DE CASSOL PARA CASSOL - 1ª PARTE

Por Francisco Matias*

1. O dia 5 de novembro de 2008 entra para a história política de Rondônia como uma data que não deve ser comemorada. Foi o dia em que o Estado ficou sem governador nem vice-governador. Um estado desgovernado. A razão desta situação ocorreu no dia anterior, quando o Tribunal Regional Eleitoral,TRE, decidiu por unanimidade (seis a zero), anular a eleição para governador e vice-governador, vencida pelo governador Ivo Cassol, em 03 de outubro de 2006, em primeiro turno. Ivo Cassol tornou-se o primeiro governador do Estado a ser reeleito, e em primeiro turno. A glória. Mas, o seu segundo governo, iniciado em 1º de janeiro de 2007, cujo mandato deveria se encerrar em 31 de dezembro de 2010, se revelou catastrófico, do ponto de vista político, e infernal, considerando-se o plano pessoal.

2. Ontem, 4 de novembro, os desembargadores do TRE, anularam as eleições, os votos recebidos pela chapa liderada por Ivo Cassol, e sua diplomação. Cassol ficou sem mandato e o estado de Rondônia sem governador por um dia. Tudo começou quando foi descoberta uma compra de votos, ao preço de 100 reais, junto a eleitores-funcionários de uma empresa de segurança. Esta capitação ilegal de sufrágios, ou compra de votos, segundo a justiça apurou, foi liderada pelo candidato a senador, e senador eleito, Expedito Junior, aliado incondicional do governador. Aos vendedores do voto, cerca de mil votos, caberia votar em uma chapa fechada encabeçada pelo governador Ivo Cassol, que concorria á reeleição, ao senadorável Expedito Junior, à candidata a deputado federal, Val Ferreira, esposa de Expedito Junior, e ao candidato a deputado estadual, José Antonio Gonçalves Ferreira, irmão de Expedito Junior. Prego batido, ponta virada.

3. Nem tanto ao rio, nem tanto á terra. Prego batido, sim, mas ponta virada nem pensar. Ficaram as pontas, pontiagudas como toda ponta de prego deve ser. Surgiu a denúncia, apuradas as evidências, o mundo desabou sobre o mandato do senador Expedito Junior, que foi cassado pelo TRE, que inclusive diplomou o segundo mais votado, o empresário Acir Gurgacz, que se constitui no 4º senador diplomado de Rondônia, que passou a ser o único estado no país e ter quatro senadores diplomados, enquanto os demais tem apenas três. Mas, isso é outra história. A que interessa agora é que o governador Ivo Cassol não é mais governador. E para completar o inferno de Dante do governador, foram marcadas eleições para o dia 14 de dezembro. Enquanto isso, o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Neodi Oliveira, será o governador de Rondônia. Prego batido, ponta virada.

4. Pode ser. Mas, salvo melhor juízo, o governador pode recorrer e vai recorrer na instância superior, no caso o Tribunal Superior Eleitoral,TSE. Seja como for, a sorte está lançada, o quadro político foi alterado, mas o resultado das recentes eleições municipais não irá influenciar nas eleições de dezembro, afinal, só poderão concorrer os que foram candidatos a governador nas eleições 2006, o que estreita a pretensão de alguns partidos políticos. O PT e o PMDB, os dois maiores partidos, devem estar agora com caneta, papel e calculadora na mão. Na outra ponta, o PDT, o PSDB, o PSB e o DEM, também fazem suas contas. Afinal, é um mandato-tampão de dois anos, mas com direito á reeleição. Quem se habilita?

Historiador e analista político.*