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Gente de Opinião

Domingues Junior

Pagando bem, que mal que tem


 
Nunca na história deste país, como já dizia um ex-presidente que ainda adora dar uns palpites, o mercado de trabalho esteve tão virado. O maior exemplo que vi por esses dias foi o fatiamento das profissões ter atingido  a labuta das empregas domésticas. Que  nem mais são chamadas assim. Eu é que estou ficando velho e desacostumado.
 
Descobri, em conversas que agora homem participa também, que aquela diarista, que fazia tudo, desde o chão até o teto, passando pelos banheiros, cozinha e ferro de passar, já não existe mais. Agora elas avisam, sem precisar de contrato e letras minúsculas, que fazem isso e não mais aquilo. Cada uma em sua especialidade.
 
Falaram do caso de uma jovem que foi logo informando para a futura patroa que fazia a limpeza da casa, menos da cozinha. Outra lavava, mas não passava e nem limpava a geladeira, mas tinha uma colega que passava e outra que era excelente nos refrigeradores, freezers e similares. Ah, também uma amiga que fazia um serviço maravilhoso na parte de fora da casa, mas dentro, vichi, não gostava nem de entrar.
 
Imagino que exista também alguém especialista em armários, outro muito bom com grama mas nem tão bom assim com roseiras e bromélias, uma que deixa o piso impecável, mas as paredes nem tanto...
 
Soube de uma profissional que seu grande mérito era transformar os banheiros em verdadeiros jardins de limpeza, aroma e delícias. Mas antes de chegar na casa era preciso tirar toda calcinha e cueca pendurada. Isso ela não admitia. Limpar sim, mas sem intimidade.
 
Quem diria! O funcionalismo doméstico, que agora é composto por secretárias do lar,  já que dizer empregada virou quase uma ofensa, também tem  as suas e seus especialistas. 
 
Nada contra a evolução de costumes e aprendizado. Nem com a necessidade de valorização do trabalho e reconhecimento de quem pega no pesado. Só acho curioso e, em alguns aspectos, engraçado, que quase todas as profissões procriaram e agora tem particularidades jamais imaginadas.  Se bem que ter que pagar mais caro por isso nāo tem graça nenhuma. 
 
O jeito é a gente se virar como dá. E torcer para de vez em quando aparecer uma diarista que aceite cuidar de cinco cômodos e umas roupinhas a mais. Sem que para isso ela precise se tornar sócia da família. 
 
Ah, perdemos uma um dia porque a cachorrinha fez cocô no corredor. Nem com jato d'água, desinfentante importado da China e promessas de que o animal se comportaria ela mudou de opinião. Isso ela não limpa e pronto. Se fosse dos gatinhos tudo bem,  mas acho que era desculpa. Os bichanos usam a caixinha de areia, e cobrem tudinho...

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