Quinta-feira, 2 de março de 2017 - 21h42
Beni Domingues Jr.
Não eram tolos, mas também não eram o maior exemplo de sabedoria e desenvolvimento. O povo de Cucumbria era do tipo pacato, sem compromisso, uma espécie de não querer querendo. Boas praias, algumas regiões mais ricas que outras, clima agradável, lugar bom de se morar; se o morador não fosse muito exigente.
Como os cucumbrianos não eram muito chegados ao esforço, hora marcada, planejamento, cuidados com a saúde, saneamento e segurança, entre outras cucumbrices, o visitante tinha sempre que buscar uma certa compensação. Ora recordando que em poucos lugares do mundo o povo era tão alegre e cheio de vida, ora observando as belezas naturais. E, seguindo o pensamento local, sempre acreditando que um dia a coisa ia dar certo. Uma hora melhora! Essa, por sinal, era a frase cucumbriana preferida.
Conheci muitos de lá. Alguns até estavam determinados a mudar. Buscar novos ares. Mas a maioria vivia conformada. E com um senso de humor incrível. O que para muitos estrangeiros era surpreendente. Uma corrupção endêmica e índices medíocres de educação e desenvolvimento humano eram enredo mais para lágrimas do que gargalhadas. Mas Cucumbria sempre foi assim. Sabia rir de sua própria dor. E se orgulhava de ser um lugar que Deus tinha abençoado. Livrando sua terra de terremotos, tufões, furacões e argentinos. Que para eles, eram a verdadeira desgraça.
Não sei se neste ano as coisas podem melhorar por lá. O calendário deles é meio diferente. Tipo o chinês ou o maia. Tudo começa depois de uma grande festa, que toma as ruas da cidade e chega a parar o país por uma semana. Em alguns lugares até mais. Como a festa acontece dois meses depois do começo do ano e a agenda local é generosa em feriados, tudo indica que o sucesso, se um dia vier, não será fruto de muito trabalho. Pode acontecer mais por acaso mesmo. Os cucumbrianos acreditam que sim. Sempre foram um povo de muita fé. E lá, dizem, ela não costuma faiá.
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