Quarta-feira, 6 de maio de 2015 - 16h55
O então coronel Rondon em uma de suas últimas viagens à Amazônia como chefe do Serviço de Inspeção de Fronteiras, órgão criado pelo presidente Washington Luís e extinto pelo presidente Getúlio Vargas.
1.O dia 05 de maio é dedicado ao militar e sertanista brasileiro Cândido Mariano da Silva Rondon. É a data do seu nascimento, no ano de 1865, na localidade de Mimoso, estado do Mato Grosso. Mas é também o Dia das Comunicações. Rondon é o patrono das comunicações no Brasil. Ele morreu aos 93 anos de idade, em 1958, em seu apartamento no Rio de Janeiro. Seria mais correto dizer que Rondon partiu desta vida. Ele não morreu, porque está vivo. O Grande Chefe, como os índios o tratavam, não morreu. Ele renasce todos os dias para a História do Brasil. Sua trajetória é digna de respeito e requer vários estudos. Rondon morreu como queria, mas talvez onde não desejava. Era homem dos sertões, de selva. Era um desbravador. Não é a toa que o chamam o “Desbravador dos Sertões”, e mais: era “O homem que tinha na sola dos pés o mais longo caminho já percorrido”, como afirmou o ex-presidente norte-americano Theodore Roosevelt, que dividiu com ele o comando da Expedição Roosevelt-Rondon, entre 1913 e 1914.
2.O dia 5 de Maio é também o dia de Rondônia. Rondon é o patrono do estado de Rondônia. Não apenas por ter desbravado a região, mas, sobretudo, pelo caráter nacionalizador que atuou a Comissão Rondon (1909-1916) e por haver determinado os limites de uma região dentro do estado do Mato Grosso, com um traçado rodoviário, com demarcações internas e reconhecimento territorial. Foi por isso que o médico Edgar Roquette-Pinto, conseguiu, em 1915, que o governo federal determinasse que a área geográfica situada entre os rios Juruena e Madeira, coberta pelos fios telegráficos da Comissão Rondon, fosse oficialmente designada Rondônia. Surgia a Rondônia Ocidental e a Rondônia Oriental. A primeira cobria a região do Juruena ao Vale dos Parecis. A segunda, de lá até o vale do Madeira-Guaporé, terminando na porção territorial onde seria erguida a cidade de Guajará-Mirim, estado do Mato Grosso.
3.A Comissão Rondon, formada em 1907, somente iniciou suas penetrações na Amazônia rondoniense em 1909, com a fundação da estação telegráfica Vilhena. Daí, estendeu sua atuação e fundou as estações Santos Dumont, Pimenta Bueno, Presidente Hermes, Presidente Pena, Jaru, Arikêmes, Jamary, Santo Antonio, Jacy-Paraná, Abunã e Guajará-Mirim. As três últimas atuavam simultaneamente às estações ferroviárias da Madeira-Mamoré. Mas, com um problema: o sistema de telegrafia da Comissão Rondon ainda utilizava o código Morse, enquanto o da Madeira-Mamoré, mais avançado, usava o telefone e o cabograma. Não dava para comparar. Nem Rondon pretendia comparar. Sua missão era estender os fios do telégrafo, que os seringueiros chamavam “as línguas de Mariano”, e construir uma via de acesso, que Roquette-Pinto batizou de “Estrada de Rondon”, um varadouro de 40 metros de largura, que iria servir de orientação para a construção da BR 029 (atual 364), anos depois.
4.Estudar Rondon é tentar decifrar um enigma. Observe-se que ele não concordava com a data de seu nascimento no dia 5 de Maio. Afirmava ter nascido no dia 29 de abril. Também não gostava de ser chamado Rondon, mas sim de Mariano. Se tinha como lema “morrer se preciso for, matar nunca”, em relação aos índios, era duro e cruel com seus legionários insubordinados, chegou a ser processado por haver, várias vezes, pessoalmente, punido com açoites e até ordenado a morte de alguns deles. Foi acusado de corrupção pelo governo Vargas, mas era criterioso. Certa vez, em Manaus, ao ser homenageado pela Associação Comercial do Amazonas, foi-lhe entregue um colar de pérolas para dar à sua esposa, D. Chiquita. Ele recusou, dizendo que a esposa de um simples oficial não poderia jamais usar uma joia como aquela. Assim era Rondon, militar e sertanista que viveu nas selvas, foi inspetor de fronteiras, diretor do SPI, do 3º Distrito Telegráfico do Mato Grosso, redescobriu o Real Forte do Príncipe da Beira para o governo e morreu surdo e cego, mas como se ouvisse e visse tudo e todos.
5.Rondon morreu frustrado com sua carreira militar. Reformado compulsoriamente como general de divisão, não pode galgar todos os postos da oficialidade do Exército. Somente, em 05 de maio de 1955, quando completava 90 anos, recebeu do Congresso Nacional, a patente de marechal, em projeto apresentado pelo deputado federal Joaquim Vicente Rondon, do PSP de Porto Velho, com o apoio pelo presidente da República Café Filho. Sua última viagem a Porto Velho ocorreu em 1928, para visitar o túmulo de seu genro, seguidor e amigo, major Amarante, que morreu de malária em Santo Antonio e foi enterrado no cemitério dos Inocentes.
PS – O lançamento de um selo comemorativo aos 150 do seu nascimento é uma singela, porém importante homenagem ao homem que faz de Rondônia o único estado brasileiro a homenagear um personagem de sua história.
*Historiador e analista político
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