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Francisco Matias

BRASIL – AS BASES DO GOLPE MILITAR DE 1964 - II


      

BRASIL – AS BASES DO GOLPE MILITAR DE 1964 - II  - Gente de Opinião

                                                          Presidente Getúlio Vargas

1.O Golpe Militar de 1964 está completando 51 anos. Desencadeado na manhã do dia  31 de março de 1964, uma terça-feira, a partir da mobilização de tropas federais do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. No entanto, suas raízes políticas e históricas estão na década de 1920, quando o Brasil era um país predominantemente rural, tendo como principal base econômica o café, o leite, o açúcar e, apesar de estar em decadência, a borracha. Esses modelos econômicos produziam uma sociedade feudal, egressa do período imperial e escravista: eram os barões do café e do leite, os coronéis do açúcar,  do gado, e de barranco. Mas, este modelo econômico estava moldado em uma imigração europeia, atraída para o Brasil com a finalidade de “branquear” a mão de obra no campo e evitar à oligarquia cafeeira, leiteira e açucareira o pagamento de salário a ex-escravos. Entre 1900 e 1929, muita coisa se passou no mundo e seus resultados influenciaram à nova sociedade brasileira. Na Europa, o golpe de estado que destronou o Kzar da Rússia,  instalou a revolução bolchevique, de forte conteúdo marxista, tendo como líderes principais Vladimir Lenin e Josef Stalin.  No meio desse processo, os resultados da II Revolução Industrial, a eclosão da primeira guerra mundial e seus desdobramentos  na América do Sul. No desenrolar desses acontecimentos, o Brasil saía da República dos Marechais e passava a eleger líderes civis em processos eleitorais muitas vezes duvidosos, manipulados pelas oligarquias paulista, mineira e carioca. Era a Política do Café com Leite atuando com força no Brasil.

2. No governo do presidente Arthur Bernardes, décimo presidente civil, (1922-1926) eclodiu a Revolta Tenentista, iniciada em São Paulo, sob a liderança do capitão Isidoro Dias Lopes. Este movimento surgiu na caserna paulista, mas  expandiu-se a partir da cidade do Rio de Janeiro, então capital federal, principalmente entre oficiais subalternos e intermediários do Exército (tenentes e capitães), com destaque para os “tenentes” Juarez Távora, Miguel Costa e Luiz Carlos Prestes. Em 1935 ocorre  a Intentona Comunista que pretendia dar um golpe de estado e derrubar o presidente Getúlio Vargas. Surge a Coluna Prestes-Miguel Costa, que luta pela derrubada do governo Vargas e tem caráter comunista, influenciado pela União Soviética, com firme discurso antiamericano.

3.No entanto, as raízes desses movimentos não estão apenas na revolução marxista de 1917, mas também na quebra da Bolsa de Valores de Wall Street, que instalou a Grande Depressão Mundial e, no Brasil,   a crise econômica provoca a queda da oligarquia do Café com Leite para dar lugar a um líder político estranho ao ninho do poder central: o governador do Rio Grande do Sul Getúlio Dornelles Vargas. Advogado, ex-militar, foi deputado estadual, federal e ministro da Fazenda do governo Washington Luís. Era, portanto, um profundo conhecedor das entranhas do governo e das fragilidades dos políticos paulistas, cariocas e mineiros. A eleição de 1930 mostra, no entanto, que a oligarquia paulista e mineira ainda estava muito forte e o candidato a presidente Getúlio Vargas foi derrotado pelo paulista Júlio Prestes que obteve mais de um milhão de votos contra 700 mil dados à chapa Getúlio/João Pessoa. Estava dada a largada para o golpe de estado que derrubaria o presidente Washington Luís da presidência, impediria a posse do presidente eleito Julio Prestes e levaria uma junta militar ao poder. Esta junta governativa passou o governo ao chefe da revolução, o Dr. Getúlio Vargas.

4. Enquanto isso, o capitão Luís Carlos Prestes, refugiado em Buenos Aires, anunciava sua adesão ao comunismo soviético e fundou a Liga da Ação Revolucionária. Estão lançadas as primeiras bases para o golpe militar de 1964, como se verá em outros artigos. O presidente Getúlio Vargas inaugurou sua primeira ditadura, fechou o Congresso e firmou: “de hoje em diante não haverá mais intermediário entre o governo e o povo”. Esta seria a primeira vez em que a democracia no Brasil seria usada para eleger políticos com firme propósito ditatorial. Getúlio Vargas  comandaria uma ditadura mas enfrentaria posições ideológicas divergentes. Ele não era do bloco capitalista norte-americano, mas não se afastava muito desta tendência. Fundou a República Nova, de inclinação socialista, mas de olho no modelo econômico alemão que começava a ser posto em prática pelo Partido dos Trabalhadores Nacional Socialista, Nazista, sob a liderança do ditador Adolf Hitler. Por outro lado, o capitão Luís Carlos Prestes trazia a influência do ditador Josef Stalin e iniciava a fundação do Partido Comunista Brasileiro, PCB.  E para completar, o político Plínio Salgado fundou a Aliança Integralista Brasileira, AIB, de forte inclinação fascista. Não faltava mais nada. Era uma nova base para o golpe militar de 1964, até porque, o capitalismo norte-americano era muito forte na economia e a influência dos EUA não era nada desprezível no país.

5.Mas, outro golpe de Estado vai ocorrer. Desta vez, um autogolpe. O presidente Getúlio Vargas, que instalou uma ditadura em 1930, enfrentou uma revolução constitucionalista em 1932, fechou e abriu o Congresso, viu-se obrigado a convocar uma Assembleia Nacional Constituinte que promulgou uma constituição federal. Vargas aproveitou-se do momento  para legalizar sua situação de golpista e foi eleito presidente constitucional do Brasil, em 1934. Mas, em 1937, ele iria reativar seu caráter ditatorial ao implantar a República do Estado Novo, 1937-1945. Estava inaugurada uma nova ditadura no Brasil, com apoio das forças armadas e do governo norte-americano, e francamente anticomunista. Em consequência, recomeçam os comunistas fazem recrudescer a luta pela derrubada do governo Vargas, cuja orientação política era  favorável ao nazismo, mas inclinando-se para o capitalismo dos EUA.

6.De repente, a segunda  guerra mundial! Recrudescem as crises político-ideológicas no país. Afinal, o presidente Getúlio Vargas é aliado da Alemanha nazista e esta havia rompido o tratado de não-agressão firmado entre Adolf Hitler e Josef Stalin. O rompimento desse acordo nazista-comunista vai influenciar no governo Vargas. Grupos políticos, orientados por Moscou, desencadeiam uma onda greves e ataques a instituições governistas. A embaixada da Alemanha recebe ordens de Berlim para alertar ao governo brasileiro sobre esses movimentos, e combatê-los. Em consequência, o governo Vargas passa a perseguir e prender importantes lideranças socialistas e implantar um pesado instrumento policial-repressivo. Desse modo, serão fincadas novas bases para o golpe militar de 1964, com profundo envolvimento ideológico-partidário de esquerda e de direita.

Historiador e analista político(*)

31.03.2015 - Porto Velho, RO.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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