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Francisco Matias

CORONEL ALUIZIO FERREIRA – OS TRÊS DIAS DE JULHO, PARTE III


Por Francisco Matias(*)

1.O SEGUNDO DOS TRÊS DIAS DE JULHO – O Catalina PBY5 prefixo NC 30303, pilotado pelo capitão Willian Mason e co-pilotado por “Russ" Johnson pouso em Porto Velho ao cair da tarde do dia 6 de julho de 1945. Na manhã seguinte decolou com destino a Guajará Mirim e, de lá, para El Cafetal, no lado boliviano. O radioperador Al Cornick tentava contato com o Grumman. O engenheiro de voo era W.B. McHenry. Todos com bastante experiência em voos sobre a floresta e acostumados aos riscos. Desta vez toda a informação que possuíam era que o avião Grumman nº 4697 estava perdido no Vale do Guaporé, sem gasolina e com o governador do Território Federal de Rondônia a bordo. A ordem passada pelo coronel Paulo Cordeiro Saldanha, gerente do grupo Rubber Company, era para que o resgate ocorresse no mais breve espaço de tempo possível. Afinal, vidas estavam em jogo. CORONEL ALUIZIO FERREIRA – OS TRÊS DIAS DE JULHO, PARTE III - Gente de Opinião

2.O Catalina decolou de Porto Velho, seguiu a rota Madeira-Abunã, enfrentou mau tempo, mas a tripulação foi reorientada pelos trilhos da Madeira-Mamoré. De Guajará Mirim seguiu para encontrar e resgatar as pessoas e o avião Grumman. Lá, no meio de um lago infestado de jacarés-açus inquietos com a presença daquela gente em seu habitat natural. O governador Aluízio Ferreira e seus companheiros de infortúnio não conversavam entre si. O silêncio era enlouquecedor. Para piorar, o sol se abriu com todos os raios sobre o Guaporé. No entanto, o que mais amedrontava era a fome. Eles não comiam há três dias. A última refeição foi o café da manhã em Vilhena, às cinco horas da manhã do primeiro dia. Ironicamente, o governador Aluízio Ferreira havia presenteado a família do índio que cuidava do posto telegráfico com todo o estoque de comida que havia na aeronave

3.No TERCEIRO DOS TRÊS DIAS DE JULHO, por volta do meio dia o resgate chegou. O Catalina amerissou no Lago Baía. A alegria foi geral. Estavam salvos. Mas, o melhor de tudo estava a bordo: comida. Todos comeram a vontade. O Grumman foi reabastecido e decolou às 13h15m rumo a Porto Velho, onde pousou no aeroporto Caiary, na pista onde hoje é a avenida Farqhuar, no final da tarde. Uma multidão aguardava. A pista foi invadida. Todos queriam receber o governador desparecido por três longos dias na floresta do Vale Guaporé boliviano. Estava encerrado, com sucesso, um dos mais misteriosos desaparecimentos célebres da História de Rondônia, envolvendo um dos mais importantes, polêmicos e complexos personagens da historiografia regional, inter-regional e nacional: o coronel ALUÍZIO PINHEIRO FERREIRA.

4.Fazendo um retrospecto regional, convém salientar que a Amazônia vivenciava o 2º. Ciclo da Borracha. Nesse período, devido às circunstâncias de guerra, a borracha produzida na Amazônia era escoada para os EUA por via aérea. Por isso a utilização de muitas aeronaves na região e a construção dos aeroportos de Manaus, Macapá, Belém, Rio Branco e Porto Velho, e nesse caso específico, da localidade de Vilhena. Todos com recursos do grupo Rockfeller, através da Fundação SESP. A empresa Guaporé Rubber Company possuía várias aeronaves que levavam suprimentos para os seringais e traziam a produção de borracha nos vales do Guaporé/Mamoré, nos lados brasileiro e boliviano, com escala em Guajará Mirim e Porto Velho. Por isso, o governador aproveitou um dos voos para fazer inspeção de seu governo em Vilhena e no Vale do Guaporé, com extensão a Guajará Mirim.

5.Este importante episódio da história de Rondônia passaria despercebido, como tantos outros, não fosse a iniciativa do engenheiro de voo do Catalina, o avião de resgate W.B. McHenry (Warren Bernard McHenry), agraciado com a medalha do Cruzeiro do Sul, comenda concedida pelo governo brasileiro, por interveniência do deputado federal Aluízio Pinheiro Ferreira, em escrever, vinte e cinco anos mais tarde, a saga do avião Catalina PBY5, prefixo NC 30303, na Amazônia, durante a 2ª. Guerra Mundial, para o escoamento da borracha com destino aos EUA. Um dos capítulos do seu livro tem o título Three Days in July (Três Dias de Julho), que narra este fato histórico com uma riqueza de detalhes impressionante. Fica o registro.

Francisco Matias(*) Historiador e Analista político

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