Segunda-feira, 14 de março de 2011 - 10h31
Por Francisco Matias(*)
1. O carnaval e o começo da Quaresma 2011, serão lembrados de forma diferente do que de costume. O carnaval porque foi realizado em março e não em fevereiro. Quem criou esta agenda da folia de momo para março esqueceu de combinar com o maior folião de Rondônia: Manelão, o “general da Banda”. Manelão era o tipo do carnavalesco de fevereiro. De março não. O próprio carnaval rima com fevereiro. Manelão não podia aceitar. Morreu no último dia de fevereiro. “Posso morrer, mas a Banda sai”, determinou. Estava doente. Seu coração parou e ele tombou, mas, a Banda do Vai Quem Quer saiu. No sábado gordo, como faz há quase trinta anos. No sábado da alegria, da folia, da palhaçada, sob a sombra protetora do Manelão. Milhares de pessoas, como se tivessem combinado entre si, formaram mais uma vez a Banda, tão informal quanto se pode ser. Tão Manelão como se ali estivesse o próprio. Formaram em sua memória, em sua honra. E a Banda saiu, apesar da morte do seu líder e principal criador.
Polêmico, corajoso e destemido, Manelão era o carnavalesco típico, dos tempos do “Bloco da Cobra” e do “Purgatório”, de quando se fazia o “enterro do carnaval”, ali na Madeira-Mamoré, nas manhãs tristonhas das quartas feiras de cinza. Do Manuel Costa Mendonça não se falará. Do Manelão, ninguém poderá calar. São tantas histórias que de impensáveis de ocorrer são todas possíveis de ter ocorrido, quando se trata do Manelão, tudo se torna possível. Até sua morte, seu velório e seu enterro serão inesquecíveis, pelo inusitado, pela alegria triste, pela dúvida. Afinal, Manelão morreu mesmo ou, bem ao seu estilo, nos pregou mais uma peça de carnaval?
2. Mas o carnaval nos trouxe outra tristeza. O Paulo Queiroz resolveu nos deixar. Diferente do Manelão, Paulo Queiroz era arredio, como o são os intelectuais. Ele era um intelectual dos melhores. Certa vez, uma jornalista me criticou quando eu afirmei que o Paulo Queiroz era nosso intelectual maior. “Aqui não tem intelectual..”, contestou prontamente a nobre jornalista. Ledo Engano. Paulo Queiroz não foi apenas o melhor analista político do Estado e um dos melhores desse país, mas um intelectual que, até onde a vista alcança, dificilmente será superado. Com sua morte, o modo de se pensar Rondônia vai ficar mais pobre. Sem a leitura de sua coluna “Política em Três Tempos”, vai ficar mais difícil entender os meandros do poder do Estado e no país. Observador atento e crítico mordaz da vida política regional, militante de esquerda, nordestino da Paraíba e rondoniense de Porto Velho, Paulo Queiroz nos brindava com sua análise rápida e inteligente das ocorrências da política, sem jamais perder o prumo. Enigmático e recluso, morreu na segunda feira de carnaval como se pretendesse ser encontrado somente na quarta feira de cinzas, como se quisesse fazer, ao seu modo, o enterro do carnaval. É, meu amigo, afinal o que você pretendeu dizer? Que recado quis dar? Qual análise se poderá fazer deste jogo intrincado que você nos colocou? De toda sorte, Rondônia perde seu grande intelectual.
3. Passado o carnaval, vem a quaresma. A Igreja católica emerge do silêncio da festa profana e lança a campanha da fraternidade. O Partido dos Trabalhadores nasceu e ganhou força nas bases da Santa Madre Igreja. Eduardo Valverde era uma das maiores lideranças petistas e um dos grandes líderes políticos do Estado. Sindicalista urbanitário, foi deputado federal por dois mandatos, eleito e reeleito. Em 2010 poderia ter conquistado o terceiro mandato, mas, partidário ao extremo, enveredou por outro caminho e saiu candidato a governador. Não dava para ganhar, a conjuntura política não lhe era favorável. Ele sabia disso, mas foi em frente e fez bonito. A terceira colocação não lhe diminuiu a estatura política. Ao contrário, o cacifou para ser o candidato natural do PT à prefeitura de Porto Velho nas eleições municipais do ano que vem. Presidente regional do PT, estava em mais uma missão partidária, quando a fatalidade maior se interpôs entre seus projetos de futuro e a morte. Ele seguia para Costa Marques pela BR 364, entre Ouro Preto e Ji-Paraná. Lá, naquela parte da rodovia tem placas avisando: “Trecho com elevado índice de acidentes”. E foi lá, nestes trechos mais perigosos, acima da Curva da Morte, que Eduardo Valverde e outro companheiro perderam suas vidas e um terceiro está na UTI de Ji-Paraná. Eduardo Valverde era estradeiro, várias vezes me deparei com ele cruzando este Estado de Leste a Oeste, de Norte a Sul. De Eduardo Valverde os companheiros do PT e seus adversários políticos poderão dizer: era um grande negociador político, sabia ouvir mais do que falar. Jamais se recusou a fechar um bom acordo e nunca levou o PT a enxergar adversários como inimigos. A vida política rondoniense perde uma grande liderança e o PT um importante quadro partidário. Eduardo Valverde morreu no início da Quaresma. Mas seu nome vai continuar como referência política de Rondônia.
PS: Atenção Governo, Prefeitura, Assembleia Legislativa e Câmaras Municipais: Manelão, Valverde e Paulo Queiroz foram personalidades de Rondônia que fizeram História. Merecem ser eternizadas com seus nomes dados a ruas, avenidas, praças e escolas.
Fonte: Francisco Matias - Historiador e analista político
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