Quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014 - 15h12
Nasci no interior de São Paulo, morei no Paraná, de lá fui para Rondônia de onde me mudei há pouco mais de um ano para voltar a ser paulista. Das saudades que deixei, a maior delas sempre volta ao que escrevo: o amor por meu falecido pai, a quem me refiro sempre como o homem da minha vida. Tudo o que me lembra seu Benedicto mexe com algo dentro de mim que não tem botão de desliga.
O que eu não esperava era que um mês de molho em casa, por conta de uma cirurgia, com os cuidados mais que especiais que recebi da esposa e duas filhas, pudesse despertar esse algo dentro de mim de forma tão viva.
É muito duro e complicado você não poder se movimentar muito. Depender dos outros para quase tudo e ter que pedir, incomodar, dar trabalho e preocupação. O afastamento é muito maior do que um período de licença médica para reabilitação.
Também por isso, de volta ao trabalho hoje, parei pra pensar no quanto minhas três mulheres se dedicaram nos dias de repouso forçado; e ainda se dedicam: ajudando na minha reentrada ao mundo do trabalho e do convívio fora do quarto e sala.
Ao pensar nas filhotas pensei em mim como filho. Enviei uma carta de cobrança ao passado. Nela eu pergunto se fui, em algum momento, tão bom com meu pai quanto elas estão sendo comigo. Se amei de forma tão intensa como sou amado. Se ofereci tantos sorrisos e frases… e café pronto, com uma boa fatia de bolo de fubá com margarina.
No meu aniversário, dia desses, vi que estou chegando perto da idade que ele tinha quando morreu. Jovem demais para ir tão longe sozinho. Não como medo de que aconteça o mesmo comigo, nada disso. Pensei nisso porque ainda estava lá no passado, cobrando o filho que um dia eu não sei se fui.
Não consegui desligar ainda. Também não é pra menos. Comecei agora a pensar em quem fez o bolo. E no marido que devo ser.
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