A COPA DO MUNDO E O GOVERNO – PARTE II

1.UM FRACASSO RETUMBANTE – A derrota da seleção brasileira na tarde de terça-feira, dia oito de julho de 2014, não pode ser analisada apenas por esse prisma: o da derrota. Existem várias coincidências na história da seleção canarinha, o escrete de ouro, a seleção pentacampeã mundial, a saber: este ano a seleção brasileira completará 100 anos de existência. O primeiro jogo da seleção canarinha ocorreu no dia 20 de setembro de 1914, no Club Gymnasia Y Esgrima de Buenos Aires. Imagine contra qual seleção e o resultado. Argentina 3x0 Brasil. Cem anos depois, a seleção da Argentina está na final, na Copa do Mundo no Brasil, sem ter que jogar com a seleção brasileira.

2.A TRAGÉDIA NACIONAL - Outra coincidência histórica relaciona-se à Copa do Mundo de 1950, a primeira disputada “nesse país”, considerada uma página negra na nossa história, uma tragédia nacional. As gerações pós-1950 cresceram sob esse estigma, como uma cicatriz ou uma tatuagem que tivesse que ficar escondida. Não se fala que naquela Copa do Mundo a seleção brasileira teve um excelente desempenho e jogou para vencer o torneio.  Foram seis jogos com os seguintes resultados: Brasil 4 México O; Brasil 2 Suíça 2; Brasil 2 Iugoslávia 0; Brasil 7 Suécia 1, nas quartas de final; Brasil 6 Espanha l, na semifinal.  Em cinco jogos, o Brasil venceu quatro, deu duas goleadas, uma na Suécia e outra na Espanha, e teve um empate. Na final, no sexto jogo, a seleção entrou em campo com Barbosa, goleiro, Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo Alvin e Bigode; Friaça, Zizinho, Ademir Menezes, Jair Rosa Pinto e Chico. Foi um jogo disputadíssimo, a seleção abriu o marcador com um gol de Friaça, mas o Uruguai reagiu e fez dois. Uruguai 2 Brasil 1.O Uruguai sagrou-se bicampeão mundial e o Brasil vice-campeão. A seleção do Uruguai havia sido campeã na Copa do Mundo de 1930.

3.O Maracanã, construído para esse mundial, silenciou com o gol do uruguaio Obdúlio Varela, nos últimos minutos do 2º. Tempo. Nas lágrimas dos brasileiros, a frustração e a revolta. Para piorar ainda mais entrou em cena a questão racial. O goleiro Barbosa, primeiro negro a vestir a camisa canarinha, foi massacrado por haver “engolido um frango” e por ser negro. Não foi frango. A bola passou bem no cantinho, rasteira e veloz. O goleiro Barbosa, não teve chance. Mas ele foi moído e, pouco depois, pendurou as chuteiras. A coincidência com a Copa 2014 da FIFA? O jogo contra a Suécia, no dia 09 de julho de 1950, quando o Brasil venceu de 7x1. Pois é. Sessenta e quatro anos depois, a vingança europeia veio com a seleção da Alemanha, no estádio Mineirão, em Belo Horizonte. A diferença: a seleção de 1950 jogou bem, correu, marcou e caiu lutando. A de 2014 ficou perdida no gramado, assistindo a Alemanha jogar como se fossem meninos enfrentando um time de adultos.  

4.Esta coluna não pretende analisar a derrota do Brasil, o vexame, a tragédia do século XXI em pleno território brasileiro, em uma Copa do Mundo totalmente diferente daquela de 1950. A análise será feita sobre a vitória da Alemanha, uma seleção que chegou às semifinais com muitas dificuldades. Portanto, preparou-se para enfrentar os donos da casa, a seleção tetracampeã mundial, com uma história de fazer inveja a qualquer seleção do mundo. Essa geração de jogadores alemães cresceu ouvindo falar das proezas do Brasil, de Pelé, Garrincha, Didi, Tostão, Zico, Gerson, Ronaldo Nazário, Ronaldinho Gaúcho, Romário e Neymar Jr., dentre outras estrelas do futebol. Sabiam que iriam enfrentar uma pedreira. Por isso ficaram boquiabertos, aparvalhados logo nos primeiros minutos do 1º. tempo. Estava fácil demais. Parecia que só havia um jogador brasileiro em campo: David Luiz. Era David contra a Alemanha, afinal, Deus é brasileiro.

5.Mas deu tudo errado. E não teve mais gols porque a Alemanha não quis fazer. A vitória da Alemanha não pode ser medida apenas pelos cinco a zero no primeiro tempo e mais dois gols no segundo. Representa, na verdade, o sucesso do planejamento contra o insucesso do improviso. A seleção alemã é uma equipe. A seleção brasileira, um time amontoado, cheio de estrelas do futebol, craques individuais que jogam nos melhores times do mundo, mas se mostrou de uma improvisação total. O jogo foi todo da Alemanha, que respeitou o Brasil, fez fair play, e, por isso, o placar não foi mais humilhante. Quanto ao povo brasileiro, o resultado de 7X1 foi pior do que aquele de 1950, de 2x1. Naquela final de copa do mundo a dor foi tamanha que o Brasil chorou. Nesta semifinal, não deu nem pra chorar. Foi só abaixar a cabeça, se sentir humilhado e olhar o amontoado de craques da humilhada seleção brasileira, perdendo para uma equipe que joga para a equipe. E vai para a final contra a Argentina. No Maracanã. O adeus foi brasileiro, segundo postou um jornal espanhol.

Historiador e analista político*