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Francisco Matias

BRASIL – QUE PODER É ESSE? PARTE I


 BRASIL – QUE PODER É ESSE? PARTE I - Gente de Opinião

A foto que ilustra este artigo faz parte de um raro acervo da memória política do Brasil. Em um momento solene, o presidente FHC, que deixava o governo, passa a faixa presidencial ao presidente LULA, que iniciava naquele 1º de janeiro de 2003 o primeiro dos dois mandatos de presidente da República Federativa do Brasil. Ao fundo, o vice-presidente José Alencar.
 

1. Dos vários momentos políticos que simbolizam a redemocratização do Brasil, desde a posse do então vice-presidente José Sarney no cargo de presidente da República, em 15 de março de 1985, provavelmente a posse do sindicalista Luís Inácio Lula da Silva teve o maior simbolismo. Não apenas por sua origem política forjada na luta sindical contra o regime militar, em um partido da esquerda. Mas também pela figura do presidente Fernando Henrique Cardoso, FHC, por ser um político de esquerda, que lutou contra o regime militar. Ambos representam a luta pela redemocratização do país. Ambos foram perseguidos pela ditadura militar. FHC foi banido e exilado na França. Lula foi preso e conheceu os porões da ditadura. Os dois têm um importante legado para o povo brasileiro. Portanto, a passagem da faixa presidencial, pacífica e democraticamente, entre dois políticos de esquerda, representou a consolidação da democracia plena no Brasil.

2. Passados pouco mais de doze anos desse fato político, as coisas mudaram radicalmente.O PT e o presidente Lula decidiram desconstruir o passado recente da história política brasileira para construir uma história em que somente o PT, os petistas, o presidente Lula e, por extensão, a presidente Dilma Rousseff, aparecessem como os heróis, os mocinhos cujo jeito petista de governar fosse o mais perfeito, o mais voltado para os interesses coletivos e, sobretudo, para as camadas menos favorecidas da população. Para firmar-se como o grande benfeitor, o presidente Lula lançou-se a um projeto de divulgação que misturava ódio, bolchevismo visando a desconstrução do presidente Fernando Henrique Cardoso. FHC tinha que ser descontruído e, com ele, o PSDB e todos os que lhe seguissem ou fossem de sua linha ideológica. De repente, a esquerda de FHC virou DIREITA e a ESQUERDA de Lula, tornou-se o bem supremo do Brasil. Surge o “NUNCA ANTES NESSE PAÍS”. De repente, o silêncio ou, o sussurro democrático foram ouvidos. Na forma de conivência ideológica. Intelectuais de esquerda, ou de direita, ao que parece, perderam a capacidade crítica, a mesma que vicejava em governos anteriores. Mas, no governo Lula/Dilma desapareceu de cena. Em uma entrevista, o escritor Luís Fernando Veríssimo, um desses intelectuais que, inclusive criou um personagem, a “Velhinha de Taubaté”,  disse que “não escrevia para não parecer reacionário”. Simples assim.

3. Em doze anos de governo petista e da chamada “base aliada” (PMDB, PP, PCdoB, PDT)e outros menos votados, a democracia pela qual se lutou tanto nos 21 anos de ditadura militar, vem sendo ameaçada exatamente por quem foi às ruas para defendê-la: a esquerda brasileira. Ao que parece, o governo LULA/DILMA tem uma noção diferenciada de democracia. É só acompanhar alguns fatos para se chegar a essa conclusão: 1) o asilo ao terrorista italiano Cesare Baptisti, condenado a revelia na Itália a uma pena de prisão perpétua pelo assassinato de várias pessoas, inclusive um policial. Ele vive como um “pachá” no Brasil pelo simples fato de ser comunista e ter matado “pessoas da direita”. Como disse o então ministro da justiça Tarso Genro, do PT do Rio Grande do Sul, ao ser perguntado sobre a crise Brasil-Itália gerada pelo caso Baptisti: “A Itália é um país de direita, decadente”. Quer dizer: antes Cesare Baptisti do que toda uma nação pelo simples fato de não ser comunista e, por isso, “decadente”.

4. Como estamos na semana dos 51 anos do regime militar, vale lembrarum fato ocorrido em plena ditadura militar e outro em plena democracia petista. No final da década de 1970 policiais da Operação Bandeirantes, OBAN, em colaboração com policiais do Uruguai sequestraram um casal de terroristas do grupo Motoneros – Lilian Celiberti e Universindo Dias – que estavam escondidos em um hotel em Porto Alegre, e os entregaram à ditadura uruguaia. Era o trabalho conjunto de duas ditaduras de direita atuando com seu aparato policial na luta esquerda/direita da América do Sul. Este fato passou a ser um dos emblemas da ação autoritária do governo do presidente Ernesto Geisel, que a esquerda empunha sempre que acha conveniente.

5.Mas, no governo democrático do presidente Luís Inácio Lula da Silva, quandoda realização dos jogos pré-olímpicos no Brasil, em 2005, dois pugilistas cubanos tiveram a má ideia de pensar que estavam em um país democrático e resolveram deixar a delegação e buscar apoio do Itamaraty para fugirem para a Holanda. Ledo engano. Eles foram presos pela polícia federal, por ordem do presidente Lula, e recambiados para Cuba como se fossem criminosos como é Cesare Baptisti. Não só isso. A trama envolveu o governo da Venezuela que enviou um avião de guerra ao Brasil no qual os dois pugilistas foram embarcados para o prazer do ditador Fidel Castro, do coronel Hugo Chaves, do presidente Lula e, claro, do PT. Mas isto não pode ser dito, nem é analisado por intelectuais da esquerda e muito menos pelos da direita. É coisa que deve ser varrida para debaixo do tapete, apagada da história no interesse do governo Lula/Dilma.

6.Por tudo o que está acontecendo no Brasil, o superpresidente Lula teria comentado nesse mês de março/2015 que a presidente Dilma Rousseff deveria pedir desculpas ao povo brasileiro e dar explicações. O eterno presidente Lula está enganado. Quem deve desculpas ao povo brasileiro é o próprio presidente Lula por ter apresentado a então candidata Dilma Rousseff como “um técnico competente”, uma “gerentona” com toda capacidade para administrar o país e dar continuidade ao seu governo. Não era verdade. Nem o presidente Collor de Melo com seu saquinho de maldades, revelou-se tão incompetente. O presidente Lula sabia disso como sabia de outras “cositas más”. Portanto, se alguém deve desculpas ao povo brasileiro é o superpresidente Lula. A presidente Dilma Rousseff está no seu papel ideológico de comunista orgânica e, por isso, não tem boa convivência com algumas regras próprias da democracia plena, nem do mercado e muito menos do estado democrático de direito preconizado na constituição federal de 1988. Não tem, pois, que pedir desculpas a ninguém.  

Historiador e Analista Político*

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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