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Francisco Matias

CORONEL ALUIZIO FERREIRA – OS TRÊS DIAS DE JULHO, PARTE II


Por Francisco Matias(*)
 

1.O SEGUNDO DOS TRÊS DIAS DE JULHO - Neste artigo, continuamos com a narrativa sobre desaparecimento do coronel Aluízio Pinheiro Ferreira, fato histórico não relatado na historiografia de Rondônia. Como se pode observar, o governador era o principal passageiro do avião Grumman, pertencente à poderosa Guaporé Rubber Corporation, em uma viagem de inspeção às obras do aeroporto da localidade de Vilhena. Este episódio ocorreu nos dia 5, 6 e 7 de julho de 1945. Vamos aos fatos. O voo do Grumman tinha tudo para dar errado. E deu. Depois de decolar pela segunda vez, a aeronave teve de retornar ao aeroporto de Vilhena. Mas, às 10h35m, decolou pela terceira vez. Foi uma atitude impensada. O tempo fechou de vez. A visibilidade caiu para zero e eles nCORONEL ALUIZIO FERREIRA – OS TRÊS DIAS DE JULHO, PARTE II - Gente de Opiniãoão avistaram o rio Guaporé como pretendiam. Estavam perdidos. Encalacrados, como se diz na linguagem dos pilotos. Para piorar, o comandante não conhecia bem a região e apelo para os conhecimentos do coronel Aluízio Ferreira. Todavia, este só conhecia a região por terra e pelos rios. Os demais passageiros e equipe de voo estavam na mesma situação. Para piorar, a gasolina estava acabando. Os ponteiros começavam a descansar no ponto que marca “vazio”.

2.O temor da queda e da morte atormentava a todos. Estranhamente o governador Aluízio Ferreira estava calmo. Sua mente trabalhava com todas as possibilidades. Oficial superior do Exército, era treinado para situação de crise, de vida e morte. Conhecedor do Vale do Guaporé, buscava no horizonte um ponto, uma linha que o orientasse. Mas o tempo só piorava e ele sabia que El Cafetal estava próximo. Só não sabia aonde. Não fosse o mau tempo teria sido um voo fácil, em céu de brigadeiro, como se diz. Era só decolar de Vilhena, tomar o rumo sul da bússola, encontrar o rio Guaporé e, dependendo do ponto, dobrar para a esquerda ou para a direita, e pronto. El Cafetal era logo ali. Mas a natureza conspirava contra eles. Mas, de repente, o governador vê, através de um buraco nas nuvens, alguns relevos do altiplano boliviano e informou ao piloto: “Estamos voando no céu da Bolívia. Atravessamos o rio Guaporé” Era hora de tentar estabelecer contato com El Cafetal onde havia uma estação de rádio operado pela LAB, Linhas Aéreas Brasileiras.

3.Mas foi em vão. Ninguém respondia. O jeito era tentar um pouso forçado. Uma amerissagem em algum lago ou rio. Era o que o governador Aluízio Ferreira temia. “Não podemos nos arriscar. Não estamos no Brasil. Por aqui tem muitas rochas e montanhas. É a Bolívia”. Avisou ao piloto. Contudo, por volta do meio dia o piloto não teve outro jeito. O combustível estava no fim. A nuvem havia se dispersado por um momento e o piloto pode avistar um lago. “É um lago logo ali”, falou ao co-piloto Aluizio Ferreira. E o Grumman amerrissou no Lago Baía, em pleno Vale do Guaporé boliviano era meio dia e trinta e cinco minutos do dia 6 de julho de 1945. Estavam, afinal salvos do desastre aéreo, mas com um problema sério a enfrentar. Estavam perdidos. Encalacrados. Sem armas, sem comida, sem canoa, em um lago infestado de jacarés-açu. Como conseguir alimento? A última refeição havia sido às cinco horas da manhã. E para piorar, o governador Aluízio Ferreira havia presenteado à família do índio que cuidava do posto telegráfico de Vilhena toda a comida que havia no avião. Á tarde a fome apertou.  O governador Aluízio Ferreira comentou: “Escapamos do desastre aéreo para morrer de fome na floresta”. A fome era o maior dos problemas. Mas havia outro: a falta de comunicação. Por várias vezes enviaram SOS e não conseguiam conexão. O moral da turma estava de mal a pior. O comandante Ralph Cooley decidiu enviar mais um pedido de socorro. Àquela altura, a Companhia de Incremento da Borracha em Guajará Mirim já havia dado o aviso de desaparecimento da aeronave. Em Porto Velho a notícia caiu como uma pedra. Afinal, o governador do Território Federal do Guaporé estava desaparecido e não se sabia de nada. Se havia morrido, se estava ferido e onde estava na imensidão da floresta. O tumulto foi geral. O povo correu para a sede do governo.

5.O novo aviso de SOS foi captado pelo avião Catalina PBY5, prefixo NC 30303, comandado pelo piloto americano Willian Mason, tendo como co-piloto “Russ” Johnson. O radioperador era Al Cornick e o engenheiro de voo W.B. McHenry. Todos americanos, funcionários da Guaporé Rubber Development Corporation a serviço da Companhia de Incremento da Borracha, em Guajará Mirim. O Catalina voava de Iguitos, no Peru, para o aeroporto de Manaus. Mas recebeu ordem para mudar a rota e rumar para o aeroporto Caiary, em Porto Velho, onde pousou às 17 horas do dia 6 de julho. Na manhã seguinte, o Catalina levantou voou para Guajará Mirim. Estava iniciada a operação de busca e resgate do Grumman, sua tripulação e passageiros, perdidos em algum ponto distante no vale do Guaporé boliviano.  Era uma equipe experiente em Amazônia e, sobretudo, no Vale do Guaporé.   

Francisco Matias(*) Historiador e Analista político

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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