Segunda-feira, 28 de novembro de 2011 - 19h15
1. Esta coluna fará, neste artigo, uma breve análise da Semana da Consciência Negra, de um ponto de vista histórico, distanciado das ideologias que dominam a vida político-cultural brasileira e, por conseguinte, a vida rondoniense. Há algum tempo, as festividades comemorativas à Semana da Consciência Negra apresentam Zumbi dos Palmares, negro, escravo e líder quilombola do século XVII, que lutou bravamente contra tropas enviadas pela Coroa portuguesa, através dos capitães-generais, para destruir o Quilombo dos Palmares. Foram 43 anos de luta ferrenha, até a destruição do quilombo e a morte do grande líder Zumbi. Quando não é sobre Zumbi, a consciência dos negros brasileiros, inclusive dos rondonienses, é chamada para os cultos afro-brasileiros (entenda-se umbanda e candomblé) que parecem ser os ícones da memória negra neste país de ideologia arcaica e, infelizmente, predominante.
2. Pois bem. Nada contra os cultos afro, muito pelo contrário. O autor desta coluna respeita profundamente todas as religiões e cultos, exceto as que professam violência e sectarismo exacerbado. Contudo, os cultos afro-brasileiros, notadamente a umbanda e o candomblé, têm sido alvo de verdadeiro massacre com o avanço das religiões evangélicas ou pentecostais. Não tem como negar. As igrejas neopentecostais demonizam estes cultos e o fazem sem nenhuma exceção. Onde está a consciência negra se entre os membros e pastores dessas igrejas estão negros, mulatos e pardos, todos descendentes de negros escravos brasileiros? Voltemos a falar de Zumbi dos Palmares. Todo respeito à sua luta e trajetória histórica como líder do maior quilombo que o Brasil teve, mas a consciência negra não pode ser resumida a ele, sob pena de se estreitar o componente histórico e as lutas travadas por muitos líderes quilombolas e não-quilombolas pela liberdade negra neste país ideológico, e silente demais.
3. Em Rondônia, a consciência negra deve passar pelo conhecimento das lutas e dos grupos negros que formaram e ainda formam a sociedade rondoniense, como por exemplo os negros antilhanos que foram recrutados para o trabalho na ferrovia Madeira-Mamoré no início do século XX. Não se deve esquecer os negros descendentes de escravos do Vale do Guaporé, chamados Negros Mato-Grossenses, os Negros da Pecuária, ou Negros Mineiros e os Negros Burareiros, os Negros Baianos. Estes grupos negros vivem em Rondônia e Estado e são, propositadamente, esquecidos pelos pretensos condutores da Consciência Negra. No que se refere às culturas afro-brasileiras desenvolvidas em Rondônia, pouco ou quase nada se tem falado, na Semana da Consciência Negra, da Festa do Divino. Uma festa que mistura sincretismo religioso afro-católico e é conduzida por quilombolas e demais descendentes de escravos no Vale do Guaporé. Divulgar nos meios acadêmicos esta festa negra seria uma forma de difundir a cultura afro-brasileira em Rondônia.
4. E por falar em Vale do Guaporé, por que os líderes intelectuais e ideológicos da Consciência Negra não divulgam a existência dos quilombos em Rondônia? Não é uma forma de conscientizar negros, brancos, amarelos e indígenas sobre um importante fator da formação sociopolítica de Rondônia? E quanto aos Negros da Pecuária? Eles foram atraídos para Rondônia no início da década de 1970, e assentados onde está localizada a microrregião Ji-Paraná. Originários de Minas Gerais, tornaram-se fundamentais para o ordenamento dos municípios de Ouro Preto do Oeste e Jaru, principalmente. Os Negros Burareiros são imigrantes baianos, trabalhadores das “buraras”, pequenos sítios plantadores de cacau. Estes minifúndios foram pressionados no final da década de 1960 e começo da de 1970, pelos latifúndios cacaueiros do sul da Bahia gerando violência no campo. Os problemas sociais e agrários daquela parte do Brasil foram resolvidos com a atração destes pequenos produtores e trabalhadores rurais, os burareiros, para o plantio de cacau em Rondônia, onde foram assentados onde está localizada a microrregião Ariquemes. Mas, onde estão os intelectuais que conduzem a Semana da Consciência Negra que, por algum motivo ideológico, preferem manter no anonimato esta parte da formação histórica e econômica de Rondônia e “deste” país? Consciência Negra! Do que jeito em que está, é o que anda em falta nestes festejos e homenagens.
Fonte: Francisco Matias - Historiador, escritor regional e analista político
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