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Francisco Matias

A Posse - Parte II


A Posse - Parte II - Gente de Opinião

1. A Assembleia Legislativa cumpriu suas funções constitucionais e deu posse ao governador Confúcio Ayres de Moura, na tarde do dia 1º. de janeiro 2011, com pompa e circunstância. Foi uma solenidade rápida, durou pouco mais de uma hora, a partir das 15h45minh. O discurso de posse do novo governador deixou entrever que as coisas vão mudar na gestão pública. Seriedade, republicanismo, rodonismo e outros ismos deram a tônica nas palavras do governador. Mas, por trás do discurso estava a crise. Confúcio, ao estilo getulista, que inaugurou a República Nova, ou à maneira tancredista que fundou a Nova República, fincou as bases de uma Nova Rondônia, com ênfase ao pacto de governabilidade e promessas de transparência e impessoalidade na administração. É o mogno plantado imaterialmente no governo de um governador parece gosta de símbolos e emblemas. Mas...

2. Havia uma crise a esperá-lo na outra ponta da posse, no simbolismo da entrega e recebimento do governo. Na passagem da faixa, símbolo do poder e da outorga popular. Confúcio, que já havia sido empossado pela Assembleia Legislativa, na concorrida sessão solene realizada nas dependências da Nautilus Eventos. Contudo, deveria receber a transmissão do cargo no Palácio Presidente Vargas, sede do Poder Executivo, local do gabinete de despachos do governador. Ali, na sacada, diante do povo, o ritual de posse deveria ser consumado. O governador João Cahula, que saía, deveria passar a faixa do poder ao governador Confúcio, que entrava. Contudo, o cerimonial foi realizado às avessas.

- Antes, vejamos o que tem ocorrido em Rondônia durante esta solenidade simples, eivada de simbolismo, que não influi nem contribui para os destinos do governo, do governador ou do Estado, porém simboliza de forma clara e precisa a alternância do poder, seja a nível estadual ou federal.

3. Tudo começou na posse do governador Valdir Raupp, em 1995. O governador que saía, Oswaldo Piana Filho, era adversário figadal do que entrava, Valdir Raupp, que havia dizimado o candidato governista, Chiquilito Erse, mas já havia sido derrotado pelo governador Piana em 1990. Inimizades, mágoas e ódios à flor da terra, Piana não compareceu ao palácio Presidente Vargas para passar a faixa a Valdir Raupp, que ficou um governador sem-faixa. Constrangimento geral. Cadê a faixa? “O Piana levou”, diziam as más línguas de plantão. Todavia, no final do seu governo Raupp passou a faixa ao governador Bianco. No entanto, quando chegou a vez de Bianco cumprir o ritual de transmissão do cargo e passar a faixa para o governador que entrava, Ivo Cassol, novamente o entrave, a mumunha, o faniquito. O governador Bianco, que havia se desentendido com Cassol minutos antes da cerimônia de posse, desistiu na última hora de cumprir o ritual, deu as costas e foi embora. Cadê a faixa? Sumiu mais uma vez. Ivo Cassol tornou-se outro governador desenfaixado. Foi constrangedor. Mas, em seu segundo mandato, Ivo Cassol não se fez de rogado. Mandou confeccionar uma faixa e, quebrando protocolos e cerimoniais,  a recebeu de sua genitora. Suspiros de alívio. Cassol, era, afinal, um governador com faixa, e uma novinha em folha.

4. Pois bem. A posse do governador Confúcio Moura, neste 1º. de janeiro de 2011, tinha tudo para ser brilhante, sem faniquitos, com os rituais cumpridos, não fosse um detalhe: antes de tomar posse, não se sabe bem o porquê,  Confúcio resolveu se meter no governo Cahula, na questão dos ônibus escolares entregues ao apagar das luzes às prefeituras. Através de seu blog, o governador diplomado, Confúcio, ameaçou prefeitos, questionou o governador Cahula e gerou uma crise política, de certa forma desnecessária e sem luz no fim do túnel. Resultado: João Cahula não compareceu para a solenidade de transmissão do cargo e passagem da faixa. Todavia, o protocolo, o simbolismo teve outros caminhos. A faixa foi entregue “a manu militari”. Foi uma policial militar quem a conduziu até a sacada, e foi um oficial superior PM, o tenente-coronel Lessa, quem passou a faixa ao governador. Um militar, chefe da Casa Militar, a mesma que o governador empossado e quase desenfaixado declarou ter intenção de reduzir funções e quadro de pessoal.

5. Mas, por onde andava o chefe da Casa Civil, Guilherme Erse? Ou, na falta deste, o coordenador geral do governo, Carlos Alberto Canosa? Ou, em último caso, o presidente da Assembleia Legislativa, substituto eventual do governador? Estes deveriam ser os representantes civis do governador que saía e se fazia ausente - por deselegância, mumunha, retaliação, faniquito - ou coisa que o valha. Não poderia, portanto, ser o chefe da Casa Militar, que, apesar de ser um gentleman não tem essas atribuições. Seja como for, o governador Confúcio Moura recebeu a faixa, assumiu o governo e foi dar posse ao seu secretariado. Mas, tem uma crise no ar, simbolizada pelo gesto do ex-governador cassolista, que desceu as escadarias do Palácio e, sobretudo, pela não-entrega da faixa-símbolo do poder por quem de direito. Para quem utiliza o simbolismo como emblema de governo, Confúcio Ayres de Moura pode até não dizer, mas foi um choque, como se dois ônibus escolares tivessem colidido em plena Av. Presidente Dutra, diante da sacada do Palácio do Governo.

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Fonte:  Francisco Matias - Historiador e analista político

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