Sábado, 25 de outubro de 2014 - 05h25
Minha ficha caiu
Houve um tempo em que eu acreditava mais. Lembro-me bem de como me emocionava com um discurso bem feito, ou uma palestra empolgante. Falavam sobre amor e eu pensava que sim, é posível, a humanidade tem jeito e o jeito passa por isso que estão falando.
Estava pensando nesse tempo hoje. Em quem eu era e em quem sou agora: uma pessoa que o mundo insiste em transformar e que volta e meia relembra o menino cheio de fé e esperança lá do passado.
Igreja, amizade, honestidade, ética, escola, rádio, música, poesia, livros, televisão... sim, até na TV eu cria. Futebol então, nem se fala. A bola era quase uma divindade. E quando ela aparecia lenta e performática na tela do Canal 100 no cinema, uau, eu entrava num transe, viajava para o Maracanã lotado e voltava a sonhar. Às vezes me pergunto se não gastei todos os sonhos naquela época.
Eu amava até a seleção brasileira. Quando perdemos para a Itália em 82 sai pela rua sem rumo. Caminhei por horas, como se o futebol tivesse me dado um cartão vermelho. Meu Deus, como mudei. Dia desses passei por um 7 a 1 quase incólume. Fiquei envergonhado, claro, mas não dei um passo em direção à dor que já senti um dia.
A política me empolgava também. Fui em comícios, até discursei em vários deles. Punho cerrado, palavras de ordem, entusiasmado com os fogos ao fundo e os ouvidos atentos. Gostava disso. Achavam até que eu levava jeito pra coisa. Mas depois descobri que a coisa tem entranhas estranhas. Cheira mal. Faz e acontece num sistema que não sei se tem cura. Ao menos hoje não acredito. O jovem que acreditava talvez até esteja aqui dentro de mim. Mas ele não chega à ponta dos meus dedos quando teclam.
Vejo minhas filhas tão novas e determinadas. A vida começando, num mundo que avançou tanto, mas não parece melhorar. Eu sei que tudo está mais fácil agora, que estamos conectados, evoluímos, vivemos mais e toda essa conversa sobre os melhores anos de nossas vidas, blá, blá e blá. Só que dói perceber o que já não creio.
No momento em que recomeço mais uma fase em minha vida, sinto como se estivesse ouvindo aquele barulhinho da ficha telefônica caindo. Ah, sim, claro, ficha telefônica caindo é coisa de gente mais velha. Me desculpe você que nunca usou um telefone público. Mas quem me lê e relembra o ruído da ficha sendo devorada pelo orelhão, sabe bem do que estou falando.
Você, jurássico, anda com uma dor esquisita também? Como se faltasse algo e ninguém conseguisse dizer o que é? Se a resposta for positiva, por favor me avise logo e vamos recarregar a prosa. Antes que os orelhões fiquem todos surdos e só nos reste o whatsapp, para nos ajudar a não dizer o que pensamos.
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