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Francisco Matias

A INDEPENDÊNCIA, A AMAZÔNIA, E PORTO VELHO -1


Por Francisco Matias* 
 

1. Passadas as comemorações do dia 7 de setembro, neste ano  de 2012, quando o Brasil comemora  190 anos de independência de Portugal, fato ocorrido em São Paulo, em 1822,  às 16:30h, numa tarde  de sábado, às margens do riacho Ipiranga, esta coluna retorna à ativa para referir-se ao 7 de Setembro, em dois momentos muito importantes. No primeiro, a própria independência do Brasil e os ecos do brado de Dr. Pedro I na Amazônia. No segundo momento, a importância desta data para o município de Porto Velho, noventa anos mais tarde. Como registra a História do Brasil, o Grito do Ipiranga, ou, o brado da Independência, fez-se ouvir na voz, em tom marcial, do príncipe regente do Brasil, para uma tropa de luso-brasileiros, perfilada, diante do príncipe Pedro de Bragança (e mais 21 nomes e sobrenomes) que decidiu romper seus laços com Portugal e sua família, e declarar o Brasil livre dos domínios da Coroa portuguesa. Convém esclarecer que o Brasil fazia parte do Reino Unido, com Portugal e Algarves desde a instalação da família real na Colônia, em 1808.

2. Passados 190 anos, os ecos do grito do Ipiranga ainda ressoam por um Brasil unificado, independente da Metrópole, mas ainda dependente de outras, apesar de ser hoje da 5ª. maior economia do mundo. Seja como for, o Príncipe Pedro de Bragança procurou resolver, naquela tarde, depois de meditar por algumas horas, a grave crise política que vivenciava por estar submetido a uma permanente pressão das Cortes portuguesas e, sobretudo, das agitações que se multiplicavam no Brasil. Por volta das 11 da manhã, quando repousava às margens do Ipiranga, depois de um longo percurso de Santos em direção à Vila de São Paulo e daí seguiria ao Rio de Janeiro, ele havia recebido das mãos do mensageiro Paulo Bregaro, três cartas, sendo duas com o selo das Cortes e uma, com o selo da regente interina, sua esposa a princesa Leopoldina Josefa de Habsburgo. Esta carta o deixou intrigado e o levou a oficializar sua decisão, posto que, desde o começo de agosto ele já havia assinado vários manifestos versando sobre a independência. Mais ainda.

3. No dia 21 de agosto de 1822 a loja maçônica Grande Oriente do Brasil, do Rio de Janeiro, reunida havia decretado a independência do Brasil. Esta loja maçônica reunia importantes personalidades públicas como Gonçalves Ledo e José Bonifácio, influentes conselheiros do príncipe Pedro de Bragança, e havia conferido ao jovem príncipe o título honorífico de grão-mestre. Desse modo, diante da sociedade organizada do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, o Brasil já estava independente. Faltava apenas a decisão política oficial do príncipe regente. Esta decisão ocorreu na tarde daquele sábado , 7 de setembro, porque um fato novo foi acrescentado. Ao receber as cartas, Pedro de Bragança percebeu que uma delas não vinha das Cortes, como se viu acima,  mas de sua esposa, a princesa Leopoldina, que lhe alertava para a gravidade da conjuntura política e dizia que estava na hora de deixar de lado “medidas mornas” e tomar uma decisão final para não piorar ainda mais a crise com o Reino.

4. A missiva de D. Leopoldina foi a gota d’água e revelou a influente participação da mulher no início do século XIX. O príncipe Pedro de Bragança, após longa meditação, reuniu a guarda de honra que o escoltava, o padre Belchior Pinheiro, seu consultor religioso, o secretário Luís Saldanha da Gama, futuro marquês de Taubaté, seu secretário particular Francisco Gomes da Silva, o ajudante-de-ordem major Francisco de Castro Canto e Melo, e os criados João Carlota e João Carvalho para que todos fossem testemunhas do seu ato, e proclamou a Independência, tornando-se imperador e defensor perpétuo do Brasil, condições que seriam oficializadas pela Constituição de 1824. Contudo, a notícia somente chegou às capitanias de Mato Grosso e de São José e Rio Negro (atual Amazonas) quase um ano depois, a 23 de agosto de 1823, por coincidência outro sábado, através do capitão inglês John Pascoe, que, cumprindo ordens do imperador D. Pedro I, e pela força das armas, obrigou o governo do Pará a aderir à nova ordem, sob pena de prisão e morte, haja vista Belém manter mais relações com Lisboa do que com o Rio de Janeiro. O mesmo ocorreu no Mato Grosso. Até então, os governos das capitanias do Grão-Pará, São José e Mato Grosso eram exercidos por capitães-generais nomeados por cartas-régias emitidas pelo governo de Portugal.  Desse modo, a elite paraense, amazonense e mato-grossense recusava-se a aceitar a independência, mas, diante dos marinheiros ingleses (no caso do Pará e do Amazonas), não teve outra opção, mesmo porque, o comandante inglês trazia nas mãos a carta imperial que unificava o Estado do Maranhão e Grão-Pará ao Estado Brasil, quisesse ou não a elite mandante da região.

5. NAS TERRAS QUE FORMAM O ESTADO DE RONDÔNIA, o primeiro registro oficial da independência do Brasil está inscrito em uma pedra,  às margens do rio Madeira, próximo à  ex-cachoeira de Santo Antonio, e nos remete ao dia 7 de setembro de 1922, quando o Brasil comemorava cem anos da independência. Ali, a Câmara Municipal de Santo Antonio do Alto Madeira,MT, realizou uma cerimônia cívica para homenagear a data. No mesmo dia, a Câmara Municipal de Porto Velho,AM, juntamente com a associação comercial, promoveu uma homenagem no lugar onde hoje está a Praça Getúlio Vargas, no centro de Porto Velho. Naquele dia, uma garota libanesa, de 14 anos de idade, encantou os presentes, ao declamar uma poesia de Olavo Bilac em homenagem ao dia 7 de setembro. Esta jovem, ainda vive em Porto Velho, na Vila Cayari, é a nobre e honrada senhora Labibe Bártholo, que nos seus mais  100 anos de idade,  representa o pensamento de independência deste Brasil de todas as raças.

Historiador e escritor regional(*)

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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