Terça-feira, 6 de setembro de 2011 - 06h29
Se você tem menos de cinqüenta ou não morava em Porto Velho na década de 60, certamente não sabe e nunca ouviu falar nada a respeito desta esquisita palavra que mais parece nome de algum medicamento, ou marca de colchão.
Nossa pacata cidade era carente de tudo: gêneros alimentícios, infra-estrutura básica, pavimentação, energia elétrica, água encanada e etc. Não seria diferente na área de lazer para os mais jovens, não havia ainda a televisão e os únicos veículos de comunicação eram o rádio e jornais.
Também não havia lojas de brinquedos, por isso tínhamos que confeccioná-los. O peão era feito com madeira extraída da goiabeira que era mais resistente, o papagaio com talas de buriti (hoje fazem até de bambu), os carrinhos eram de madeira ou do alumínio das latas de óleo e de leite, as esferas usadas em rolamentos de tratores e caminhões eram os “bolôs” para se jogar bola de gude (aqui eram chamadas de peteca).
Os botões industrializados sobre a mesa para a prática dos jogos, e ao lado uma imagem da palheta de plástico própria para se movimentar os jogadores. (Fonte: Google) |
Os jogos de botões faziam muito sucesso naquela época. Hoje ainda existem, mas não se pratica mais como antes. Os jogos eletrônicos tomaram conta do mercado. Estes botões são feitos de plástico coloridos e tem os símbolos dos principais times de futebol, com o nome dos jogadores. As traves dos gols são de plástico e as bolas podem ser de plástico como uma pequena pastilha redonda (imagem 1) ou de cortiça (imagem 2) . Os jogos são praticados sobre uma mesa de compensado com os desenhos de um campo de futebol.
As pessoas que conhecem estes jogos, talvez estranhem o fato deu estar detalhando muito, porem é necessário para fazer algumas comparações entre eles e o nosso “salotex”, que na verdade era o nome dado aos botões para se praticar o mesmo jogo, com uma grande diferença: nossos botões eram feitos com caroços de tucumã.
Os tucumãs maiores geralmente eram escolhidos para serem os beques e com os menores se confeccionava os atacantes. Vamos descrever as etapas da fabricação das peças do jogo de “salotex”.
Os beques não eram cerrados, apenas ralados em uma calçada com cimento grosso para se ter uma base de sustentação e pudessem ficar firmes na defesa de seu time. Os goleiros eram feitos de caixas de fósforos com chumbo dentro, para firmar melhor, e eram revestidas da com as cores e o símbolo do clube.
O tucumã era a base para a fabricação das peças, que depois de cerrado e retirado seu conteúdo e polido se tornava botões de “salotex”. (Fonte: Google) |
Os demais eram feitos da seguinte maneira: o caroço era cerrado ao meio, retirava-se seu conteúdo e depois era ralado numa calçada para ficarem com sua espessura mais fina e tornarem-se mais leves.
O segundo passo era passar uma lixa grossa, em seguida uma lixa média e finalmente uma bem fina. Em seguida aplicava-se cera de carnaúba que eram usadas para encerar o piso das casas (feitos de tacos de madeira), e depois de alguns minutos era só passar uma flanela. Pronto, o nosso botão de “salotex” já estava polido. Esta última etapa era feita constantemente, afinal os botões tinham que estar sempre brilhando.
O próximo passo era numerar os botões e colocar o nome dos craques no fundo. Para se jogar em vez da palheta, usávamos um pente e a nossa bola era feita de lã. Como não tínhamos a mesa (campo) apropriada, jogávamos no chão de cimento queimado bem encerado. Os botões deslizavam facilmente.
Esta mesma técnica é usada hoje na confecção das famosas bio-jóias extraídas do tucumã, na fabricação de anéis, pulseiras, brincos e colares.
Com relação ao nome “salotex”, infelizmente não foi encontrado definição e nem significado. Isso pouco importa, o mais importante e que fizeram nossa alegria.
Saudades da inocente infância num passado já bem distante.
Fiquem todos com Deus, que é sempre a melhor companhia...
Até a próxima.
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