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Ciro Pinheiro

LEMBRANÇAS DO TERRITÓRIO... Por Ciro Pinheiro


  LEMBRANÇAS DO TERRITÓRIO... Por Ciro Pinheiro - Gente de Opinião
Governador Jorge Teixeira discursa homenageando Ciro, na sua saída da Assessoria de Imprensa
do Governo para voltar à Prefeitura de Porto Velho, por solicitação do prefeito.

Já ouvi muita gente dizer que a vida em Rondônia era muito melhor no tempo do Território e que o Estado deveria voltar a ser administrado pela União, como naquele tempo. Não vejo as coisas por esse lado. Acho que seria um retrocesso inadmissível, mas (sempre, em quase tudo, vem um mas...) não podemos negar que o Território tinha lá suas vantagens em alguns pontos sobre o Estado.

Uma das coisas boas do Território é que o funcionalismo, constituído de grande parte da população, não ficava preocupado com o salario no fim do mês e, por isto, nem o comercio, que vivia praticamente do contracheque do pessoal do governo, sofria com o fiado desses clientes.

O governo não dependia de arrecadação porque, no final do mês, vinha tudo, bonitinho, de Brasília, da “mãe federal”, que cuidava do território como quem cuida de um filho amado. Mas esse filho cresceu e deu o grito de independência, de autonomia. Acabou a dependência e, dono do seu próprio destino, o ex-território passou a experimentar coisa parecida com a vida do adolescente que perde a gorda mesada da mãe.

Acompanhei bem de perto toda a movimentação que precedeu a transformação de Rondônia em Estado. Os anos finais do território, a partir da década 60, quando troquei o meu Ceará por esta boa terra, vi tudo de perto porque atuando na imprensa, como repórter do Alto Madeira desde o dia da chegada e assessorando prefeitos e governadores à partir de 70, participei diretamente da vida politico-administrativa de Rondônia atravessando o momento histórico da mudança que teve no final da administração territorial, dois principais governadores: Humberto Guedes e Jorge Teixeira, com os quais trabalhei diretamente na chefia da Assessoria de Imprensa e Relações Publicas, que fazia, naquele tempo, o divulgação da atividade do governo como um todo (inclusive Secretarias e algumas Prefeituras) e o trabalho de cerimonial e protocolo.

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Governador Humberto Guedes dando posse ao
prefeito Antônio Carpintero (lendo o discurso) no cargo de prefeito de Porto Velho
.

 

Muita gente quando fala no Estado só lembra o Teixeirão, mas mesmo tendo sido ele cumprido a missão de instalar o Estado de Rondônia, é bom lembrar seus últimos antecessores, entre eles Marques Henriques, que deu boa parcela em busca do futuro Estado; o coronel Humberto Guedes, que veio depois do MH, deu destaque à propaganda de Rondônia fora do Território e, com ele, foi iniciada a fase da migração que fez subir de forma acelerada a população do futuro Estado com o nascimento de novas cidades e o crescimento da ocupação rural, com gente de outras áreas, principalmente do Paraná e do Nordeste. Guedes foi o responsável pela regulamentação fundiária e pela criação da infraestrutura do futuro Estado, que tinha, ele, planos para instalar ordenadamente, sem pressa. Foi no seu tempo que nasceram as cidades de Ariquemes, Cacoal e que outras cresceram e progrediram. Vi muitas cidades nascer quase do nada, algumas na floresta. Fui o primeiro jornalista a escrever sobre Cacoal em 1973, quando ali a população não passava de 500 habitantes - “Uma cidade nascendo na selva”, como citei em manchete no jornal Alto Madeira. Sobre Ariquemes (como já citei em matéria anterior) coordenei a consulta aos moradores da antiga vila, um ninho de malária (chamavam de “alitreme”), com a situação piorada com a movimentação do Projeto Burareiro, que estava atraindo centenas de famílias sem condições de instalação na vila. Com a aprovação, pela população, da mudança da vila para outra área, nasceu, com projeto do prefeito de Porto Velho, arquiteto Antônio Carlos Carpintero (foto 1), a decisão da implantação de uma nova cidade, nascendo, daí, a Nova Ariquemes, hoje, uma grande e moderna cidade, a primeira planejada de Rondônia.

Então, amigos... não morro de saudade do Território. Mas em alguns momentos, hoje, penso naquele tempo em que o Estado Rondônia era administrado por técnicos (a maioria vindos de outros estados e muitos ficaram aqui), quando havia planejamento em tudo. Com o Estado, surgiram os políticos, alguns que antes conheciam Rondônia no mapa e, sobre grande parte deles – principalmente os que estão em Brasília - não precisa dizer nada, todos estamos vendo.

Alguém pode lembrar: e os coronéis? É verdade, os governadores militares eram impostos de cima para baixo sem qualquer consulta e a maioria deles nem conheciam Rondônia. Acontece que as coisas aqui não eram tão duras no regime militar, como muita gente fala. Alguns governadores (pelo menos os que conheci), militares da reserva, tinham uma postura mais de civil do que de militar. E a censura à imprensa? Naquele tempo, quando a noticia podia atrapalhar os interesses do governo, as redações recebiam um telex com um recadinho determinado que o fato não podia ser publicado. Isto hoje dessa forma não acontece; é diferente. Existem outras formas de castigo. Mas algumas atitudes mostram que não havia grandes problemas e tenho exemplos de coisas que aconteceram comigo, uma prova de que aqui a corda não era tão dura: o Alto Madeira não tinha a simpatia do governador Humberto Guedes e eu, redator do Jornal, era o chefe da Assessoria de Imprensa, onde permaneci até o fim sem problema (e continuei durante muito tempo do governo Jorge Teixeira de onde sai para atender chamado da Prefeitura, pois era funcionário municipal). Na saída, fui homenageado, pelo Teixeirão no seu gabinete, com bonito discurso de despedida (foto 2). Ainda no governo Humberto Guedes, a revista Veja (eu era correspondente) pediu uma entrevista com o deputado Jeronimo Santana, naquele tempo maior critico do governo de Rondônia. Como assessor de Imprensa, comuniquei ao governador e ele disse que podia atender que não havia problema. Quando a revista chegou, com mais alguma coisa acrescentada pela sucursal de Brasília (à qual eu era subordinado) aqui houve a maior torcida de alguns secretários para que houvesse a minha demissão. Levei a revista para o governador e ele tranquilamente disse que já havia lido e que eu podia trabalhar tranquilo. Encontrei o deputado Jeronimo na rua e ele perguntou rindo: “já fostes demitido?”.

Pois bem: aqui estão pequenas pinceladas (como diz o Euro) de coisas do Território, alguns lances desconhecidos. São coisas do passado, que fazem parte de nossa história. Hoje temos aí o Estado de Rondônia, que nasceu forte e vigoroso, bem administrado.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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