Terça-feira, 2 de julho de 2013 - 16h50
Por Francisco Matias (*)
1.Na literatura sobre a formação do estado de Rondônia encontramos vários temas sobre desaparecimentos célebres de pessoas que se internaram na Amazônia rondoniense, ou sofreram acidentes aéreos em suas penetrações na região. Os historiadores Esron de Menezes, Amizael Silva e Vitor Hugo (in memorian), preocuparam-se em registrar em suas obras pioneiras alguns desses casos, envolvendo engenheiros, pesquisadores, e, mais recentemente, funcionários do INCRA que sumiram na floresta e foram - ou não - resgatados. Talvez o mais famoso e misterioso desaparecimento célebre seja o do tenente Fernando, nos idos da década de 1930, no lugar conhecido por São Pedro, na área do atual município de Itapuã do Oeste,RO.
2. Os desaparecimentos célebres de Rondônia, em seu processo de formação sociopolítica estão, como foi dito, registrados em livros lançados em Rondônia, na Amazônia e no Brasil. Mas, existe um desaparecimento que, por algum motivo, não foi registrado na literatura regional. Se for levada em conta a importância política, administrativa e histórica do principal personagem desse episódio, vale a pena trazer à luz da História. Convém salientar que esse episódio faz parte de um livro publicado nos EUA, no início da década de 1970, com o título Three Days in July, escrito por W. B. McHenry, que atuou na operação resgate de ninguém mais ninguém menos que o coronel ALUÍZIO PINHEIRO FERREIRA, na época governador do Território Federal do Guaporé e ainda diretor-geral da empresa Estrada de Ferro Madeira-Mamoré,EFMM.
3.O PRIMEIRO DOS TRÊS DIAS DE JULHO - Tudo começou na manhã do dia 5 de julho de 1945, uma quinta-feira. Naquele dia, o governador Aluízio Pinheiro Ferreira embarcou no avião Grumman G21A Prefixo NR 46497, de propriedade da poderosa empresa Guaporé Rubber Corporation, empresa norte-americana que controlava a Guaporé Rubber Company, a Julio Müller Company e a Companhia de Incremento da Borracha, todas com sede em Guajara Mirim e atuantes no vale do Guaporé, lado brasileiro e lado boliviano. A aeronave, pousada no aeroporto de Porto Velho, estava a serviço da Companhia de Incremento da Borracha. O governador conseguiu o avião através de seu amigo, o coronel Paulo Cordeiro Saldanha, gerente geral do grupo Rubber Company em Guajará Mirim. O governador iria aproveitar o final de semana para realizar inspeção nas regiões do Vale do Guaporé, a partir da localidade de Vilhena. No mesmo vôo embarcaram os cidadãos norte-americano, Mr. Soheer, morador de Porto Velho, com seringais na região de Vilhena e vale do Guaporé, e Mr. Meyer, um dos gerentes do grupo Rubber Company. O piloto era Ralph Cooley e o co-piloto Rex Weslh, ambos norte-americanos.
4.O vôo foi tranqüilo. O governador inspecionou as obras do aeroporto de Vilhena e visitou o posto telegráfico da Comissão Rondon, operado por um índio Pareci e sua família. No mesmo dia teve início a segunda fase da viagem. O Grumman decolou de Vilhena com destino a Guajará Mirim, com pouso previsto na base militar boliviana de El Cafetal, onde deveria reabastecer na localidade, em um posto da Companhia de Incremento da Borracha. Nesta fase do vôo, uma novidade: o governador Aluízio Pinheiro Ferreira passou a atuar como navegador. Era o co-piloto do avião. Profundo conhecedor da região desde quando trabalhou nos seringais e na época em que se tornou legionário da Comissão Rondon, 1928/1932, ele já havia percorrido o Vale do Guaporé por terra e por água, a pé, em canoas e lombo de cavalo e tropas de muares. Mas de avião a coisa muda muito. O panorama visto do ar é mais complicado.
5.E fica ainda mais complicado quando surge um mau tempo inesperado. Foi o que ocorreu a quinze minutos de El Cafetal. Na verdade o avião já havia decolado sob mau tempo que piorou muito durante o voo. O governador Aluízio Ferreira sugeriu o retorno a Vilhena. O que foi feito. Nessa noite, pernoitaram no barracão do seringal de Mr. Soheer. O dia 6 marca o SEGUNDO DIA DOS TRÊS DIAS DE JULHO. Ás cinco da manhã o café foi servido e o grupo parte para o aeroporto com a finalidade de retomarem o voo para El Cafetal. Às seis horas, o Grumman decolou. O piloto informa que ainda há mau tempo, mas a situação está sob controle. Estava enganado. A chuva e o vento, as nuvens que se formavam iriam tornar o voo um verdadeiro inferno para o governador Aluízio Ferreira e seus companheiros de voo.
Historiador e analista político(*)
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