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Gente de Opinião

Ciro Pinheiro

Mentiras históricas


INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E OUTRAS HISTÓRIAS MAL CONTADAS

A história oficial do Brasil é cheia de invenções (para não dizer inverdades, ou outra palavra mais direta e apropriada) e até mesmo os acontecimentos mais recentes são enfeitados de acordo com o interesse dos donos do poder de cada época, como é o caso da revolução ou golpe militar de 64. Contam que quando Cabral aportou nas praias da Bahia ouro descobridor já havia visitado terras do Nordeste; que a história da Abolição foi bem diferente e muitas outras histórias mal contadas nos nossos livros escolares. Até mesmo aqui, em Rondônia, temos distorções históricas que logo, com o correr do tempo, se transformam em verdades. No nosso caso, todo mundo consagra o governador Jorge Teixeira como sendo o criador verdadeiro do nosso Estado, o único responsável pela transformação do Território, quando na verdade ele não foi o único responsável pelo nascimento desta unidade federativa. Teixeirão merece todas as honras porque ele veio determinado a cumprir uma missão, como sempre dizia e, mesmo tendo feito muito, encontrou metade (ou muito mais) do caminho já pavimentado, quase pronto para os arremates finais. Com todo o apoio do governo federal (inclusive financeiro) Teixeirão deu o grito de independência, tirando Rondônia do peito amigo da mãe, a União Federal, fazendo Rondônia andar com as próprias pernas. Antes dele, é bom fazer justiça, tivemos governador Humberto Guedes que, com muita responsabilidade, equilíbrio, competência e sem pressa, tinha na sua agenda o fim do Território e o nascimento do Estado e já estava com todas as providências encaminhadas, como a criação e instalação de novos municípios (antes só existiam Porto Velho e Guajará-Mirim) e a organização institucional do futuro Estado. E é por essas questões e dúvidas que discutem até mesmo sobre a data do nascimento da cidade de Porto Velho, com uma “briga” acirrada entre historiadores, mais quente ainda depois do livro de Antônio Cândido - “Enganos da Nossa História”. Bem, mas deixemos Rondônia de lado, pois o nosso tema, aqui, hoje, é a Independência do Brasil, suas dúvidas e as mentiras históricas.


A Independência não teve grito, não aconteceu
às margens do Ipiranga, nem no dia sete de setembro

Mentiras históricas - Gente de Opinião
Chamou a minha atenção nesta tarde de domingo (depois do desfile comemorativo, do qual participei, junto com os companheiros do Lions), matéria publicada na revista “História Viva”, sob o título “A Invenção do Grito”, de autoria da historiadora de arte Cláudia Valladão de Mattos. Nela vários pontos da história do Grito do Ipiranga são questionados. Entre eles: a Independência não aconteceu às margens do Ipiranga, não houve o grito independência ou morte, a independência não foi feita no dia sete de setembro, Pedro Primeiro não estava montando em um cavalo bonito como aparece no quadro de Pedro Américo (estava em um jumento, animal com resistência para percorrer, tranqüilamente o trecho São Paulo-Santos-São Paulo), não estava usando aquele fardamento de gala, estava com um traje comum (enfrentar a distância em estrada empoeirada seria impossível), e mais outros detalhes interessantes, diferentes do que todos nós aprendemos na escola. Vejamos: A imagem de D. Pedro I desembainhando a espada no alto do Ipiranga é uma das representações mais populares da história do Brasil. Há muitas décadas ela figura em livros didáticos e ilustram páginas de revistas e jornais por ocasião das comemorações da Independência. Diante dela temos a impressão de sermos testemunhas do evento histórico, aceito naturalmente, como o “marco zero da fundação da nação”. No entanto, essa imagem é fruto da imaginação de um artista que nem mesmo tinha nascido no momento em que o episódio ocorreu.

Historiadores têm demonstrado que foram necessárias muitas décadas para que o hoje famoso episódio do “Grito do Ipiranga” adquirisse o status que ele possui no contexto das narrativas sobre a Independência. Como demonstra a pesquisadora Cecília Helena Salles de Oliveira em seu estudo sobre o tema, a data de 7 de setembro não foi considerada, de início, particularmente relevante como marco simbólico da formação da nação, nem pela imprensa, nem pelo próprio D. Pedro.

Em carta dirigida aos paulistas, no dia seguinte ao episódio, o príncipe fala da necessidade urgente de retornar ao Rio de Janeiro em função das notícias recebidas de Portugal.  Na longa carta não há qualquer referência ao “grito”. A Independência do Brasil não estava inteiramente consumada. Dependia também das negociações políticas. Também em carta dirigida ao seu pai a 22 de setembro, D. Pedro não faz referência ao evento. Da mesma forma, os jornais de época, que ensaiaram as primeiras narrativas sobre a Independência do Brasil, não traziam qualquer menção à data 7 de setembro. O “Correio Braziliense”, por exemplo, publicou uma notícia declarando a data de 1º de agosto como marco da emancipação. Era a data em que o príncipe enviou o “Manifesto às Províncias do Brasil”, no qual se desobrigava de obedecer as ordens das Cortes de Lisboa. O redator do jornal “Regulador Brasileiro”, por sua vez, apontaria a data de 12 de outubro, na qual ocorreu a aclamação de D. Pedro I como Imperador do Brasil, como verdadeiro marco da criação da jovem nação. Outras datas, como o 9 de janeiro, dia do “Fico”, em que D. Pedro I recusou-se a embarcar para Portugal desobedecendo as ordens dadas pelas Cortes de Lisboa, ou a 1º de dezembro, data da coroação, foram mencionadas, mas nunca o 7 de setembro.

Era fundamental para as elites vinculadas ao governo evitar que o processo de independência se transformasse em uma revolução popular, como ocorrera na América Espanhola. Assim, nos primeiros anos após a Independência, as datas que reafirmavam a monarquia Bragança, como a aclamação e a coroação de D. Pedro I, é que são postas em evidência. São esses mesmos episódios, a aclamação e a coroação de D. Pedro I, é que são postas em evidência.

São esses mesmos episódios, a aclamação e a coroação, que merecem destaque no livro “Viagem pitoresca e histórica ao Brasil” de Jean Baptista Debret (publicado na França entre 1834 e 1839). Debret, que chegou ao Brasil com a Missão Francesa em 1816, foi o artista mais próximo da Corte portuguesa em sua época. A prancha nº 47 do livro, referente à “Aclamação”, apresenta D. Pedro I na varanda do palacete no Campo de Santana, sendo saudado pela multidão, após ter aceitado o título de Imperador do Brasil. A seu lado encontram-se a imperatriz com a filha primogênita, Maria da Glória, e figuras de destaque no processo político de independência e do novo governo, como José Clemente Pereira (à época presidente do Senado), José Bonifácio (ministro do Império) e seu irmão Martin Francisco, ministro das Finanças. O Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, guarda um pequeno esboço a óleo deste quadro, que provavelmente serviu de base para realização da imagem do livro. 

A segunda imagem representa a “Coroação de D. Pedro I”. Tendo em vista que ele é a reprodução do maior quadro histórico realizado pelo artista durante seus anos no Brasil (a obra pintada em 1828 encontra-se hoje no Palácio Itamarati), poderíamos afirmar que este é o episódio por excelência selecionado por Debret para representar a fundação do Império. O quadro é um verdadeiro retrato social das elites do Império e serve bem como imagem inaugural da fundação de um novo país.  

COROAÇÃO – A composição em forma de friso apresenta o imperador D. Pedro I, à direita do quadro, sentado em seu trono e usando as insígnias do novo Estado. Ao seu redor estão altos representantes da Igreja, figuras de destaque da Corte, nobres e altos funcionários do Estado, e um hall de políticos que formaria o seu novo governo. No extremo oposto a partir de um balcão, estão a imperatriz com a filha, marcando a continuidade da casa de Bragança nos seus trópicos.

Em 1826, no entanto, a publicação do testemunho do padre Belchior Pinheiro Ferreira incluiu a data de 7 de setembro no calendário de festividades da Independência. O relato dava forma de voz a reivindicação paulista de ter sido o palco dos principais acontecimentos que levaram a ruptura com Portugal. Graças a ele, o episódio do “Grito” ganhou força na imaginação popular, e se difundiu à medida que a importância política e econômica de São Paulo foi crescendo no cenário do país.

O relato do padre Belchior Pinheiro também enfatiza a atuação de D. Pedro I, mostrando-o não somente como o legítimo herdeiro dos Bragança e, portanto, como um elo que possibilitaria a continuidade na mudança, mas como um herói, capaz de tomar o destino do país e sas mãos. Porém essa dimensão da narrativa do padre permaneceu inexplorada ainda por algumas décadas, explicitando-se inteiramente apenas no final do século, na famosa obra de Pedro Américo. 

Um outro quadro intitulado “Proclamação da Independência” realizado em 1844 pelo artista francês François-René Moreaux, revela como ainda naquele momento a afirmação do direito natural de D. Pedro I ao trono brasileiro impunha-se como preocupação central. O príncipe é representado ao na cidade de São Paulo. Está cercado de figuras do povo e levanta seu chapéu em sinal de saudação. Em sua mão direita traz uma carta, provavelmente contendo as notícias vindas de Lisboa – que motivou a decisão de romper os laços com Portugal. A obra permaneceria na sala do Senado por longos anos, podendo ser vista como uma imagem quase oficial do memorável evento.   A ênfase da composição, no entanto, não está na ação heróica de D. Pedro. Tanto o príncipe, quanto diversas figuras que o acompanham, dirigem seus olhares para o céu, de onde desce um raio de luz que ilumina a cena. Nesta representação, não está em jogo a habilidade político de D. Pedro, tampouco seu caráter ou capacidade de liderança A imagem vincula o evento à providência divina, diminuindo com isso o tom heróico e volumoso da figura do príncipe e reafirmado a legitimidade dos herdeiros da casa de Bragança ao trono do futuro império tropical. Neste aspecto, a obra tem mais em comum com as imagens da “Aclamação” e da “Coroação” de Debret, do que com “Independência ou Morte!” de Pedro Américo. Para que a ação de D. Pedro se tornasse o tema central da obra de Pedro Américo foram necessárias mais de quatro décadas de transformações políticas e culturais.   

DESFILE DA INDEPENDÊNCIA EM PORTO VELHO

Os 186 aos da proclamação, segundo a História, foram comemorados com desfile cívico na Avenida dos Migrantes. Participaram militares do Exercito (Brigada Príncipe da Beira e 5º Bec), da Policia Militar, Corpo de Bombeiros, representações estudantis e entidades sociais. Na abertura do desfile os Ex-Combatentes arrancaram aplausos do público. O desfile da Lions Internacional foi muito aplaudido, também no encerramento. Participaram os clubes Lions Centro, Lions Rio Madeira, Lions Príncipe da Beira e Lions Guaporé e o Lions Clube de Candeias do Jamari, que trouxe a fanfarra do Leo Clube (jovens), que fez bonita coreografia diante do palanque das autoridades.  Todos os presidentes (casais) conduziam seus estandartes. A governadora do Distrito LA-1 (Rondônia, Acre, Amazonas e Roraima), Iracyrema da Costa Neves (de Boa Vista), abriu desfile leonístico. O governador do Estado, Ivo Cassol abriu op desfile, depois de revista às tropas. Mais de quaro mil pessoas compareceram à avenida dos Migrantes, nas arquibancadas, no palanque oficial e em pé.   Nas fotos a presença do Lions no desfile e a coreografia da fanfarra do Leo Clube (jovens) de Candeias do Jamari. 

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Fonte/fotos: Ciro Pinheiro

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