.

Já os rapazes, além dos jeans, procuravam relógios de pulso da marca “Seiko” e o perfume masculino que fazia sucesso, o “Vitess”. Havia outras novidades como: radinhos de pilha de vários modelos, rádios para carro, despertadores, todos os tipos de relógios, além de uma grande variedade de uísques.      

O que fazia também muito sucesso eram as vitrolas portáteis da marca Belair. Elas eram de plástico colorido nas cores: azul, amarelo ou vermelho. Funcionava a pilha e podíamos leva-las para qualquer lugar.       

Infelizmente não conseguimos muitos detalhes, nem fotos do Ibrahim. Ninguém sabe informar se o mesmo tem algum herdeiro ou parente aqui em Porto Velho. Sabe-se apenas que o mesmo chegou por aqui nos anos 60 e aqui mesmo faleceu nos anos 70. Sua marca era um anel com um enorme diamante que o mesmo usava. Detalhe: após sua morte o anel sumiu, e até hoje não se sabe como.

Grande Ibrahim...       
 

Até a próxima semana.        

ANÍSIO GORAYEB