Segunda-feira, 21 de outubro de 2013 - 15h02
No desenho que ele fazia, chovia. O céu estava sempre negro. Os médicos, os professores, todos os que o acompanhavam no Hospital já haviam percebido que o que ele queria dizer tinha a ver com a morte. Mas seu sorriso era tão vivo. A expressão que saia pelo seu olhar era a de um céu azul. Havia nele um dia repleto de sol e uma noite cheia de estrelas brilhantes. Só no papel ficava o registro da partida. Um adeus molhado.
Hoje, quando me deram a notícia de que o garotinho que desenhava o céu chuvoso havia morrido, meu choro veio tão rápido, choveu tão depressa em mim. Corri para escrever, como se as palavras pudessem formar um guarda-chuva, protegendo-me do que cai do céu, mas não do que vem de lá.
O problema é que o barulho do trovão a gente sente por dentro. A dor se manifesta de tantas maneiras. Só chorar parece que não esvazia. Só escrever parece que não sacia. Que raio é esse o de querer entender, gritar, correr, perguntar todos os porquês mesmo sabendo que poucos deles vem embalados com as respostas.
Sei que hoje o lugar onde o conheci, as salas, as alas, os setores, os corredores, estão menos coloridos. Seria demais pedir que tentem pintar um quadro onde a casinha no pé da montanha esteja rodeada de árvores frondosas e crianças no pique-esconde.
Deixem então o desenho pregado no quadro de recados. Um céu negro, com chuva forte caindo.
Permitam que a arte da vida continue tentando explicar o capítulo final.
E chorem. A tinta de quem viveu para ser amado, não se apaga com o que sai no choro.
A luz de quem viveu tão pouco não se acaba com a tempestade.
No desenho que escrevemos hoje, também chove!
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