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Francisco Matias

O GOLPE MILITAR DE 1964


 O GOLPE MILITAR DE 1964 - Gente de OpiniãoPresidente Castelo Branco (à direita de terno) ladeado
pelo estado maior do golpe militar de 1964.

1.O dia 31 de março de 1964, uma terça-feira, seria um dia como outro qualquer em Rondônia não fosse por conta de uma notícia veiculada pela Rádio Nacional dando conta da deposição do presidente João Goulart e da posse de um novo mandatário da Nação. Era a Revolução de 1964, ou, o Golpe Militar de 1964. Eis aí um nó difícil de desatar mesmo passados 52 anos. Afinal, foi Golpe ou Revolução? No entendimento da Direita, foi uma Revolução, haja vista ter contado com a participação da Igreja Católica, dos capitães de indústria de São Paulo e  demais segmentos da sociedade brasileiro. Além disso, foi antecedida pela Grande Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade, que reuniu no Rio de Janeiro milhares de donas de casa marchando contra o ateísmo comunista. No entendimento da Esquerda, no entanto, foi um Golpe, na medida em que teve na força militar o principal mecanismo de pressão e não teria contado com a participação de movimentos populares, como reza a cartilha das revoluções socialistas.  De um modo ou de outro foi um Golpe de Estado.

2.Além do mais, teve a interferência dos EUA, país   considerado por importantes segmentosda Esquerda à época (?!) como o Grande Satã do capitalismo selvagem. De um ou de outro modo, foi um Golpe de Estado e uma Revolução, mesmo porque mobilizou o país inteiro e derrubou um governo legalmente constituído, formalmente instalado, mas, de forte inclinação para o socialismo soviético. Não se pode esquecer que o mundo vivenciava a Guerra Fria, e estava dividido entre as forças que venceram a II Guerra Mundial dezenove anos antes. Em 2016, sem poder contar com a URSS, por extinção da mesma, o governo Lula/Dilma conta com a força militar e geopolítica da Bolívia e da Venezuela, cujos governos ameaçam invadir o Brasil. Seria jocoso se não fosse trágico.

3.O quadro atual do Brasil nesse 31 de março de 2016, portanto, 52 anos depois, é muito parecido com o do Brasil de 1964. Se naquela época os comunistas brasileiros seguiam determinações do Kormithern Soviético, hoje seguem orientações do Forum de São Paulo, do bolivarianismo venezuelano e do socialismo cubano. Se na época as mobilizações da esquerda eram conduzidas pela UNE (União Nacional dos Estudantes), pelo Partido Social Progressista, PSP, Partido Comunista Brasileiro, PCB, Partido Comunista do Brasil, PCdoB, Confederação Geral dos Trabalhadores, CGT, e pelas Ligas Camponesas, em 2016 seguem o Partido dos Trabalhadores, PT, o Partido Comunista do Brasil, PCdoB, a CUT, Central Única dos Trabalhadores, e o MST, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Se em 1964 as Ligas Camponesas armazenavam armas procedentes de Cuba, em 2016 o PT e seus braços sindical (CUT) e rural (MST)  afirmam possuírem armamento suficiente para defender Lula, Dilma e o comunismo, a custa de muito sangue de brasileiros, conforme foi ampla e impunemente divulgado.

4.Se em 1964 o presidente João Goulart e seu staff partidário queriam dar um golpede Estado e implantar uma ditadura orientada pela URSS, em 2016 a presidente Dilma vive o dilema de ser comunista orgânica, mas não poder tornar público o projeto de poder hegemônico e totalitário da esquerda brasileira e sul-americana. Se em 1964 o presidente João Goulart, o Jango, sobreviveu ao parlamentarismo imposto pelos militares e passou a governar no regime presidencialista, em 2016 a presidente Dilma abdica do presidencialismo constitucional para adotar um regime híbrido de semiparlamentarismo inventado pelo PT, que não leva a lugar nenhum. Jango foi deposto pela força das baionetas. Dilma pode ser deposta pela força do Estado Democrático de Direito. Jango sofreu um golpe de estado antes que pudesse impor um em seu favor. Dilma fala de golpe como se não fosse essa a intenção da esquerda.

5.Sobre Jango de 1964 fala-se de comunismo, reformas de base e de ser leniente, mas não de corrupção. Sobre Dilma fala-se de tudo, muito mais de corrupção do que ideologismo. A diferença do ambiente de 1964 para este de 2016 é que lá havia a geopolítica da URSS e do confronto com os EUA, a recente construção do Muro de Berlim e o episódio dos mísseis soviéticos em Cuba que quase levou o mundo a uma guerra nuclear. No ambiente de 2016 não tem mais  o muro de Berlim e o comunismo na forma como pretendem impor Dilma, Lula e o PT, deixou de existir. Hoje em dia só há comunismo em Cuba, na Coreia do Norte, em Angola,  Moçambique, no governo Dilma/Lula e nas universidades federais brasileiras. Até a China, maior e mais poderoso país comunista do mundo, o sistema é híbrido, com o capitalismo controlado pelo Partido Comunista Chinês, mas capitalismo. Na Bolívia e na Venezuela este regime não passa de um arremedo sem pé e nem cabeça, regado por muita intolerância e tráfico de cocaína.

6.E assim, o Brasil completa 52 anos do golpe militar, envolvido em um conflito políticoe ideológico que ninguém pode prever no que vai dar. Dilma não é Jango e Lula não é Luís Carlos Prestes. A guerra fria acabou e o muro de Berlim foi derrubado. Cuba assistiu os Rolling Stones e Dilma fuma charuto cubano e masca chicletes americanos. Lula perdeu chão e tenta agarrar-se no que lhe resta de sua biografia e o PT luta desesperadamente para não implodir. Por sua vez, os militares, principais atores do golpe de 1964, foram encostados na parede da história e não têm força nem vontade para dar qualquer golpe. Mas GOLPE é a palavra chave do governo e do partido do governo. Então, se houver, virá desse lado que desde 1935, com a intentona comunista, almeja esse momento.

Historiador e analista político(*)

Professor e membro da Academia Rondoniense de Letras, ARL.

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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