Sexta-feira, 10 de maio de 2013 - 14h01
Por Francisco Matias(*)
1.A PRISÃO DO GENERAL RONDON, continuação – No artigo anterior esta coluna procurou mostrar um dos episódios da historiografia brasileira envolvendo o início da Era Vargas e o marechal Rondon, a propósito das poucas informações sobre sua prisão no Rio Grande do Sul, e do informe por parte do seu neto que esta teria ocorrido na cidade de Porto Alegre pelo empresário e jornalista Assis Chateaubriand, disfarçado de oficial do Exército. Apesar de ter vasculhado várias biografias sobre o marechal Rondon, compostas por estudiosos nacionais e estrangeiros, jamais este colunista encontrou nada a respeito, a não ser....Em uma matéria publicada no Jornal Alto Madeira, edição de 15.12.1930, transcrita do Jornal do Commércio, do Rio de Janeiro,DF. É o próprio Rondon quem narra esta parte de sua ainda enigmática biografia.
2. Vamos aos fatos. Quando eclodiu a Revolução de 24 de outubro de 1930, Getúlio Vargas decidiu ser importante assegurar a posse da fronteira sul do país e, concomitantemente, prender o inimigo da Revolução, o general Cândido Mariano da Silva Rondon, que se encontrava no Rio de Grande do Sul em inspeção de fronteira. O governo revolucionário entregou a missão ao capitão Miguel Costa, um dos chefes da coluna Prestes-Miguel Costa, ordenou seu deslocamento rápido para a região e o encarregou de ocupar a cidade de Marcelino Ramos, e prender Rondon. O general, chefe do serviço de inspeção de fronteiras e do Serviço de Proteção ao Índio,SPI, viajava em um trem com destino à cidade fronteiriça de Marcelino Ramos. Ele dormia quando o trem parou na estação da cidade e foi abordado pelos soldados da coluna Prestes-Miguel Costa. Na sequência, um grupo de oficiais subiu a bordo: “Ali está o general”, falou bem alto o oficial alto, branco. Era o capitão Miguel Costa, comissionado general pelo presidente Getúlio Vargas. Incontinenti, o general Miguel Costa avisou: “Acho conveniente que o general não prossiga sua viagem”, disse ao sonolento e estupefato Cândido Rondon.
3.Surpreso, Rondon ainda não havia compreendido a situação. O general Miguel Costa foi taxativo: “Para evitar maiores desgostos, v.excia. deve deter-se aqui”. Rondon continuava sem entender. O oficial insistiu: “Previno a v.excia. que a revolução acaba de estourar em todo o Rio Grande. É por essa razão que v.excia. deve descer aqui. Eu sou o general Miguel Costa”. Finalmente Rondon acordou de todo e pode compreender o que estava ocorrendo. Estava sendo preso. Logo, estendeu a mão ao general Miguel Costa. Este retribuiu o cumprimento e voltou-se para outro oficial e o apresentou a Rondon. “Este é o general Felipe Partinho”. Rondon o cumprimentou com um aperto de mão. Ele já o conhecia de nome desde a campanha do Contestado, em 1924, no Paraná.
4.Rondon foi intimado a descer do trem e o general Miguel Costa o apresentou a um grupo de jornalistas de São Paulo que passaram a entrevistá-lo. “O general ficará na companhia de vocês”, disse Miguel Costa. Em seguida, a tropa partiu e deixou Rondon vigiado por membros da Guarda Patriótica, uma milícia armada pelo governo. Um soldado zombou de Rondon. “Ele é moreno, mas quando foi preso ficou bem branco...” Rondon não se deixou abalar e riu gostosamente. Além de Rondon, foram presos dois motoristas e um cinegrafista, que foram levados pelo comboio militar. Mas, a pedido de Rondon, via telégrafo, o general Miguel Costa ordenou que retornassem. Havia ainda um garoto indígena, da nação Nhambikuara, do alto Guaporé, de 14 anos de idade chamado José, que o acompanhava. Rondon foi enviado a Porto Alegre, onde ficou preso por quase noventa dias. No final de dezembro, foi libertado e chamado ao Rio de Janeiro, onde foi recebido, no Palácio do Catete, pelo general Andrade Neves, chefe do Gabinete Militar do Governo Provisório da Segunda República. Mas jamais seria o mesmo.
5.Sua prisão o impediu de galgar a mais alta patente da carreira militar no Exército: a de marechal. Rondon foi colocado na reserva R/1, na patente de general de Divisão e sofreu sua mais humilhante derrota, ao ser acusado de corrupção, dilapidação de verbas públicas e ver o governo desmobilizar sua legião de fronteira e extinguir a Comissão das Linhas e Estações Telegráficas Estratégicas do Mato Grosso ao Amazonas, CLTEMTA, sob a alegação de que eram apenas para serem destruídas pelos índios. Pior ainda: Rondon deixava a caserna frustrado por ter sido abortada sua carreira militar. Estava na reserva. Como general de Divisão, e não como Marechal. Portanto, como se pode observar, o general Rondon nunca foi marechal, não foi preso em Porto Alegre e não foi Assis Chateaubriand, disfarçado de oficial, que o prendeu. Foi, na verdade, o capitão Miguel Costa, em um trem, na pequena Marcelino Ramos, uma cidade da fronteira sul do Brasil. Miguel Costa prendeu Rondon cumprindo ordens do governo Vargas. Mas, ele deve ter se lembrado do ano de 1924, quando a coluna Prestes-Miguel Costa era perseguida por tropas federais e Rondon, no Mato Grosso, atual Mato Grosso do Sul, recusou-se a combatê-la e permitiu que cruzasse a fronteira e penetrasse na Bolívia. Talvez. Quem sabe, por esse motivo o tratou com educação e respeito.
Historiador e analista político (*)
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