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Francisco Matias

O LEGADO DO CORONEL JORGE TEIXEIRA


1. Neste 04 de janeiro de 2008 o estado de Rondônia completa 26 anos de instalação política. Desfiles em comemoração à data são a praxe desse dia, que é feriado estadual. No entanto, passadas mais de duas décadas, pergunta-se:  o que de fato mudou em Rondônia? Qual o legado deixado por esse fato político? O que a criação e o funcionamento desta unidade federada brasileira influenciaram para a atual sociedade rondoniense? São alguns questionamentos levantados por segmentos da população que precisam de  respostas, afinal, estamos falando da data máxima do Estado de Rondônia.. Ao ser instalado festivamente em 1982, com a posse do coronel Jorge Teixeira de Oliveira na condição de primeiro governador, o estado de Rondônia não passava de uma região recém-desbravada no seu interior, fruto de um megaprojeto governamental executado pelo regime militar que envolvia a abertura de rodovias e a atração de contingentes migratórios rurais e urbanos para povoar suas terras. A “nova estrela no azul da União” ainda era uma “terra sem homens para homens sem terra”, lema que inaugurou o ciclo da agricultura no início da década de 70 do século XX.

2. Quase três décadas depois, Rondônia-Estado ainda carrega o estigma de uma região colonizada, projetada para ter uma determinada destinação geopolítica. Mas o Estado já se afasta dessa condição e caminha célere para ser incluído entre os estados brasileiros mais desenvolvidos. É o terceiro da região Norte em economia e população. No plano político, não se pode negar, ocorreram importantes alterações. A classe política dominante está a anos-luz daquela que viveu entre o coronel Jorge Teixeira e o advogado Jerônimo Santana, líderes políticos transitórios, como, de resto, têm sido transitórias as lideranças políticas estaduais. Claro que sobrevivem alguns personagens e surgiram outros, com ou sem mandato, que projetam sua influência por sobre o Estado, a exemplo do senador Valdir Raupp, do governador reeleito Ivo Cassol, do prefeito de Ji-Paraná José Bianco, da senadora Fátima Cleide, do senador expedito Junior e do empresário Acir Gurgacz, entre outros. Mas são lideranças individualizadas, sem vinculações ou identificação com este ou aquele grande grupo controlador.  

3. No plano econômico, apesar de ainda predominar a atividade rural ligada à pecuária bovina e ao ciclo agrícola, a economia rondoniense sinaliza para se urbanizar, a partir de agroindústrias e indústrias transformadoras que atraem povoamento e desenvolvimento urbano. Essas mudanças no modelo econômico e no tecido sócio-político devem ser creditadas à semente profícua semeada pelo governador Jorge Teixeira de Oliveira, um militar enquadrado que virou estadista por sua experiência como prefeito de Manaus e bi-governador de Rondônia.  O velho coronel é tido e havido como o “criador do Estado”, mas esta é uma visão algo ufanista e um pouco fora da realidade. Ele foi, de fato, o grande timoneiro do processo de criação do Estado. O condutor. Aquele a quem foram dadas todas as condições políticas e financeiras e que soube muito bem utilizá-las. Tinha, segundo ele afirmava, “uma missão a cumprir”. E cumpriu. Foi exitoso, como se diz hoje em dia.

4. Exitoso, estadista e mau político. Jorge Teixeira era, antes de tudo, um militar, curtido nos anos de chumbo e avesso à divisão de poder, o que levou seu governo a enveredar por longos e estreitos caminhos de crise e declínio. Na metade do seu segundo governo, vivenciou as maiores e mais inesperadas crises políticas. Mas trouxe o desenvolvimento nas comunicações, na educação, na saúde pública e na infra-estrutura viária. Sobretudo, deu a Rondônia um conceito rondoniano de ser, buscando unificar os pensamentos da BR 364 com os da Madeira-Mamoré, tarefa ainda hoje muito difícil para qualquer governante. Mas ele conseguiu, ainda que temporariamente. Em seu governo criou dois municípios (Rolim de Moura e Cerejeiras), ganhou uma eleição geral (1982) e perdeu duas municipais (1983 e 1984). Apeado do poder em 1985 por um ex-correligionário, o presidente José Sarney, não pode fazer o seu sucessor, não pode mais conduzir nada em Rondônia. Como ironia do destino, vinga-se na história ao ser o único governador lembrado como um grande estadista, reverenciado como o criador do Estado e ainda projeta sua imagem e seu indefectível boné por sobre a vida política rondoniense. Neste 4 de janeiro, que tal uma reflexão por parte da classe política como uma das respostas sobre o legado do coronel Jorge Teixeira de Oliveira, o último e o primeiro governador?

Fonte: Francisco Matias - Historiador e analista político

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