Carlos Henrique
Os impactos resultantes da elevação da lâmina d’água da barragem de Jirau, como compensação pelo aumento de 80 centímetros já autorizado em Santo Antônio vão produzir danos ambientais muito superiores que aqueles até agora estimados pelo consórcio liderado pela GDF Suez. Apesar de estar sendo adquirido o remanescente dos lotes dos proprietários rurais anteriormente comprados, isso não será suficiente para evitar danos irreversíveis que se estenderão por vários quilômetros.
A informação é do corpo técnico do Indam, que embora não disponha de dados efetivos sobre as projeções a respeito da área inundada, adverte que não se pode considerar os impactos ambientais apenas até aonde a vista alcança, já que a elevação do lençol freático em uma região plana como a nossa vai seguramente atingir e apodrecer as raízes de toda a vegetação tanto da floresta como das culturas perenes de uma área imensa. Além de tornar praticamente inabitável a área por falta de condições de escoamento das águas pluviais e servidas e do comprometimento de fossas e poços artesianos.
Ainda mais preocupante é o fato do Ibama, sem meios de avaliar a extensão do problema, fingir-se de morto, deixando a tarefa para o Ministério Público, que também não dispõe de recursos para a contratação de técnicos especializados. Os técnicos do Indam lembram que a situação já inferniza a vida dos moradores de Jacy Paraná e que situação semelhante aconteceu com o lago de Samuel, cujo lençol freático fez boiarem até os caixões do cemitério de Itapuã do Oeste.
O que é o Indam?
O Instituto de Desenvolvimento da Amazônia - Indam é uma entidade sem fins lucrativos, criada a partir da união de técnicos destacados nas mais diversas áreas profissionais para contribuir com um trabalho de alto nível com vistas a fomentar o desenvolvimento regional associado à necessária preservação ambiental. A base da iniciativa foi a consciência de que a consolidação da Amazônia, especialmente do estado de Rondônia, passa pelo necessário engajamento de todos e não pode ser delegada exclusivamente à iniciativa governamental.
A ideia central é aglutinar iniciativas esparsas que normalmente se perdem do emaranhado de boas intenções aleatórias e atitudes isoladas, posto que apenas a unificação e o direcionamento dos esforços poderão resultar na obtenção e consolidação produtiva dos objetivos. Observa-se que propostas meritórias, mas necessariamente complementares, são inócuas pela falta de segmentação ou orientação sistematizada.
A realidade indica que, na prática, em especial nas questões relacionadas ao meio ambiente, as ações desenvolvidas nas diferentes esferas governamentais prestam-se mais à execução orçamentária dos diferentes programas e exploração midiática dos esforços que propriamente a resultados práticos que, quando e se aplicados ao público-alvo, acabam por mais confundir que orientar.
A proposta do Indam é aliar avanços técnico-científicos aos conhecimentos tradicionais de forma a servir como elemento de ligação para assegurar a continuidade dos trabalhos desenvolvidos pelos diversos setores e perenizá-los como orientação e benefícios às diversas comunidades de forma indissociável da conservação ambiental.
- Estamos convencidos de que, para ser conservado, o meio ambiente tem obrigatoriamente que prestar serviços à economia. O combate à degradação da verdadeira riqueza amazônica que, ao contrário do que se imagina, está sobre e não sob o solo, é fundamental. Mas a atividade florestal múltipla, por exemplo, deve ser assistida para produzir os bens de consumo indispensáveis à melhoria da qualidade de vida da população. As unidades de conservação prestam serviços ambientais, mas devem igual e imperativamente, prestar serviços à economia – afirmam seus dirigentes.
É preciso compatibilizar o uso sustentável de nosso patrimônio natural e cultural com o fortalecimento da agricultura, da pecuária e da mineração. É esse o desafio ao qual o Indam se propõe, para obter, pela educação e pela incorporação de tecnologias. É necessário produzir mais riquezas nas áreas já antropizadas para tornar desnecessária a incorporação de novas derrubadas. É preciso orientar a exploração mineral para maior rendimento da extração, dentro de parâmetros que estabeleçam preventivamente a recuperação das áreas exploradas. É preciso orientar a população para a exploração das áreas degradadas com a incorporação de alternativas de culturas capazes de recuperá-las e produzir riquezas ao mesmo tempo.
Mas é preciso também fiscalizar e prevenir os efeitos de investimentos com forte componente de degradação para orientar à população sobre o convívio com a nova realidade, especialmente aquela decorrente da introdução de grandes obras. Mas é fundamental não apenas a indicação de alternativas, mas também a antecipação de problemas, de forma a minimizar seus impactos.
Fonte: Carlos Henrique Ângelo
Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)