Atendendo a convite do amigo, Viriato Moura, estivemos no “Programa Viva Porto Velho”, no final de dezembro. Além de conceituado médico ortopedista, Viriato é também escritor e apresentador. Durante as gravações do programa, fui gentilmente presenteado com sua mais recente obra literária, seu livro “Sabor do Amanhecer”. Uma verdadeira viagem ao passado da nossa cidade, vale a pena conferir.
Em um dos capítulos, Viriato relembra alguns personagens da nossa historia que não estão mais entre nós, como: Zé Quirino, Morcego, Cachimbão, Pacácio, Macaco e alguns outros.
Imediatamente, lembrei de um personagem que ficou muito conhecido na época da Jovem Guarda o nosso Rei Roberto Carlos “Piu-Piu”.
Tudo começou quando Welinton, recém chegado de Goiás, foi trabalhar como carregador em um depósito de material de construção pertencente aos sócios Emil Gorayeb e Sebastião Lapa, situado na Rua Duque de Caxias, entre Tenreiro Aranha e Campos Sales. Welinton trabalhava carregando telhas, tijolo, cimento, madeira e outras coisas.
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Cartaz do filme “Roberto Carlos em ritmo de aventura’ lançado em 1968”.
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No final dos anos 60, no auge da carreira, Roberto Carlos lança o filme “Roberto Carlos em ritmo de aventura”. Um estrondoso sucesso...
As revistas mais famosas que chegavam por aqui, por sinal com bastante atraso, eram: O Cruzeiro, Manchete e Fatos & Fotos. Todas deram bastante destaque ao primeiro filme do ídolo da juventude.
Ao folhear uma dessas revistas, Welinton, perguntou ao Lapa, quem era aquele cara. Teve como resposta, que se tratava do grande artista da Jovem Guarda, Roberto Carlos. Welinton ficou pensativo por uns segundos, e retrucou:
- Eu é que sou o Roberto Carlos de verdade.
A gargalhada foi geral, porém, Welinton repetiu a mesma coisa, tentando ser mais convincente. Lapa então achou que podia levar aquilo mais adiante, e pediu que cantasse alguma coisa. Nosso Roberto Carlos soltou a voz... Cantou uma musica inventada na hora. Todos riram muito, pois Welinton tem problemas de dicção.
Resolveram então alimentar aquele sonho. Lapa procurou o Mario, um alfaiate muito conhecido na época, para confeccionar as roupas do nosso Roberto Carlos, idênticas as que o verdadeiro usava nas revistas. Pronto, nascia assim o Roberto Carlos Piu-Piu. Além das roupas, compraram também todos os tipos de acessórios: anéis, cordões, cintos, óculos, sapatos, botas e outros apetrechos.
Nosso artista então passou a se tornar uma figura muito carismática, visto que nunca fez mal ninguém, é do bem, e sempre trabalhou. Podia ser artista nos momentos de folga, porem trabalhava a semana toda.
Todos os shows realizados em Porto Velho tinham como atração inicial o Roberto Carlos “Piu-Piu”. Sempre cantou de improviso, porém nunca se entendia a letra das musicas. As pessoas alimentavam aquele sonho e o aplaudiam. Com isso, ficava cada vez mais convencido que ele era o verdadeiro Roberto Carlos, chegando a dizer que o outro é que o imitava. Dizia também ter uma dúzia de namoradas e milhares de fãs espalhadas pelo Brasil
Sendo assim, não quis mais ser chamado pelo verdadeiro nome. Ficava irritado quando alguém o chamava de Welinton. Até hoje é conhecido pelo nome artístico, poucas pessoas sabem seu nome de batismo. O nome “piu-piu” nasceu em decorrência de uma musica, na qual o mesmo narrava que ao ligar para a namorada, o telefone estava ocupado e fazia “piu, piu, piu...”.
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Roberto Carlos “Piu-Piu” no auge do sucesso em 1971.
(Fonte: Arquivo/Família)
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Durante o auge de sua carreira nosso ídolo teve apenas um rival, o Paulo Sergio “Birica”. No inicio de 1970 surgiu um cantor chamado Paulo Sergio. Teve uma carreira muito curta, faleceu de aneurisma. Sua voz era muito semelhante a do verdadeiro Roberto Carlos, alguns até diziam que ele o imitava.
Para competir com nosso “rei”, as pessoas convenceram um rapaz que tinha problemas de deficiência física e mental, que ele era o cantor Paulo Sergio. Claro, Birica nunca teve o mesmo sucesso nem o mesmo glamour do Roberto. Assim como seu verdadeiro ídolo, também já faleceu há bastante tempo.
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Foto atual de Welinton Lustosa Torres. (Fonte: Arquivo/Família)
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Hoje aos 69 anos Roberto Carlos é um homem feliz, pois vive ainda a intensa fantasia de ter sido ídolo por alguns anos. Não quer mais ser artista, pois cansou de cantar. Ficou feliz quando lhe falei que iria escrever sobre seu tempo de artista.
Welinton Lustosa Torres nasceu em 27 de fevereiro de 1941, na cidade de Araguaçú, Estado de Goiás. Além de trabalhar em deposito de material de construção, foi funcionário do Jornal O Estadão do Norte e da Rádio Rondônia FM. Aposentou-se em 2004 por tempo de serviço.
Estivemos em sua residência, e fomos autorizados a escrever sobre sua vida por sua esposa, a Sra. Maria da Conceição Feitosa, de 34 anos. Os dois estão casados há 16 anos. Maria não o conheceu nessa época, e me pediu que falasse um pouco do marido nos tempos da Jovem Guarda.
Agradeço muito a Sra. Maria da Conceição, pois alem da autorização, forneceu algumas fotos... Muito obrigado. Aproveito para mandar um abraço ao amigo Roberto/Welinton.
Quanto ao “Viva porto Velho”, é um programa de televisão com variados quadros. Vai ao ar todos os domingos as 11h00min horas da manhã na Rede TV. Você que gosta dessa terra, não deixe de assistir, Aproveito para cumprimentar o apresentador, meu particular amigo dos tempos de infância, Viriato Moura. Parabéns pelo programa e pelo livro. Um forte abraço...
Bons tempos... Recordar é viver...
Fiquem todos com Deus, que é sempre a melhor companhia.
Até a próxima...
ANISIO GORAYEB