Domingo, 10 de abril de 2011 - 12h55
Por Francisco Matias(*)
Amaecing Indiano, operário hindu da Madeira-Mamoré que se estabeleceu em Guajará Mirim a partir da década de 1910 |
1.O município de Guajará Mirim está em festa neste dia 10 de abril de 2011. E não poderia ser diferente, afinal, comemoram-se os 82 anos de sua instalação política. Não se trata da criação do município, fato político ocorrido em 12 de julho de 1928, por força da Lei nº 991, aprovada pela Assembleia Legislativa do estado do Mato Grosso e sancionada pelo governador Mário Correia da Costa, daquele estado. Pois é, o segundo mais antigo município de Rondônia nasceu mato-grossense há 83 anos. Mas, a posse do primeiro prefeito, ou intendente, e dos primeiros vereadores ocorreu no dia 10 de abril de 1929, uma quarta-feira. Naquela data assumiram o comerciante Manoel Boucinhas de Menezes, intendente, e os primeiros vereadores, todos nomeados pelo governo do Mato Grosso. Ou seja: a partir desta data o município passou funcionar de fato e de direito, com os poderes legislativo e executivo e a editar sujas próprias leis. Deu-se, portanto, a instalação. É o que se comemora hoje.
2.Claro que muito se tem a dizer sobre a trajetória de Guajará Mirim nestes 82 anos. Contudo, esta coluna pretende prestar homenagem às pessoas que fizeram a história da região. Por isto, vamos abrir uma janela para um momento em que a classe empresarial e política esteve reunida em um evento realizado no dia 15 de janeiro de 1940, doze anos depois. Era uma tarde de domingo quando a nata da sociedade guajaramirense se reuniu na Igreja católica para assistir à celebração de uma missa fúnebre em memória ao megaempresário boliviano D. Nicolas Suarez Calhaú, dono da firma Suarez y Hermanos, falecido no dia 9 daquele mês, na localidade de Cachoeira Speranza, Departamento do Beni, Bolívia. Antes, vamos nos reportar ao próprio Nicolas Suarez, conhecido como o “colosso boliviano”, por se tratar de um dos homens mais poderosos da Bolívia, com ramificações empresariais e políticas em Mato Grosso e no Pará. Nicolas Suarez era dono de quase todas as terras que hoje formam Guajará Mirim e Porto Velho e um dos acionistas da ferrovia Madeira-Mamoré. Havia participado da Guerra do Acre financiando a célebre Coluna Porvenir, que combateu ferozmente às tropas de Plácido de Castro de quem era inimigo figadal e, mais tarde, se tornaria grande amigo e sócio nos empreendimentos gomíferos que o caudilho gaúcho fundou no Acre. Era um homem muito influente na fronteira e possuía empresas em Guajará Mirim.
3.Por tudo isso, o coronel Paulo Saldanha resolveu encomendar a missa e atraiu muita gente da alta sociedade, cujos nomes esta coluna tem a honra e o respeito histórico de citar. Compareceram as seguintes personalidades: o prefeito, Dr. Rocha Leal e o coronel Paulo Saldanha. Também se fizerem presentes o coronel Joaquim Cesário da Silva, delegado especial do Mato Grosso, o tenente Cícero Arruda, comandante do policiamento militar, o tenente Alípio da Silva, delegado de polícia, o sargento J. Araújo, comandante do destacamento federal de fronteira, o Dr. Carlos Garcia, juiz de Direito da comarca, o Dr. Ruy Barreto, cônsul do Brasil na Bolívia, o coronel Jorge Leite, contador da delegacia de renda do Mato Grosso, o coronel Amadeu Mello, agente aduaneiro do Brasil, e oficiais do Regimento Bagé, do exército boliviano.
4.A lista dos convidados à missa de sétimo dia em memória da D. Nicolas Suarez não para por aí. Também se fizerem presentes: o sr. Tomáz Justiniano, administrador da aduana de Guayaramerin, o Dr. Alkindar Brasil Arouca, vice-cônsul do Brasil na Bolívia; Ernesto Koeller, cônsul da Alemanha na Bolívia e o prefeito do Departamento do Beni, D. Medardo Solares Melgar, que representou a família Suarez. Além das autoridades citadas, assistiram à missa Theophilo Nicolau, Toufic Mellhen, Amaecing Indiano, Alberto Chavia, Omar Mohry, Fares Nassaralda, Sebastião Dayer, Dr. Aristoteles Granjeiro, Hildebrando de Oliveira, Omélio Sampaio, Ernesto Vallroth e Manoel Amaro.
5. Contudo, em uma sociedade machista, formada basicamente por coroneis de barranco, comerciantes, funcionarios da Madeira-Mamoré e servidores públicos, todos de várias procedências geográficas, sociais e religiosas, as mulheres presentes estavam devidamente acompanhadas por seus maridos ou por seus pais, como mandava o figurino da época. Destarte, estavam na missa a senhora Rocha Leal, esposa do prefeito, e sua filha, senhorita Wanda Leal. Abrilhantaram o evento, as senhoras Branca Pinto, Edith Souza Mello, Esther Fauser, Luíza Sandoval, Francisca Sátiro, Aurora Cruz, sra. viúva Beatriz Cavalcante e sua filha, srta. Eunaura Cavalcante, sra. Emília Santiago, srta. Mafalda Ewerton e srta. Mercedes German. A missa, realizada na igreja Matriz, foi celebrada pelo padre Paulo M. Cabral. Há 71 anos. Nomes célebres que ajudaram a formar a sociedade do estado do Mato Grosso, em sua fronteira norte, do Território Federal do Guaporé, de Guajará Mirim e, sobretudo, do estado de Rondônia.
Historiador e analista político*
Porto Velho, 10.04.2011
O JANTAR DO CONDOR. O ALMOÇO DA ABRIL. O HOSPITAL DO AMOR - Por Francisco Matias
Governador Confúcio Aires Moura, do estado de Rondônia 1.Novembro passou e dezembro entrou. O ano caminha para o seu final. Mas existe o risco de n
PORTO VELHO 103 ANOS - Por Francisco Matias
1.Hoje, dia 2 de outubro de 2017 completam-se 103 anos da criação do município de Porto Velho. Na manhã daquele 2 de outubro de 1914, no Palácio Rio N
O JORNAL ALTO MADEIRA E A HISTÓRIA - PARTE II
1. Continuando com a série o Alto Madeira e a história, relatando a saga deste centenário em fase de adormecimento, este escriba lança novas matéria
O JORNAL ALTO MADEIRA E A HISTÓRIA- PARTE I
1. A propósito do anúncio publicado nas redes sociais dando conta de que o jornal ALTO MADEIRA vai encerrar suas atividades no final deste mês de