Quinta-feira, 9 de agosto de 2007 - 18h42
1. Porto Velho,RO, bairro do Areal, segunda-feira 9 de julho 2007. O homem de 87 anos acordou por volta das 7 horas, como de costume, e chamou por sua esposa, Oh, Elba!, com o velho timbre militar e seu arrastado sotaque húngaro. E pediu seu café da manhã. Como de costume, foi atendido por D. Elba, sua dedicada esposa. Tomou o café e pediu um pouco mais. Estou com uma sensação de fome. Muita fome, disse ele. Ela foi até a cozinha apanhar o que ele pediu e, nessa hora, o coração de seu Alfonso parou. Ele sofreu um infarto fulminante. Quando retornou, D. Elba se deparou com o marido que acaba de falecer. Seu Alfonso morreu como sempre desejou, sem sofrer, rápido. Nem sentiu a morte. Parece que nem morreu. Seu Alfonso era um desses pioneiros da Amazônia de quem poucos ouviram falar e poucos conheceram. Ele era europeu, nascido na Hungria, naturalizado brasileiro. Seu nome de origem era Ackos Chongor Czygani. Ele chegou ao Brasil no pós-guerra, passando pelo Peru, onde recebeu documentos com o nome recém-adotado Alfonso -. Trocou o Ackos por Alfonso, mas manteve o sobrenome húngaro. Seu Alfonso, ou Herr Ackos Chongor era o típico europeu. Alto, branco, olhos azuis, rígido em seus compromissos. Mas, era, sobretudo, um oficial do exército da Hungria que lutou na 2ª. Guerra Mundial, na pior das guerras: a frente russa. Ele era capitão e comandava um posto avançado nas proximidades de Stalingrado. Por isso foi feito prisioneiro de guerra na Rússia. O oficial Ackos Chongor passou um ano e seis meses como prisioneiro de guerra.
2. Libertado por engano, voltou à Hungria, de lá, por não concordar com o regime comunista que estava sendo implantado, foi para a Áustria e depois, para a França onde se alistou na Legião Estrangeira. Posteriormente, com ajuda de dois colegas franceses ele era engenheiro químico - viajou para o Peru e depois para a Bolívia. Foi naquele país que seu Alfonso conheceu ninguém menos que o ex-governador de São Paulo, Adhemar de Barros, que andava por lá como refugiado, perseguido que estava pelo então governador Jânio Quadros. Foi a convite de Adhemar de Barros que seu Alfonso aportou em São Paulo, no dia do suicídio do presidente Getúlio Vargas, 24 de agosto de 1954. Depois de trabalhar em alguns laboratórios na pesquisa fitoterápica e percorrer toda a Amazônia, ele conheceu uma jovem amazonense que viria a ser sua esposa durante 30 anos. Influenciado por ela, seu Alfonso veio para o seringal Assunção, na segunda metade da década de 1960, cujo dono era seu sogro, do qual viria posteriormente, a ser o proprietário. O seringal Assunção fica no barranco do rio Madeira, entre Humaitá e Porto Velho. O ex-oficial do exército húngaro, que lutou na frente russa ao lado do exército nazista de Hitler, tornou-se seringalista. E não só isso. Ele é o inventor do método de se defumar a borracha sem a fumaça que provocava inflamação nos olhos dos seringueiros. Por isso foi condecorado pelo governo brasileiro. Mas, com a falência do sistema e do preço da borracha o obrigou a vender o seringal e a mudar-se para a cidade de Porto Velho.
3. Não. Seu Alfonso não era nazista. Não lutou na guerra em defesa da política hitleriana. Era um militar, disciplinado. Mas, nunca falou contra Hitler ou a Alemanha. Dizia que Hitler não precisava fazer a guerra e afirmava que nos campos de concentração nazistas não foram aprisionados apenas judeus, mas também altas autoridades civis, militares e religiosas alemãs ou dos países ocupados contrários à política de Hitler. Seu Alfonso era um estudioso da política brasileira, da história do mundo e da geografia da Amazônia. Autor de várias teses sobre hidrelétricas e hidrografia amazônica, conhecia como poucos os problemas regionais. Discutia sobre a Madeira-Mamoré, não a ferrovia, mas o empreendimento norte-americano e a geopolítica pretendida pelos EUA na Amazônia, especialmente no Acre e no espaço físico que forma o estado de Rondônia. Não gostava dos políticos, mas gostava de política. Seu Alfonso era um cientista.
4. Sua morte não deve ficar no anonimato como ele pretendeu sua vida. Sua contribuição para a história, à economia e a ciência foi muito importante. Observador privilegiado das questões mundiais, o húngaro-brasileiro Alfonso (Ackos) Chongor Czygani, nascido em Budapeste, oficial na guerra da Rússia, engenheiro químico e seringalista viveu recluso no Brasil, na Amazônia, no Seringal Assunção, do rio Madeira. Em Porto Velho Viveu entre livros estudando, pesquisando, criticando, analisando a vida como se a vida nunca fosse passar. Aos 87 anos de vida, ele morreu no Brasil, em Porto Velho, Rondônia, com suas lembranças que seus olhos azuis e penetrantes deixavam, vez ou outra, transparecer. Herr Alfonso (Ackos) Chongor Czygani, descanse em paz, meu amigo - cidadão do mundo
Fonte: Francisco Matias - Historiador e Analista Político Porto Velho - autor livro"PIONEIROS" - 1998.
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