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Francisco Matias

A MADEIRA-MAMORÉ E A I GUERRA MUNDIAL-SÉRIE 30 ANOS



Por Francisco Matias(*)

1.A primeira Guerra Mundial teve início em 1914 e terminou no final de 1918. Nessa época, a Amazônia brasileira ainda era a maior produtora de borracha silvestre do mundo, apesar dos avanços da borracha cultivada no sudeste asiático pelos mercados europeus e norte-americano. O governo brasileiro, as autoridades da Amazônia e do Mato Grosso, e os seringalistas, pareciam não dar muita importância aos efeitos do plantio de seringueiras nas colônias inglesas, francesas, holandesas, belgas e norte-americanas, a exemplo da Malásia, do Ceilão, de Hong Kong, do Vietnam e das Filipinas. De certo modo, o Brasil desprezou os alertas publicados pela Indian Rubber World, a as decisões do Wortrade Board e do New-York Latex, que fixavam o preço da borracha e determinavam o câmbio no mercado internacional. Mesmo assim, a Amazônia exportou nesse ano 37 mil toneladas de borracha. Neste cenário extrativo, produtivo e exportador, a Madeira-Mamoré, com seu sistema intermodal de transporte rodoviário, ferroviário, hidroviário e marítimo, teve importante papel na economia amazônica.

2.Foi por isso que a empresa decidiu aumentar seu quadro de funcionários e importar mais mão de obra estrangeira, entre1914 e 1918, notadamente trabalhadores antilhanos, procedentes de Barbados, Santa Lúcia, Trinidad-Tobago e Nova Granada, todos súditos ingleses que chegavam a Porto Velho e eram locados ao longo da ferrovia até Guajará Mirim. Enquanto isso, a nível nacional, o governo federal buscava uma maneira de entrar na guerra, alistando brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil de nacionalidade inglesa, francesa ou norte-americana. Desse modo, no início de agosto de 1918, o Congresso Nacional aprovou o projeto nº 085/1918, de autoria do deputado federal Nicanor do Nascimento,RJ, deliberando sobre a mobilização de estrangeiros no Brasil súditos das nações aliadas, no caso de haver mobilização de tropas brasileiras.

3.Foi o que ocorreu. O Brasil despachou para o campo de guerra europeu os vapores Bahia e Rio Grande do Sul, os destroyers Parahyba, Rio Grande do Norte e Santa Catarina, o cruzador Belmont e o rebocador Laurindo Pita. Estava dado o sinal para o alistamento de voluntários estrangeiros. É aí que entram a Madeira-Mamoré e os negros antilhanos. Súditos ingleses, dispostos a participar da guerra, 48 funcionários da empresa Madeira-Mamoré, denominados genericamente barbadianos, partiram para a guerra no dia 01 de setembro de 1918. Foram embarcados no vapor Tupy, com destino a Londres para serem incorporados aos batalhões negros que combatiam os alemães e seus aliados. Por esta razão histórica, esta coluna resolveu trazer a lume esta parte da história regional, talvez desconhecida para muitos estudiosos e professores e, até, por familiares destes homens, negros antilhanos, que, partindo de Porto Velho, da Madeira-Mamoré, foram servir ao Reino Unido, como cidadãos ingleses, na I Guerra Mundial.

4.Eis os nomes dos homens que embarcaram no vapor Tupy, no porto velho do rio Madeira, cidade de Porto Velho, AM, quando da primeira formação do atual Estado de Rondônia: Sidney Willians, J. Harrison, Donald Prescott, Franklin Clovis, Sinclair Clement, Norman Phllipps, James Edward, Sam Brown, Mac Donald Francis, Stanley Lewis, Alfred Archibald Jones, Gerald Odion, Milton Messiah Murray, Leonard Trotman, Arthur Nathanael Niles, Charles Seakless, Ruben Phillipps, Preston Springer, Eleazar Rock, Lionel Silvester, Hollosced Stacey Granble, Thomas Bradford, James Hicks, Joseph Mings, Charles Kirton, Willian Chesterfield, Willock James Jordan, George Lewis Moore, Cecil Greennidge, Henry Blebby Phillipps, Ruppert Burnet, Westerman Alonza Levine, Clarence Gardner Fritsgerald, Cecil Oliveira, Joseph Theophilus Camford, James Lorenzo Ashby, Motley Howard Phillipps, Eric Bourn, Isley Bowen, Arnold Fite Roberts, Peter Dubon, Adolpho Scotty, Wibbert Cumberbaten, Isaac Springer, Eustage Holder, e Herman Hoppin.

Portanto, se a Madeira-Mamoré transportou borracha para a I Guerra Mundial, como de fato ocorreu, também liberou seus funcionários para participarem do conflito. E lá se vão 94 anos de História, revelados aqui, nesta coluna.

Historiador e analista político(*)

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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