Sábado, 26 de setembro de 2009 - 08h26
Por Francisco Matias(*)
1. O estado de Rondônia, unidade federada criada em 1981, tem sua origem política o Território Federal, nas denominações Guaporé e Rondônia. O Território Federal do Guaporé, ao nascer em 1943, surgiu sobre uma área geográfica designada Rondônia, desde 1915, através de uma ação do cientista Edgar Roquette-Pinto, articulada com a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, finalmente oficializada pelo governo brasileiro. Deveria, desse modo, designar-se Território Federal de Rondônia, não fosse a negativa do homenageado, o general reformado Cândido Mariano da Silva Rondon, desbravador e pioneiro das terras que compõem o Estado, quando por aqui passou e deixou marcas indeléveis de suas ações no desbravamento, estudo científico da fauna e da flora e um sistema de comunicação operado pelo telégrafo. Mas, por questões políticas e pessoais, Rondon não aceitou a homenagem de um governo que o havia prendido, manchado sua biografia com a pecha de corrupto e, pior ainda, ter interrompido sua brilhante carreira militar.
2. Se não podia ser Rondônia, que fosse a indicação das lideranças de Guajará-Mirim, de 1938, que pretendiam criar o Território Federal do Mamoré. Não. Esta designação não foi aceita por líderes de Porto Velho. Muda-se então para Território Federal das Minas Novas, depois para Território Federal Madeira-Mamoré, depois para Território Federal do Urucumacuã e, ufa!, até que enfim, um nome de consenso: Território Federal do Guaporé. Mas, esta designação seria definitivamente alterada para Território Federal de Rondônia, em 1956, voltando-se ao começo da ideia do presidente Getúlio Vargas e do coronel Aluízio Pinheiro Ferreira. Mas, desta vez a homenagem era feita por adversários políticos do “aluizismo” e do “varguismo”. Fala-se dos deputados federais Joaquim Vicente Rondon, de Porto Velho, sobrinho de Cândido Mariano da Silva Rondon, e Áureo Bringel de Mello, de Manaus, adversários figadais de Aluízio Ferreira. Os dois estavam envolvidos nas homenagens dos 90 anos de Rondon, o qual, desta vez, não se negou a ter o seu nome no território, além do mais, estava feliz da vida por receber do Congresso Nacional, através de projeto do deputado Joaquim Vicente Rondon, a patente de marechal, que nunca foi na caserna, seria, agora, por reconhecimento da Câmara e do Senado.
3. Desta forma, no dia 17.02.1956, o presidente JK sancionou a lei complementar nº 2.731, de autoria do deputado Aureo Bringel de Melo, que modificou a designação do Território Federal do Guaporé para Território Federal de Rondônia. O Brasil passava a ter uma alteração no seu mapa político, as pessoas que, há treze anos atrás deixaram de ser matogrossenses e amazonenses, para se tornarem guaporeenses ou guaporeanas, agora eram rondonienses ou rondonianos. A alteração no nome do Território não modificou em nada sua estrutura política, administrativa ou territorial, na medida em que continuou a ter apenas dois municípios (Porto Velho e Guajará-Mirim), e seus governantes continuaram a ser nomeados por decretos presidenciais, sob a tutela do deputado federal da vez. No entanto, a carga de simbolismo foi considerável, afinal, o Território homenageava um dos mais importantes brasileiros, misto de militar e sertanista, que havia palmilhado os sertões do Mato Grosso, tornando-se “o homem que tinha na sola dos pés o mais longo caminho já percorrido”: o agora marechal Rondon.
4. Mas, foi durante o funcionamento do Território Federal de Rondônia (1956-1981), que ocorreram as mais importantes transformações geopolíticas e econômicas regionais, como, por exemplo, a mudança do modelo econômico que passou de extrativista mineral e florestal, para o agropecuário/agroindustrial. Além disso, ocorreu a erradicação da ferrovia Madeira-Mamoré, a construção de seis rodovias federais, a penetração de vários contingentes migratórios procedentes das regiões sul, sudeste e nordeste atraídos para Rondônia; os primeiros processos de divisão territorial (1977-1981), e, finalmente a criação da 23ª. Unidade Federada brasileira: o Estado de Rondônia. Nesse meio-tempo, Rondônia foi elevado à condição de Província Estanífera e Fronteira de Expansão Agrícola (década de 1970), e integrada a um amplo e polêmico projeto de desenvolvimento nacional-amazônico, que culminou na construção das duas usinas hidrelétricas do rio Madeira e na inclusão de Rondônia (o único estado brasileira a homenagear uma pessoa), no sistema de integração pan-americano, através do Mercosul, dentre outras coisas.
Historiador e analista político(*)
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